Quem não sabe que, em 1888, o 13 de maio foi marcado pela assinatura da Lei Áurea, a abolição da escravatura no Brasil. Ou, melhor dizendo, uma suposta abolição. Esse documento de nome pomposo nada garantiu de direitos aos ex-escravizados, deixando-os à mercê de uma sociedade preconceituosa e excludente. É mesmo uma data a se comemorar?
Ironia do destino, temos motivo muito melhor para celebrar o 13 de maio: o nascimento do escritor Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922). Autor negro, filho de pais humildes, neto de escravizados. Usou sua pena para revolucionar a escrita, tão pseudointelectual na época, e para expor críticas sociais com uma das suas melhores armas, a sátira de costumes.
Morreu cedo, aos 41 anos, e sem o reconhecimento merecido. Seus livros dividiam opiniões. Críticos da época não viam seu trabalho compatível com a alta literatura exercida naquele momento. Lima Barreto debochava da elite, denunciava desigualdades sociais, e o fazia por meio de uma escrita mais próxima da linguagem popular. Seu texto fluído e até considerado informal demais, somado ao conteúdo sarcástico, não agradava a classe dita alta. O que, evidente, nos sugere uma vitória do nosso celebrado escritor, uma vez que sua intenção não era agradar essa turma.
Mas também recebia elogios e observações lúcidas. Tristão de Ataíde, em 1919, analisou que o personagem de Vida e morte de M. J. Gonçalves de Sá encarava “um mundo sem preconceitos, com um amor entranhado pelos humildes e sofredores”. Foi a partir dos anos 1950, 1960, que sobretudo o meio acadêmico lançou um novo olhar sobre a obra barretiana. Seu trabalho foi melhor reposicionado a partir de então.
Independente de análises críticas, no entanto, o mais relevante no universo de Lima Barreto é o reconhecimento popular, para quem ele se dedicou de verdade. Destacar o 13 de maio como data célebre da literatura brasileira é mais até do que homenagear um autor, é distinguir uma postura artística voltada ao povo, à justiça social e ao combate à discriminação e o preconceito. É valorizar a história da literatura negra em nosso País, desde muito tempo inovadora, engajada, resistente e libertadora.
Lima Barreto e seu Triste fim de Policarpo Quaresma, sua Clara dos Anjos, sua Numa e a Ninfa, seu Homem que Sabia Javanês, para citar apenas alguns de seus trabalhos mais conhecidos, entre tantos outros contos, crônicas e romances, completam 144 anos neste 2025. Tempos em que ainda são necessárias as mesmas atitudes combativas e corajosas, na literatura, na arte e em toda atividade humana e social.
Viva o 13 de maio!
Nelson Albuquerque Jr. é escritor e jornalista e autor dos romances O Resto de Raen (2021) e Mestre Mikan e a Aldeia Desaparecida (2025).
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