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Miriam Gimenes

Léo Maia não usou de seu sobrenome para galgar espaço no mercado fonográfico Foto: Andrea Iseki

“Marcio Leonardo veio ao mundo para tocar.” Teve festa no dia de seu nascimento – pago com o sucesso da canção Réu Confesso. O garoto ganhou melodia com o seu nome e, como profetizou o pai, Tim Maia, na frase que inicia esta reportagem, virou músico. Só que não usou de seu sobrenome para galgar espaço no mercado fonográfico. Recorreu a São Jorge, o santo guerreiro, para emplacar o primeiro disco e agora, em seu quarto álbum (Diz que Tem Saudade), comemora a vitória pessoal. Orgulha-se, sim, em ser um Maia, mas enfrentou a tudo e a todos para trilhar o próprio caminho. Legado que aprendeu com o pai adotivo: “Fui treinado para ser pit-bull, e não uma Lassie”, diz o cantor Leo Maia.

 
Este carioca de 36 anos ainda carrega o sotaque arrastado de quem passou toda a juventude na Cidade Maravilhosa. Escolheu São Paulo há pouco mais de uma década, onde fixou moradia – com a mulher Luciana Rosa Palhares e os dois filhos –, e difunde seu trabalho musical, iniciado aos 7 anos. Foi neste tempo que Leo tocou os primeiros acordes da música Sossego, sob o olhar crítico de Tim, que logo viu que o garoto tinha talento. Não era sangue do seu sangue, e sim “filho do coração”, como dizia o eterno ‘Descobridor dos Sete Mares’, mas mostrou ali que tinha herdado todo o suíngue e talento do pai adotivo para a música.
 
O ‘Síndico’ assumiu Leo quando se casou com sua mãe, Geisa Gomes da Silva, que estava grávida de dois meses. No dia de seu nascimento, Tim, Cassiano e Paulinho Guitarra fizeram uma festa na maternidade de Botafogo para comemorar a chegada do menino e selaram-se ali os laços eternos entre os dois. “Meu nascimento foi um negócio muito doido, musical, espiritual, forte. As cabeças mais musicais da época foram ali me receber. Tipo o (filme) Rei Leão”, brinca. E a semelhança entre eles é algo impressionante. Até mesmo na voz. “Deus faz coisas que a gente não entende. Um espírita muito amigo meu disse que eu e o Tim já fomos pai e filho em outras tretas. E estamos sempre juntos. Como ele era da Liga da Justiça, um dos negões mais espertos da ninhada, deu o jeito dele, pegou um e disse: ‘desse aqui vou cuidar. Nesse aqui vou deixar minha imagem e semelhança’.” 
 
E foi o que aconteceu. Como uma espécie de roadie, Leo conviveu desde pequeno com os bastidores do trabalho de Tim e da banda Vitória Régia. Puxava cabos, afinava instrumentos, fazia as vezes de motorista para o pai. Só aos 14 anos começou a tocar profissionalmente em bailes. E não parou mais. Até chegou a cursar Direito, mas largou a faculdade no 3º ano, no dia em que o pai morreu. “O intuito de fazer Direito era só o de ajudar meu pai. Só que o meu cliente resolveu falecer e a faculdade perdeu o sentido.” 
O ano era 1998. Leo decidiu, então, investir na música e aumentar seu rol de composições. Tocava no canto durante a gravação de um programa de TV quando a cantora Luiza Possi – filha de Zizi – o ouviu e o indicou ao pai, o produtor musical Líber Gadelha, que logo o convidou para gravar o primeiro disco. 
Leo, é claro, gritou de felicidade, aceitou, mas com uma condição: queria composições próprias. É que antes deste episódio os cartolas da indústria fonográfica lhe ofereciam apenas a oportunidade de fazer regravações de Tim. “Eu não queria ficar devendo favor a ninguém, nem mesmo ao meu pai. Quis honrar ele conquistando o meu primeiro disco na marra, como um Maia legítimo.”
 
Prometeu, então, a São Jorge, de quem é devoto – e a quem deu o nome de seu primogênito –, que se gravasse o primeiro álbum com composições suas o homenagearia. Conseguiu o aval de Gadelha e nasceu assim a trilogia Cavalo de Jorge, Cidadão do Bem e Sopro do Dragão. 
Ainda no pioneiro CD, emplacou o hit História de Amor na novela global Malhação. Também teve I go, I go na trilha de Viver a Vida (2009) e já pensa em fazer álbum apenas com músicas de novela. “Venci por mim, não na aba do meu pai.” Se Leo deve algo a alguém, é ao público e ao santo guerreiro. Salve, Jorge! 
 
VOLTA AOS TRABALHOS
Concretizada a trilogia, Leo ficou três anos sem lançar nenhum CD. Voltou agora com força total no álbum Diz Que Tem Saudade, que traz em uma das faixas o sucesso Me Dê Motivo, de Tim. Superou a cobrança em regravar o pai e já o faz sem sentir-se pressionado. 
 
Neste trabalho, bem romântico, compôs pensando totalmente no seu público, que é 80% feminino, e também extravasou a necessidade de contar as histórias vivenciadas. “Sou na real um grande observador, gosto de ouvir as pessoas falarem.” Na música Só no Gorozinho, por exemplo, ele narra cena que presenciou em um bar. “Vi um moleque dizendo ‘vamos tomar uns gorozinhos hoje’ e virou os versos ‘Estava lá no baile, só de gorozinho, quando avistei aquela espaçonave’. Adoro isso.” Leo despe-se de preconceitos ao compor. Até porque conviveu com todo tipo de melodia e a nata da MPB. A começar por seu padrinho: Jorge Ben Jor. Como todo bom carioca, gosta de samba – frequentou as quadras da Mangueira, da Grande Rio e ouve Fundo de Quintal – soul, funk e rock. “Curti muita música na juventude, inclusive essa onda que rolou na minha época, que teve Legião Urbana, Titãs, Barão Vermelho... Sou bem eclético.” 
 
Para ele, nenhuma expressão artística é mais democrática que a música, pois só ela concede  oportunidades a todos os gêneros, e qualquer pessoa, independentemente da condição social, pode ouvi-la. Lembra que cresceu na época em que grandes artistas, inclusive seu pai, tinham dificuldades de emplacar o trabalho na rádio porque a prioridade era das composições norte-americanas. Letras em português não davam audiência. “Hoje é totalmente o contrário. Quem não gosta do som que está rolando não vai àquele lugar, não ouve aquela rádio.” A internet ajudou a difundir as composições e a democratizar a música, mas também tornou a relação público/artista um pouco fria na opinião de Leo, que só sente ca


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