Fernanda Porto: embaixadora da bossa 'n' bass

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Raquel de Medeiros

Cantora lança CD no final do ano

Ela mal sabia formar palavras no papel e já fazia música. O primeiro contato de Fernanda Porto com o mundo dos acordes aconteceu na escola, aos 4 anos, com uma flauta doce. Aos 7, já tocava nos festivais do colégio e começava a atrair atenções, embora suas preferências musicais fossem bem diferentes das canções que seus colegas costumavam entoar. Aos 8, apreciava ninguém menos que Oscar Peterson e Ella Fitzgerald. Aos 16, ganhou espaço em seu coração um tal de Chico Buarque, com quem viajava em pensamento enquanto ouvia o álbum predileto, Almanaque – e nunca poderia imaginar que trabalhariam juntos anos depois. Precoce, tratou de traçar já na infância o que pretendia da vida: música e nada mais.

Apesar de o caminho ter se formado tão naturalmente à sua frente, a cantora e instrumentista só se tornou conhecida do grande público e passou a viver de shows algumas décadas mais tarde, aos 37, quando o hit Sambassim – produzido em parceria com DJ Patife – estourou nas paradas tupiniquins.
 
Há cerca de três anos sem lançar álbuns, Fernanda se prepara agora para apresentar novo trabalho. Desta vez, sem os repiques eletrônicos do drum’n’bass. Apenas piano e voz. Com inspiração bem diferente dos últimos CDs, a cantora passeia elegantemente entre rock, MPB e até rap, trazendo remakes de canções já conhecidas do público na voz de intérpretes como Frejat, Rita Lee, Marina Lima, Fagner e Criolo, entre outros. A previsão é de que o álbum chegue às prateleiras antes do fim do ano. 
 
PRIMEIRA VEZ 
Ao contrário da maioria dos músicos brasileiros, Fernanda Porto ficou conhecida no Exterior bem antes de ganhar fama no Brasil. Sambassim estourou primeiro em Londres (Inglaterra) para só depois ocupar lugar de destaque nas pistas brasileiras. Foi o que faltava para que quem ainda não tivesse ouvido falar da cantora começasse a prestar atenção ao seu trabalho. 
 
O convite para gravar Só Tinha de Ser com Você – trilha sonora da novela global Um Anjo Caiu do Céu – reforçou a visibilidade. Mas nada aconteceu como um passe de mágica. A luta até chegar ali foi longa e difícil. Para se tornar conhecida, Fernanda já havia tentado quase tudo o que podia para ser ouvida. Enviou o CD a diversas gravadoras, sem sucesso. Depois, decidiu contratar um corretor de imóveis para telefonar aos selos e perguntar se haviam recebido o demo. “Eu não podia ligar, né (risos)?” Não deu certo. “Diria que é quase impossível conseguir entrar em algumas delas. Hoje em dia, temos no Brasil milhões de talentos, muita gente com seu demo. O legal é que você não depende tanto das gravadoras como no passado.”
 
Fernanda teve de sair do País, conquistar o coração dos ingleses e os ouvidos de DJ Patife para só então ser reconhecida da forma que gostaria por aqui. Tudo aconteceu em 1998, quando embarcou rumo a Londres para uma temporada de pesquisas intensivas sobre um som que a havia encantado pouco tempo atrás: o drum’n’bass. Determinou para si o desafio de misturar o estilo com ritmos brasileiros como samba, bossa e maracatu. “Fiquei seis meses em Londres só ouvindo isso, mas resisti para mostrar aos DJs porque achei que eles iriam dizer que o que eu fazia não era música eletrônica. Eu estava com medo de mostrar.” 
Um amigo inglês, no entanto, conferiu o trabalho de Fernanda e aprovou. Para ajudá-la a emplacar a novidade, mostrou a gravação ao empresário de Janet Jackson, que o orientou a levar o demo para o DJ Fat Boy Slim, que na época não era famoso e usava o nome próprio, Normam Cook. “Ele falou que gostou de duas músicas: Sambassim e Pensamento. Na prática, não deu em nada, porque ele não me chamou para gravar. Mas serviu de estímulo, porque eu pensei: se ele gostou (das músicas) de drum’n’bass, acho que devo seguir esse caminho.”
 
Era o que faltava para Fernanda tomar coragem de levar um demo a DJ Patife, que foi o grande responsável pelo pontapé na carreira da cantora. “Fui a um show dele em 2001 e apresentei a música. Ele demorou dois meses para ouvir, mas assim que ouviu me ligou enlouquecido.” Pouco depois de ser tocada pela primeira vez em Londres, estourou. “Ele me mandou mensagem no celular: ‘Você não tem noção do que está acontecendo’. E eu pensei: ‘O cara está louco’.” Porém, não era loucura. O primeiro show da cantora em Londres, depois daquele episódio, foi para nada menos que 1.000 pessoas, todas estrangeiras.
 
O grande diferencial de Fernanda foi inserir letra no ritmo que era conhecido apenas pelas batidas eletrônicas. As canções foram tão pioneiras que chegaram a receber classificação exclusiva, denominada bossa’n’bass. “As revistas brasileiras ficaram curiosas; não sabiam quem eu era.” Aos poucos, a imprensa correu atrás da informação para descobrir quem era aquela brasileira que fazia tanto sucesso no Exterior. As gravadoras também souberam da novidade e três propuseram contrato com a cantora: Universal, EMI e Trama. “No fim, fui em quem escolhi”, lembra Fernanda. 
 
Fernanda já sabia o que queria da vida desde a infância
CASO COM A MÚSICA
O primeiro show que Fernanda viu na vida foi o de Elis Regina, com João Bosco e Ivan Lins. Era tão apaixonada por Ivan que aprendeu a tocar piano só por causa dele. Também não cansava de ouvir Tom Jobim, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento.
Quando criança, o incentivo vinha de todos os lados. Além dos sons tirados no piano pela mãe e os discos de jazz do pai, todo ano a madrinha dava a ela um instrumento de brinquedo: saxofone, xilofone, sanfona etc. No entanto, quando optou pelo curso superior de Música, ninguém confiou que tiraria dali o seu sustento. “Achavam que a faculdade era só para dar formação à minha vida, mas não que eu fosse seguir carreira.”
 
Com o estudo, conseg


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