Corra!

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Raquel de Medeiros

Robson Pereira ganhou a maratona Foto:Tiago Silva 

Pé ante pé, em compasso marcado. A respiração vai ficando mais intensa e os pensamentos se misturam à paisagem. O coração começa a bater acelerado e gotas de suor vão deslizando aos poucos pela face, por todos os poros. São mais ou menos essas as sensações de quem se entrega à corrida, atividade que tem conquistado número crescente de adeptos Brasil afora. Porém, as mudanças não são apenas físicas. As emoções se alteram também. Quem corre com frequência diz que o bem-estar é indescritível. “A gente se sente feliz”, garante Bruno Paulino, 24, que se dedica ao esporte há sete anos. Essa alegria que Bruno afirma sentir impulsiona a busca de novos desafios e faz a maioria dos pretensos corredores não querer parar mais de correr. A justificativa não tem a ver apenas com paixão, mas com uma reação química que ocorre no corpo durante a prática esportiva. Várias substâncias são liberadas enquanto o organismo está ativo. Uma delas é o cortisol, hormônio capaz de aliviar a ansiedade e o estresse. 

 
Estudo recente realizado pela Universidade de Bonn, na Alemanha, também chegou à conclusão de que há aumento na liberação de endorfina em partes do cérebro de atletas. “Ela é produzida na hipófise e liberada para o sangue juntamente com outras substâncias, como o GH (hormônio do crescimento) e o ACTH (hormônio adrenocorticotrófico), que estimula a produção de adrenalina e cortisol. Daí a sensação de bem-estar”, explica a psicóloga Ana Cristina Fraia.
De fato, Bruno não parou mais. O que era apenas diversão virou objetivo de vida. Ele corre cerca de 15 quilômetros por dia e já obteve boas marcas de tempo em diversas competições. Ficou entre os primeiros na disputa do Shopping Center Norte e também na corrida de dez quilômetros do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), que reuniu mais de 8.000 pessoas no Parque do Ibirapuera, na Capital, além de ter ajudado sua equipe a alcançar o quarto lugar na Maratona de Revezamento do Pão de Açúcar deste ano. Várias metas alcançadas com uma só ação: correr.
 
PARA SE INSPIRAR
Para saber se você tem vocação de Forrest Gump (personagem, interpretado por Tom Hanks no cinema, que testemunhou momentos importantes da história norte-americana percorrendo a Terra do Tio Sam de ponta a ponta), antes de tudo é preciso identificar em si duas importantes características: força de vontade e determinação. Quem afirma é o atleta Adriano Bastos, 34, que ganhou inúmeras medalhas com a prática esportiva. Afinal, não é de uma hora para outra que os benefícios aparecem e, além disso, as primeiras tentativas podem ser bastante cansativas. Mas nada que um pouco de persistência não resolva.
Adriano começou por acaso, incentivado pelos irmãos. “Eles corriam e me levavam junto. Em uma delas (competições), estava ocorrendo uma prova infantil. Acabei participando e terminando em terceiro lugar. Então, percebi que levava jeito.”
A paixão pelo esporte não demorou a surgir. E Adriano passou a correr atrás de mais desafios. Dedicou-se ao triatlo por muitos anos até fechar patrocínio com o Pão de Açúcar em 2000. “O João Paulo Diniz foi meu maior incentivador.”
 
Hoje, o atleta não tem descanso. Corre nos sete dias da semana. Em média, 25 quilômetros por dia. Para Adriano, o interesse da sociedade pela atividade aumentou de forma relevante nos últimos tempos. “Antes, era para os pobres, por ser esporte barato. Hoje, empresários praticam também.”
“As pessoas estão buscando qualidade de vida através da corrida por ser um esporte democrático e em ascensão”, opina outro grande nome da modalidade, Vanderlei Cordeiro de Lima, que encontrou no atletismo a oportunidade de viajar, evoluir na vida e mudar o próprio comportamento. “Quando você entra neste mundo, torna-se mais competitivo.” A psicóloga Ana Cristina Fraia concorda. O esporte desenvolve capacidades importantes no convívio social, inclusive o espírito competitivo. “Isso ocorre através de um contato social maior, de objetivos tangíveis que vão sendo alcançados à medida que a pessoa se envolve no esporte.”
Outro grande benefício de qualquer prática esportiva é a possibilidade de conhecer pessoas, lugares e assuntos, o que acaba  movimentando a vida de forma diferente. E mais: a endorfina, associada a todas essas circunstâncias, também ajuda a fortalecer a autoestima. “Amadurecidas pelas amizades e pelas situações vividas, como a participação em provas e treinos especiais, além das conquistas físicas, as pessoas passam a se sentir mais confiantes”, afirma a psicóloga.
 
PRIMEIROS PASSOS
Já é sabido que o esporte traz benefícios à saúde, evitando o acúmulo de gordura nas artérias; melhorando o funcionamento do metabolismo; fortalecendo a musculatura, o sistema cardiovascular, ossos e articulações; e favorecendo a perda de peso – já que uma hora de atividade pode queimar até 800 calorias. Porém, para que haja resultado, é preciso que a corrida seja levada a sério e praticada, no mínimo, três vezes por semana, segundo o cardiologista Nabil Ghorayeb. Os benefícios, no entanto, não aparecem de um dia para outro. É preciso persistir. “Quem faz exercício regularmente só observa resultados na saúde depois de cerca de 14 semanas”, explica. A avaliação médica também é necessária, antes de qualquer coisa, com ênfase aos resultados do exame de eletrocardiograma e consulta clínica especializada com médicos do esporte.
 
O segundo passo é encontrar um bom par de tênis. O calçado deve ser confortável, ter revestimento macio e ser produzido com tecido que permita manter os pés arejados. Por fim, verifique a anatomia de seu pé e qual o sapato que tem as características mais adequadas para você (veja quadro na página 40). “Quando for comprar um tênis, esqueça a ideia de que ele vai lacear, porque até que isso aconteça você já desistiu dele”, orienta o ortopedista Sidney Schapir


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