O poder do salto alto

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Raquel de Medeiros

Mário Spaniol e a esposa Monalisa Foto: Andrea Iseki

Mário Spaniol parece ter nascido com missão bem definida: fazer bons negócios. E tem cumprido seu destino com maestria. Dedicado, é o líder de duas grandes empresas brasileiras: a Couroquímica e a Carmen Steffens, que surgiu de maneira inusitada e hoje faz sucesso não só no Brasil como também em 16 países – entre eles, França e Espanha. Os primeiros passos foram dados na cidade de Franca, interior de São Paulo. Com a Couroquímica, o empresário atendia a todo o setor industrial de calçados da região. Até que, após viagem à Itália, sentiu necessidade de abrir a própria loja. “No Brasil, os produtos são feitos em grande quantidade e sem exclusividade”, diz.

Para tirar esse desejo do campo das ideias, lançou mão de seu conhecimento na área de produção de couro e de tudo o que havia aprendido com as principais marcas italianas de calçados para criar a grife Carmen Steffens, em 1993, com investimentos em tecnologia de ponta e formação de profissionais especializados. O tino para negócios, aliás, parece estar no DNA da família. Além da mulher e sócio-proprietária da grife, Monalisa Spaniol, o filho de Mário, Gabriel Spaniol, ganhou o Prêmio Jovem Brasileiro em setembro pela marca que leva o seu próprio nome. “Ele tem um longo caminho pela frente. Trabalhou seis anos com a gente e agora está em voo solo. Tivemos nossas divergências, mas tenho de entender, porque há 40 anos eu fiz a mesma coisa. Estou torcendo por ele.”
 
IDEIA FIXA
Com a fábrica montada, os primeiros calçados foram criados, mas Mário sentia que algo faltava. Talvez, uma identidade. O empresário, que havia casado com Monalisa há pouco, decidiu pedir a opinião da mulher, que comentou a coleção sem rodeios. “Pedi que ela falasse como consumidora e ela disse: ‘Quer que eu te agrade ou diga a verdade?’ Pedi a verdade e ela, então, falou que não compraria nenhum deles.”
Desapontado, Mário desafiou Monalisa a dar ideias para criar calçados que fossem mais atraentes. E ela aceitou sem pestanejar. Produziu seis linhas de sapatos mais coloridos e ousados, que surpreendentemente representaram mais de 70% das vendas daquele período. Estava criada a identidade da loja. Hoje, a Carmen Steffens é conhecida justamente pela mistura típica de cores, texturas e materiais. 
 
Entre os produtos da marca, 50% são sapatos que Monalisa adora usar. “Hoje é moda calçado colorido, mas a Carmen Steffens sempre foi assim. É o nosso jeito”, explica o empresário. Essa característica, que hoje é tendência, antes era algo impensável entre as tradicionais mulheres paulistanas, que preferiam o preto e o sóbrio a todo custo. “Aqui, em São Paulo, as clientes  achavam o sapato lindo quando era preto. Era um jeito de se vestir. Não tenho nada contra. Mas a gente vê que o paradigma está mudando. Tudo é de um jeito até que as pessoas mudam de ideia.”
 
A exclusividade que ele tanto valoriza é base de toda a produção. Cada calçado atinge limite máximo de 2.500 pares, distribuídos a todas as lojas da rede. “Todos são edição limitada”, explica. O que significa 3.600 versões de sapatos por ano e 1.500 modelos de bolsas. Para dar conta de tanta criatividade, sete pessoas formam a equipe de estilo da marca.
 
Fábrica da Carmen Steffens Foto: Andrea Iseki
EXTERIOR
A primeira loja foi inaugurada em Franca, em 1996. A escolha do nome foi homenagem à mãe de Spaniol, que havia morrido alguns anos antes, em 1987. “Todas as grandes marcas do mundo têm nomes de pessoas, e optei por fazer homenagem à minha mãe”, explica.  Parece que a tática deu certo. A grife está em grande expansão. No primeiro ano, duas lojas foram abertas, uma em Franca e outra em Uberaba (MG). “Como a Monalisa nasceu em Uberaba, estávamos sempre lá.” No mesmo ano mais oito unidades de venda foram inauguradas – duas próprias e seis franquias. “Em cinco anos, já tínhamos 60 lojas”, comemora o empresário. 
 
Competência pode explicar a façanha, mas também a fixação feminina por acessórios parece ter se tornado mais intensa. Pesquisa realizada por agência, a pedido da marca, aponta que 56% das mulheres escolhem primeiro os calçados e acessórios para só depois definir a roupa. “Nem nós sabíamos quanto eles eram significativos.”
Hoje, a Carmen Steffens está presente em 16 países pelo mundo – entre eles, Argentina, França e Estados Unidos. “Fomos indicados, junto com outras duas, como a loja do ano em Hollywood”, comenta orgulhoso. 
 
Para Spaniol, o sucesso da empresa garante uma abertura maior para companhias brasileiras no Exterior e é fruto do respeito adquirido ao longo dos poucos anos de existência da grife. “Fazer com que uma marca brasileira possa competir em dez anos no mercado internacional de luxo nos faz parar com o complexo de inferioridade brasileiro, de que só o que tem lá fora é bom.” Estratégia e aceitação do produto são motivos desse sucesso, segundo o empresário. Além disso, o mercado de luxo está em expansão. “A realidade é que as pessoas querem ter. Uma mulher que não compra durante uma semana entra em depressão. Elas compram cerca de 80% dos produtos do mundo e os outros 20% são elas que mandam comprar”, diz em tom de piada, mas sem qualquer expressão de ironia.
 
Apesar dos preços salgados, a clientela é fiel. A empresária Solange Stocco, 39 anos, diz que só compra bolsas da marca. “Gosto do design diferenciado e do trabalho artesanal. Além disso, os produtos são feitos em pouca quantidade, são praticamente exclusivos, e isso me faz ter vontade de investir.” 
O bom atendimento, no entanto, foi o que cativou a cliente no início. “Quando entrei pela primeira vez na loja, fui muito bem atendida, com serviço bem personalizado. Daí, fui conh


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