Quanto mais quente melhor

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Raquel de Medeiros

Mariana Ximenes sabia que queria ser atriz desde a infância Foto: TV Globo/Divulgação

Precoce, Mariana Ximenes já sabia que queria ser atriz desde os 6 anos. “Desde pequena, a brincadeira de que mais gostava era a de montar peças”, diz o pai, José Nuzzi Neto. O gosto por “contar histórias”, como ela mesma define, surgiu depois de ganhar do progenitor alguns livros de Monteiro Lobato, que haviam sido dados a ele pela avó da atriz. “Quando as crianças (Mariana e o irmão, Rafael) começaram a crescer, eu lia os textos para eles. E os incentivei à leitura. Por fim, os livros foram passados a ela”, lembra Nuzzi.

 
Sabendo o caminho que queria trilhar, Mariana não demorou a entrar para o grupo de teatro do colégio em que estudava em São Paulo, o Marista Arquidiocesano. Mais tarde, deu passo importante na carreira: entrou para o conceituado Teatro Escola Célia Helena, onde o caminho finalmente se abriu, e na direção certa. A primeira novela de que participou foi Fascinação (1998), no SBT.  Com a apresentação oficial ao público, não tardou surgir oportunidade também na Rede Globo. 
 
Com cara de anjo e jeito de menina, Mariana deu vida a dezenas de garotinhas na TV. Foi a freira Celi em Andando nas Nuvens (1999); a moleca Bionda em Uga Uga (2001); a romântica Rosário da minissérie A Casa das Sete Mulheres (2003); a ingênua Ana Francisca de Chocolate com Pimenta (2003) e a questionadora Lara, de A Favorita (2008), entre muitas outras. Recentemente, porém, o olhar para Mariana começou a mudar. 
 
No cinema, ela vive a sensual e decidida Laura, uma golpista que usa a inteligência e as curvas para conseguir o que quer no filme Os Penetras. O diretor do longa-metragem, Andrucha Waddington, acredita que esta foi uma das melhores performances da atriz e a compara com a diva Marilyn Monroe. “Ela está uma loucura. Eu a compararia à Marilyn em Quanto Mais Quente Melhor, que inclusive foi inspiração para o cartaz do filme.”
 
Nas bancas, Mariana estampa capas de revistas onde o corpo bem torneado e feminino – sem os exageros que se costuma ver por aí – chama atenção em biquínis e peças que despertam a imaginação masculina. Difícil não reparar neste lado B da atriz que tem estado tão em evidência. A mocinha de Guerra dos Sexos, no entanto, se incomoda ao ser questionada sobre o assunto. “Tento usufruir do meu corpo para os personagens, mas não há essa necessidade de posar nua. É apenas mais um ingrediente, uma faceta.”
 
“Mas posaria?”, questiono. Mariana franze as sobrancelhas para responder a pergunta, como se tivesse sido ofendida. “Nunca posei. Não penso. Acho que é uma discussão um pouco supérflua. Não tenho esse pensamento. A preocupação é outra, é de servir a um personagem e não de querer tirar a roupa. As pessoas insistem em perguntar de sensualidade quando o trabalho é muito mais abrangente do que esta questão.” 
 
“Falar disso te incomoda?”, engato. “Não é que incomoda, é que é supérfluo. Quando será que as pessoas vão parar de pensar nisso e falar do geral? Será que só isso interessa? Que pena se for só isso”, responde sem paciência. Tudo bem, vamos mudar de assunto.
 
OS PENETRAS
Para Mariana, poder estar presente no elenco de Os Penetras foi experiência prazerosa, não só pela oportunidade de estar nas telonas, mas também por trabalhar com um grande amigo: o diretor Andrucha Waddington. “Somos amigos há dez anos e conhecia ele apenas fora do ambiente de trabalho. Gostei muito de vê-lo no set, porque ele é cheio de energia, sabe o que quer. Mesmo com improvisos, segue o roteiro e tem noção de dramaturgia que deixa qualquer um seguro.” 
Contracenar com Marcelo Adnet e Eduardo Sterblitch também foi algo inusitado para ela, que não está acostumada a fazer comédia. “Foi muito bom conviver com Adnet e Dudu. São atores excepcionais. Fiquei impressionada. São superinteligentes e criativos.” 
 
Para lidar com os improvisos da dupla, ela precisou ter bastante jogo de cintura e aproveitou para colocar em prática o que aprendeu no teatro. “Infelizmente, não sou comediante. Adoraria, mas é um talento que não nasci com ele. Porém, o improviso eu adoro, é jogo, e você tem de estar viva, com a mente aberta. Por isso adorei tanto o processo de criação do filme.”
 
AO VIVO E A CORES
O palco é uma das maiores paixões de Mariana. “No teatro, você tem de estar atenta o tempo todo, porque é ao vivo. Acontecem imprevistos. De repente, o ator pula uma fala, por exemplo, e você vai deixar a peteca cair? Jamais.” Uma das técnicas que a atriz usa é mergulhar de tal forma na história que nada é suficiente para tirar a concentração. “Pode acontecer qualquer coisa que vou agir como meu personagem, e não como Mariana.”
Além disso, sempre que necessário, usa o artifício do indispensável improviso. “As coisas acontecem. Um dia caiu um refletor, em outro um cara teve ataque cardíaco no meio da  plateia. Tenho de jogar o tempo todo com isso. Meu sapato já voou também”, diz a atriz, que está sempre à procura de desafios. “Estou em busca de personagens que me provoquem e me levem para região desconhecida.”
 
Na coletiva de imprensa sobre o filme, um dos jornalistas questiona se ela faria cena de sexo real, se fosse preciso. Mariana lança mão de uma explicação que já usou antes para driblar perguntas constrangedoras vindas dos repórteres: “Precisa morrer para morrer em cena? Precisa se queimar com fogo para fazer uma cena se queimando? Acho que tudo depende de com quem, como, em que circunstância. Será que o personagem pede muito isso? Não tenho problema de sofrer com personagem, o que precisar fazer eu faço, mas existe ética, caráter, e eu prezo por isso, são dois valores fortes para mim.”
 


Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados

Atriz durante cena em A Casa das Sete Mulheres