Alegria é santo remédio

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Eliane de Souza

Havolene Valinhos relata as experiências nos hospitais no Blog da Dra. Risadinha Risolina Foto: Andrea Iseki

O bom humor faz bem para a saúde. Cientificamente, um indivíduo alegre sofre menos porque o corpo produz mais endorfina, hormônio que relaxa. E como se beneficiar deste círculo vicioso em um hospital? Felizmente, há muitos estabelecimentos que defendem a entrada das risadas no dia a dia dos   pacientes internados. É aí que entram os doutores-palhaços, que invadem quartos de enfermaria e UTIs motivando não só pacientes como também médicos e familiares. 

Neste mês em que se comemora o Dia do Palhaço, conheça a seguir as histórias de voluntários do Grande ABC que pintam o nariz de vermelho em nome da felicidade do próximo. 
 
ÓTICA DE BLOGUEIRA
A jornalista Havolene Valinhos, 28 anos, não só dedica seu tempo ao riso em hospitais como passou a relatar suas experiências no blog da Dra. Risadinha Risolina, onde divulga o trabalho da ONG Canto Cidadão no Hospital Mário Covas em emocionantes depoimentos. A vocação para o voluntariado floresceu assim que terminou a faculdade e estava em busca de ocupação para o tempo ocioso. Sua surpresa foi saber que era necessário participar de diversos testes para ingressar no trabalho social. Concorrendo com 450 pessoas, teve formação teórica de quatro meses até o contato com pacientes sob a fantasia de palhaço. “Mais do que formação, é importante que o voluntário saiba que não é um trabalho que dá para fazer quando quiser. Outras pessoas dependem da sua disponibilidade”, avisa. Quem veste o jaleco colorido tem em mente que no hospital não se fala de doença. “Tento levar a cabeça do paciente para outro mundo, e não o da doença. Brinco que ele está em um spa ou tirando férias e pergunto sobre os planos para depois da doença.”
 
Um dos capítulos mais emocionantes de seu blog está intitulado como A Primeira Vez Que a Dra. Risadinha Chorou. Foi a história de uma paciente da clínica de oncologia que, ao cantar com os doutores-palhaços, pediu para que o mesmo fosse feito com o paciente de outra ala do hospital. Acamada e tendo apenas a janela como distração, notou que o vizinho nunca recebia visitas. A trupe do nariz vermelho visitou o rapaz, que sofria de doença infectocontagiosa. “Foi uma festa. Ficamos do outro lado do prédio acenando e apontando para a senhora. Atitudes como essas nos mostram que pode existir amor em todos os lugares, até mesmo em um hospital.”
 
AMOR CONTAGIANTE 
A diretora-administrativa da imobiliária M.Bigucci, Roberta Bigucci, 41 anos, se emocionou com o filme O Amor É Contagiante e propôs sessão com pipoca aos colaboradores da empresa. O longa-metragem, estrelado no cinema por Robin Williams, conta a história do médico norte-americano Patch Adams, que acredita no poder do riso para salvar vidas. Roberta sensibilizou os funcionários, que decidiram seguir o exemplo do médico famoso e criaram o projeto Big Riso para levar alegria a pacientes hospitalizados. 
 
Apadrinhado pela presidente da AVCC (Associação Voluntária de Combate ao Câncer), Clotilde Dib, a iniciativa conta com cerca de 70 pessoas. Pelo menos uma vez por semana, a arquiteta, advogada e mãe de quatro filhos se transforma na palhaça Spiningrifika Pirulito, com atuações no Hospital Mário Covas e na Casa Ronald – os dois em Santo André – e no Hospital do Servidor Público Estadual, na Capital. 
 
Como doutora-palhaça, Roberta pôde conhecer o grande inspirador do seu trabalho: o médico Patch Adams. “Ele transparece só amor e dedica a vida para dar atenção e carinho ao próximo”, lembra emocionada. Ela e outros 29 palhaços voluntários de todo o mundo passaram 15 dias na Rússia ao lado do doutor-palhaço pioneiro, visitando 28 hospitais. Foi nessa viagem que Roberta teve uma das experiências mais marcantes como voluntária. Em um orfanato com crianças cegas e surdas, ficou preocupada sobre como poderia interagir com os pacientes. “Lembro que tinha apenas um pompom de cabelo e fui com ele. Passei no rosto da criança e tirei um sorriso dela”, narra sem segurar as lágrimas. “Muitas pessoas deveriam viver um décimo do que vivi para parar de reclamar de bobagens e perceber que há problemas muito maiores que os nossos.”
 
Thiago Belice junta voluntariado e amor à arte Foto: Nário Barbosa
ARTE A SERVIÇO DO BEM
O palhaço Thiago Belice, 26 anos, de Santo André, descobriu o voluntariado pelos caminhos da arte. Começou a trabalhar como doutor-palhaço do projeto Arco-Íris para expressar sua formação artística e se encantou com a atividade em hospitais, que hoje o preenchem. Disposição, boa aceitação e facilidade para trabalhar com prontidão foram qualidades essenciais para a função. Hoje, Thiago usa seus melhores trajes de clown no Hospital Darci Vargas, no Morumbi, e tem a missão não só de entreter crianças, mas de promover a quebra da rotina também entre médicos, enfermeiros e acompanhantes dos pacientes. “O principal desafio do trabalho é pessoal. Como ser humano, é difícil se permitir brincar e estar em estado de alegria em ambiente que vive exatamente o contrário. Para levar alegria, é importante se deixar levar pelas sensações e ouvir o coração”, ensina o também especialista em comércio exterior. Entre os episódios que mais o desafiaram a combater a tristeza, ele destaca o de fazer uma mãe comemorar o aniversário do filho em coma. “Ganhar o sorriso daquela mulher me deu sensação de missão cumprida.”
 
 

 




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