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Afastamentos por problemas de saúde mental triplicam

Em todo o Estado, 125.141 pessoas se ausentaram do trabalho no ano passado ante 46.525 em 2021; transtornos de ansiedade lideram

Tatiane Pamboukian
08/05/2025 | 10:52
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Andreense Alessandra Garbelim se afastou em 2023 (FOTO: Celso Luiz/DGABC)


O número de concessões de benefícios do Ministério da Previdência Social por incapacidade temporária devido a transtornos mentais e comportamentais quase triplicou (170%) em três anos, saltando de 46.525 afastamentos em 2021 para 125.141 no ano passado. O crescimento em relação a 2023, quando foram concedidos 74.752 afastamentos, foi de 70%. 

Estes números estão aquém da realidade, porque consideram apenas trabalhadores formais, afastados pela Previdência. Há ainda grupo de profissionais autônomos e microempreendedores. É o caso da dentista andreense Alessandra Cristina Garbelim, 42 anos, que precisou fechar seu consultório em 2023 por causa de uma ansiedade generalizada e crises de pânico que a impediam de sair de casa. 

“Tive o primeiro episódio em 2011. De lá para cá tive diversas crises, altos e baixos, mas, em 2023, fiquei em um estado deplorável. Até um simples toque ou vibração do celular já me deixava mal, com falta de ar e querendo sumir. Estava recebendo muitas cobranças de dívidas que fiz devido ao meu consultório, além de ter passado por problemas pessoais, como a perda de um filho com oito meses e meio de gestação e um relacionamento abusivo de 12 anos”, conta. 

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Alessandra chegou a ter um princípio de infarto e vai operar, em breve, o coração para fazer um reparo da válvula mitral. A dentista está retomando aos poucos suas atividades profissionais, atendendo no momento apenas dois dias por mês. 

O diagnóstico de Alessandra é o que mais gera afastamentos formais. Dos 125.141 pedidos concedidos no ano passado, 44.616 (35%) foram por transtornos de ansiedade. Em segundo lugar estão os episódios depressivos, responsável por 30.535 afastamentos, seguido do transtorno depressivo recorrente, com 12.810 concessões, de acordo com dados de 2024 do Ministério da Previdência Social.

O médico especialista em medicina preventiva e sistêmica, Rubens Cascapera, acredita que os transtornos mentais devem aumentar ainda mais. “Estamos passando por uma sobrecarga de informações, o que gera ansiedade”, afirma. Para ele, somente medicamentos não são suficientes. “A falta de autoconhecimento também traz um desgaste muito grande à energia vital, causando depressão”, diz Cascapera, ressaltando a importância da terapia.

A psicóloga Alessandra Costa destaca ainda que a pandemia deixou muitas marcas. “As pessoas viveram no isolamento e na incerteza, eram muitas as perguntas sem respostas, luto de milhares de pessoas e mudanças na forma de viver e trabalhar. Com essa insegurança, o estresse emocional foi aumentando gradativamente”, avalia. 

Diante dessa urgência em ampliar o acesso dos moradores do Grande ABC à terapias e tratamentos voltados ao cuidado da saúde mental, o Diário lançou uma campanha, no dia 13 de abril, em prol da implantação de complexo público de saúde mental na região. A população, carente deste atendimento, vem apoiando a iniciativa.

“Toda cidade precisa estar amparada no recurso da saúde para promover o bem-estar do munícipe.” 

Francisco Feitosa, 56 anos, professor e morador de Mauá

“Conheço muitas pessoas com depressão ou ansiedade que não conseguiram até hoje atendimento.” 

Edson da Silva, 63 anos, segurança autônomo de Mauá

“Acho que um complexo psiquiátrico ajudaria as pessoas que não têm condições de pagar.” 

Iasmin Almeida Alves, 20 anos, desempregada e moradora de Mauá

“Trazer esse tipo de cuidado para o serviço público é algo com 100% de importância.” 

André Luiz de Lima Gardin, 42 anos, supervisor de call center de Mauá

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