O perigo a um clique

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Erica Gonsales

Atriz Carolina Dieckmann foi vítima de crime virtual Foto: Divulgação

Nossas fotos e cartas já não estão em álbuns e caixas guardados na gaveta. Nossas conversas com amigos já não se limitam à intimidade da mesa de jantar ou no bar. Ao contrário, nossas vidas cada vez mais acontecem em ambiente virtual e público: a internet. No Brasil, os usuários da rede mundial de computadores já somam quase 80 milhões de pessoas, de acordo com pesquisa do Ibope Nielsen Online. Dentro desse universo, novas regras de comportamento e ética ainda estão sendo definidas, na medida em que os perigos a que ficamos expostos vão sendo descobertos. 

“A pergunta agora não é mais se você vai ser atacado ou não, mas sim quando você será atacado por um hacker ou cracker”, afirma Ascold Szymanskyj, vice-presidente de vendas e operações da F-Secure para a América Latina. No Brasil, 80% dos usuários de internet já foram vítimas de crimes on-line, segundo dados do Norton Cybercrime Report – estudo global produzido anualmente pela marca Norton, da Symantec. Isso é traduzido em 28 milhões de brasileiros que são vítimas todos os dias de crimes como injúria, calúnia e difamação (os mais comuns), além de roubos através do acesso a dados bancários dos internautas e até mesmo por oportunismo de bandidos que se aproveitam de informações divulgadas em redes sociais. 
 
Mês passado, o Senado aprovou projeto de lei para incluir crimes cibernéticos no Código Penal brasileiro. O relatório foi batizado de ‘Lei Carolina Dieckmann’ por ter ganho fôlego depois que fotos íntimas da atriz caíram na internet, em maio deste ano, se alastrando por diversos sites de maneira inevitável. Ela foi vítima de um golpe de falsificação chamado de phishing (veja quadro abaixo) – que já equivale a 11% dos casos de crime on-line no Brasil. Por meio dele, ladrões de identidade especializados em tecnologia usam spams, websites maliciosos, mensagens instantâneas e de e-mail para fazer com que os usuários revelem informações sigilosas, como números de contas bancárias e de cartões de crédito. 
 
A atriz norte-americana Scarlett Johansson passou pelo mesmo constrangimento da brasileira quando fotos suas, seminua, tiradas com o celular, vazaram na rede. “O phishing é um meio para roubar qualquer tipo de informação. Você recebe uma promoção por e-mail oferecendo desconto, por exemplo. Daí você clica e te pedem dados bancários. Mas na verdade pode ser alguém se passando pela empresa ou pelo seu provedor de acesso. Nesses casos, há uma dificuldade maior de o criminoso ser identificado rastreando seu log de acesso”,  explica o professor Ricardo Castro, integrante do Comitê de Ciência e Tecnologia da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo.
 
PREVINA-SE
Famílias devem garantir que as normas da casa incluam diretrizes sobre:
- Amigos on-line;
- Limites de tempo;
- Sites seguros;
- Downloads;
- Compras pela internet.
 
Além de definir controles para os pais, as famílias devem ter uma ferramenta de navegador para identificação de sites seguros, garantindo que os jovens entendam como isso funciona e por que é importante. Os pais devem explicar como cliques acidentais e spans podem levar a surpresas desagradáveis e a sites inapropriados.
 
CONSCIÊNCIA DIGITAL
Mas não pense que só famosos são alvo de criminosos on-line. A superexposição em redes sociais, como Facebook e Twitter, pode ter péssimas consequências no mundo real. “Quando você posta uma informação que pode lhe localizar fisicamente, está correndo risco”, alerta o especialista Wanderson Castilho, autor do livro Manual do Detetive Virtual – Casos Verídicos Para se Precaver Contra Problemas no Mundo Digital. 
 
“O criminoso só precisa de uma vítima. Conheço o caso de uma pessoa que postou no Facebook que estava indo para a Europa passar 15 dias. Sua casa foi invadida e, quando ela voltou, recebeu mensagem anônima falando ‘Aí, trouxa, quando for viajar de novo me avisa’. Ele pode ver, através do seu perfil, se você tem bens valiosos, seu estilo de vida etc”, avisa Castilho. 
 
“A internet é um ambiente de muitas possibilidades. O usuário deve sempre ter em mente que sua segurança depende também do seu uso consciente, ou seja, o bom-senso e responsabilidade estão entre as melhores práticas quando se está conectado à web”, ressalta Juliana Nemer, especialista em segurança digital da Norton. 
Na opinião de Castilho, o discernimento é a principal defesa dos internautas. “A chave para não se deixar levar pela tecnologia é ter consciência digital. Ou seja, saber que qualquer ação no mundo virtual se propagará no mundo físico”, afirma. Para ele, comentários, mensagens e fotos devem ser muito bem pensados antes de serem publicados.
 
É preciso adotar postura que não seja diferente da que você teria na vida real. Por exemplo, antes de fazer crítica maldosa ou agressiva, pense se falaria da mesma forma se estivesse cara a cara com a pessoa. “Não é por que tem uma tela na sua frente que você tem o direito de ofender os outros. Até mesmo porque há uma falsa ilusão de anonimato e segurança. Cada vez mais é possível identificar os usuários, caso seja feita denúncia aos órgãos competentes”, alerta Ricardo Castro. 
 
Segundo o professor, trata-se de uma questão cultural, de educação digital, que deve ser passada inclusive dentro da família. “Do mesmo jeito que os pais aconselham os filhos a não falar com estranhos e tomar cuidado ao atravessar a rua, deve-se fazer a mesma coisa em relação aos perigos eletrônicos”, ensina Castro. 
“Devemos nos precaver de todas as formas para evitar prejuízos financeiros e de imagem, seja para pessoas físicas ou empresas”, completa Ascold Szymanskyj, da F-Secure. No entanto, segundo pesquisa encomendada pela empresa, 69% dos brasileiros conectados não possuem solução de segurança instalada em seus computadores, seja para uso doméstico ou empresarial. &Ea


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