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Repasse ou esmola?
Da Redação
03/05/2025 | 08:54
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 O repasse anunciado pelo governo do Estado ao Grande ABC, destinado a ações voltadas à população em situação de vulnerabilidade, escancara o descompasso entre discurso e prática quando se trata de combate à pobreza. Com R$ 2,7 milhões liberados para a região e uma sociedade estimada em 2,7 milhões de pessoas, o valor equivale, na média, a um real por habitante. A quantia, com vigência até 2026, está muito abaixo do razoável para permitir a implementação ou ampliação de políticas públicas com impacto real na vida dos que mais precisam. Diante da complexidade da rede de assistência social e da dimensão territorial e populacional das sete cidades, não é possível conceber que o montante promova melhorias concretas.

A gravidade da situação ganha contornos ainda mais preocupantes quando se observa que 17,4% dos moradores do Grande ABC vivem em condições extremamente precárias, em favelas. São 470.472 pessoas em áreas onde faltam serviços básicos e sobram desigualdades. A expectativa de que recursos tão limitados consigam enfrentar a dimensão desse desafio é irreal. Os valores anunciados para os municípios, ainda que divididos entre unidades do Cras, projetos de vigilância e repasses via Conseas, não chegam sequer a cobrir as demandas mais urgentes. As unidades do Cras, por exemplo, atendem milhares de famílias mensalmente, e o que foi repassado não dá conta nem da manutenção mínima desses serviços.

Mais do que números, o que está em jogo é a capacidade do Estado de cumprir sua responsabilidade com a população mais vulnerável. Reduzir a assistência social a quantias simbólicas é sinalizar, na prática, que essa parcela da sociedade continuará à margem das prioridades. Investimento em políticas sociais exige planejamento, continuidade e escala adequada. Com um orçamento estadual bilionário, é injustificável destinar ao Grande ABC recursos que equivalem a esmolas diante da urgência social existente. Se a intenção é promover dignidade e diminuir desigualdades, os repasses precisam ser reformulados com base em critérios mais condizentes com a realidade enfrentada por centenas de milhares de moradores da região.




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