De frente para o crime

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Raquel de Medeiros

Zulu teve coragem de deixar a cidade para correr atrás do sonho de morar perto da natureza Foto:Tiago Silva

Todo repórter, quando senta em frente ao entrevistado, tenta observar suas características para colocar no papel: trejeitos, manias, postura, qualidades. Fácil seria começar esta reportagem dizendo que Paulo Zulu é alto, moreno e de beleza indiscutível. Que ele chama atenção – mesmo prestes a completar 50 anos –, todo mundo já sabe. Então, tentei observar aquilo que não se conta a respeito do galã. Coragem faz parte de suas maiores virtudes. Quem nunca desejou largar o estresse das metrópoles e se mudar para uma praia paradisíaca, de preferência com um grande amor, para viver perto da natureza e com toda a tranquilidade do mundo? Mas quem, de fato, tem peito para jogar tudo ao alto e correr atrás de propósito tão ousado? 

 
Zulu teve. Ele acredita que está na vida para realizar sonhos, e não sentiu medo de tomar a decisão. Após voltar de Paris e passar temporada em São Paulo, resolveu mudar-se com a mulher, a ex-modelo Cassiana Mallmann, para a tranquila Guarda do Embaú, no litoral catarinense, onde abriu a pousada Zululand. “Li O Alquimista, do Paulo Coelho, e achei interessante quando ele falava que saiu de um ponto, viajou o mundo inteiro e, ao retornar, percebeu que ali é que estava a felicidade. Eu fiz isso: vi o mundo inteiro, conheci os lugares que as pessoas mais sonham em conhecer, mas a minha felicidade é estar em uma beira de praia, onde possa pescar, surfar, ter qualidade de vida e estar em contato com a natureza. Essa é a minha real felicidade.”  Mais tarde vieram os filhos – Patrick, 10 anos, e Dérek, 8. O clã da família Pires estava formado.
 
O segredo de Zulu para alcançar qualidade de vida em lugar tão distante da costumeira ‘cidade grande’ foi não abandonar o trabalho nos centros urbanos. Sempre que necessário, ele viaja para fazer campanhas e editoriais de moda, desfiles, apresentar programas e também dar aulas de defesa pessoal para mulheres. “Saí de lá hoje. Vim do paraíso, mas quando chego aqui nada me afeta. Quem está aqui fica irritado com barulho, sirene etc. Eu não. Estou tranquilaço”, disse enquanto ouvíamos um carro com alarme disparado.
 
Zulu, que não come carne vermelha e evita frango, só consome o que pesca. Aprendeu o ofício com o pai, ganhou dinheiro vendendo peixes durante a adolescência e aproveitou a reviravolta na vida para adotar também uma alimentação saudável. “Quando você olha para o lado e vê um com pressão alta, outro com diabetes, você começa a pensar no porquê. Às vezes, é genética, mas muito vem da alimentação.”
 
Para manter a família longe das metrópoles, mas se alimentando bem, Zulu tem de colocar as mãos na massa e, constantemente, sujá-las de terra. “Tento me preocupar com agrotóxico. Por isso, planto tudo.” Na sua pousada há uma horta completa, com cenouras, alface, beterraba, rúcula, espinafre, brócolis, tomates cereja, entre outros. E ainda há dezenas de árvores frutíferas. “Tenho caqui, figo, pêssego, tangerina, laranja, uva, coco, pitanga, goiaba, abacate e banana”, diz orgulhoso. 
A falta de infraestrutura exige trabalho pesado. “Onde moro sou peão. Tenho de fazer as coisas manualmente. E andar 30 quilômetros, por exemplo, para ir ao banco.”
Nada disso importa. Para Zulu, a felicidade está no que é simples. “Tenho o principal, que é a qualidade de vida, o contato com a natureza, e você não pode ter tudo ao mesmo tempo. Prefiro morar tranquilo, ver que vento vai dar hoje, se vai dar mar e pesca. Gosto de viver como os antigos viviam e não com essa tecnologia absurda de hoje.”
 
MÚLTIPLOS TALENTOS
“Apresentador, ator, modelo, pescador, surfista, lutador e agora professor de seminário sobre defesa pessoal.” Assim Zulu se denomina. Gosta de ter várias faces e “viver com intensidade”. “São oportunidades de trabalho e de vida que eu não espero e acontecem”, diz ele, que atualmente apresenta o reality show Amazing Race, do canal Space.
Apesar de multifacetado, prefere apresentar a atuar. “A dramaturgia exige muita técnica. Você tem que estudar muito, estar sempre se aprimorando e tentando se identificar com os personagens para buscar uma emoção dentro daquele contexto.” 
 
Para ele, sua personalidade forte tende a atrapalhar o desenvolvimento da carreira de ator. “Algumas pessoas têm personalidade tão tranquila que conseguem se adaptar a outras personalidades. Já outras têm personalidade tão forte e atuante que é difícil para elas se anularem para botar alguém a mais dentro delas mesmas”, filosofa. Depois de conseguir a faixa preta no jiu-jítsu, que ele pratica desde a adolescência, Zulu passou a ser convidado a dar aulas de defesa pessoal para mulheres. “Estive no início do ano em Gramado (RS) para assistir a um campeonato. Foi quando um dos alunos me chamou para fazer treinamento feminino. Havia 40 mulheres no curso e foi muito interessante.” As aulas do professor Zulu têm teoria e prática. “Todo mundo pode. É só querer aprender.” 
 
PASSAGEM DO TEMPO
Dentro de quatro meses, Zulu completará meio século de vida. Mas não teme a velhice. “Não me preocupo, porque minha mente parou nos 18 (risos).” Para ele, se o tempo passa e o corpo e a cabeça continuam trabalhando como quando era mais jovem, não há o que temer. “Passa mais um ano, mas você continua funcionando igual. Esse é o detalhe da alimentação e vida saudável. Você continua fazendo a mesma coisa que fazia, com o mesmo tempo, sem sentir o peso da idade. Então, não muda nada.” 
O apresentador também não se importa em ser sempre destacado pela beleza que tem (e que chama atenção por onde passa). “Não me preocupo em ser lembrado pela beleza, por isso ou por aquilo. O importante é ser lembrado, né? No meu trabalho, se eu for esquecido, fico duro, pobre.”
 
Zulu assume que


Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados