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Guilherme Gila fala sobre adaptar Dom Casmurro para musical

Após o sucesso em 2024, espetáculo indicado ao Prêmio APCA volta ao Sesc Santo Amaro até sábado, 24 de maio

Da Redação
22/05/2025 | 16:24
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FOTO: Divulgação


Aclamado pelo público e pela crítica em sua estreia no ano passado, o musical Dom Casmurro – inspirado na obra de Machado de Assis, retorna aos palcos para uma curta temporada no Sesc Santo Amaro, até sábado, 24 de maio, com ingressos a preços populares e uma sessão gratuita dentro da programação da Virada Cultural. A montagem concorre ao Prêmio APCA nas categorias de Melhor Espetáculo e Melhor Ator, e se destaca por apresentar uma leitura contemporânea da obra-prima de Machado de Assis por meio da força expressiva da música.

À frente do projeto, ao lado do dramaturgo Davi Novaes e do diretor Zé Henrique de Paula, está o compositor e diretor musical Guilherme Gila, de São Bernardo, responsável por dar nova sonoridade ao clássico. Em entrevista, ele revela os bastidores de um trabalho que demorou três anos para ser gestado e que procura ampliar a experiência machadiana com uma trilha sonora que vai do rock à MPB.

“Machado é tão grandioso que seus temas continuam atuais. Musicar sua obra é um desafio, mas também um presente”, afirma Gila.

Segundo o artista, a ideia de transformar Dom Casmurro em musical surgiu ainda na pandemia, após a boa recepção do espetáculo A Igreja do Diabo, também inspirado em texto machadiano. “Mesmo com músicas de funk e pop, que raramente chegam ao teatro, o público abraçou”, lembra. A nova empreitada parte da mesma premissa: usar a canção para traduzir emoções, aprofundar conflitos e tornar o texto mais acessível e contemporâneo.

Modernizar sem trair

Manter a fidelidade ao romance original e, ao mesmo tempo, dialogar com um público atual foi um dos maiores desafios do processo criativo. “Adaptar é fazer escolhas difíceis”, diz Gila. “Com Davi, decidimos preservar o léxico da época no texto falado e usar a música como recurso de atualização. Às vezes, um diálogo virava canção e vice-versa.”

A dupla ainda ousou ao incluir duas cenas inéditas na narrativa. “Foram escritas com muita parcimônia, como forma de avançar a história e trazer o nosso olhar para a obra”, explica.

Música como narrativa

A trilha sonora original é uma das marcas do espetáculo. Pensada para traduzir as personalidades dos personagens, ela une gêneros como samba, rock, choro, MPB e até gospel. “Capitu é leve, autêntica, brasileira – por isso escolhi MPB e samba. Escobar tem uma energia jovem e rebelde que combina com o rock. José Dias canta sobre São Paulo com ares de choro e malandragem. Já Bentinho, em conflito com sua vocação religiosa, carrega uma sonoridade mais próxima do gospel”, detalha Gila.

O compositor conta que o processo de criação das músicas e letras foi guiado inicialmente por uma escuta emocional da obra. “Relia o livro e anotava o que ele me fazia sentir. As letras misturam trechos do texto, ideias implícitas e até referências a outros autores, como Fernando Pessoa e Mário de Andrade.”

Construção coletiva

A produção independente do musical foi viabilizada por arrecadações online e pelo trabalho coletivo das companhias A Casa que Fala e Tomate Produções, após a negativa em editais e leis de incentivo. “Foi na raça”, diz Gila. “E o que nos salvou foi o talento das pessoas envolvidas.”

Além da direção geral de Zé Henrique de Paula, o espetáculo conta com nomes como Zuba Janaína (movimento), Fran Barros (luz), Ùga Agú (figurinos), Cauê Palumbo (som), Mafê Alcântara (assistência de direção) e Samir Alves, parceiro de Gila nos arranjos musicais e integrante da banda ao lado de Felipe Parisi (violoncelo) e Daniel Alfaro (percussão).

O elenco traz Rodrigo Mercadante (Bentinho), Luci Saluzzi (Capitu), Cleomácio Inácio (Escobar), Larissa Carneiro, Fábio Enriquez, Nábia Villela e Eduardo Leão, numa montagem que privilegia o trabalho coletivo e o protagonismo do texto machadiano.

Raízes no Grande ABC

Natural de São Bernardo, Gila destaca o papel fundamental que sua formação artística teve na cidade. “Estudei teatro e música no Colégio Harmonia, depois no Ábaco e no Conservatório de Rudge Ramos. Lá aprendi sobre musicais, produção e comecei a compor. Se não fosse o privilégio de estudar nesses lugares, eu não teria chegado até aqui.”

Ele aproveita para deixar uma reflexão: “Precisamos de viadutos, sim, mas também de cultura. O Grande ABC carece de projetos públicos de qualidade. Sem arte, a cidade não anda para frente.”

Musical, literatura e Brasil

Mais do que uma simples adaptação, “Dom Casmurro - o musical” é uma reinvenção sensível e vibrante da literatura brasileira, capaz de emocionar novos públicos e reafirmar o legado de Machado de Assis através da potência da música. Para Gila, o teatro musical é também um gesto político: “É uma forma de dizer que nossos clássicos merecem estar no palco. E merecem ser cantados.”

SERVIÇO

Dom Casmurro – Musical inspirado na obra de Machado de Assis

- Sesc Santo Amaro – Rua Amador Bueno, 505 – São Paulo (SP)

- De 20 a 24 de maio de 2024

- Sessão gratuita no dia 24/5, dentro da Virada Cultural

- Ingressos: R$18 (Credencial Plena), R$30 (meia), R$60 (inteira)

- Vendas: a partir de 13/5 no app Credencial Sesc SP

- Duração: 120 minutos (com intervalo)

- Classificação: Livre




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