Moda à milanesa

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Letícia de Castro Strazzi

Letícia de Castro
Milaneses esbanjam elegância 

Milão nunca sai de moda, e a moda nunca deixa Milão. A cidade italiana dita regras, cria tendências, impõe estilos e não deixa ninguém sair da estica. Também não cede espaço para a ‘deselegância discreta’ de outras meninas. Estilistas internacionalmente consagrados marcam território por ali. Costuram negócios milionários e nunca se cansam de dar pano para manga. Basta um passeio pelo chamado Quadrilátero de Ouro – entre as quadras delimitadas pelas vias Montenapoleone, della Spiga, Sant’Andrea e Corso Venezia – para o fashionista se extasiar diante de vitrines que revelam o que há de mais chique e sofisticado desenvolvido por grifes como Armani, Dolce & Gabanna, Fendi, Valentino, Ferragamo, Versace e Gucci, entre outras. E a última edição da Milano Fashion Week não foi diferente. A equipe da Dia-a-Dia participou do evento, encerrado no dia 26 de setembro, e constatou que a crise na Europa não tirou o glamour dos desfiles de marcas cobiçadas no mundo inteiro. Pelo contrário: a moda é um dos poucos segmentos da economia que mantêm sinal de crescimento, apesar da desaceleração. De acordo com dados da Câmara Nacional de Moda Italiana, as vendas no setor devem cair 5,6% neste ano, após crescimento de 6% em 2011.

Por outro lado, a nova edição da Luxury and Cosmetics Financial Factbook de Ernst & Young aponta que a indústria do luxo terá incremento de 6% a 7% neste ano. E os responsáveis por esses dados positivos vêm, em grande parte, do mercado consumidor dos países emergentes, representados pelo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). O título de Top Buyer vai para os chineses, que registram acréscimo médio anual de 30% referente ao consumo de bens de luxo.

As sofisticações da alta-costura, no entanto, não significam que os preços e peças tenham de ser invariavelmente impraticáveis à maioria dos mortais. Tanto que grande parte dos estilistas apresentou vestidos leves e fluidos, para a mulher econômica, que opta por roupas que durem mais de uma temporada. “Qual o sentido de mostrar 30 peças que não vão para as lojas?”, questionou o designer de moda independente mais bem-sucedido do mundo, Giorgio Armani, em entrevista coletiva à imprensa.

E os ares fashionistas não ficaram restritos aos 71 desfiles de 146 coleções da semana de moda milanesa. Ganharam também as ruas do centro histórico em mostras gratuitas de make-up artist, desfiles de jovens talentos e em eventos que se espalharam por palácios, pela Câmara Nacional de Moda e pelas próprias sedes de marcas como Prada e Gucci, só para citar alguns brands. Entre todas as manifestações, vale destacar a inauguração da mostra Picasso, no Palazzo Reale, que se estenderá até 6 de janeiro exaltando o harmonioso casamento entre moda e arte. Confira a seguir as tendências de grandes marcas femininas para a próxima primavera-verão.

Prada

A direção artística da proprietária, Miuccia Prada, revela o approach intelectualizado da estilista, doutora em Ciências Políticas. Moda e arte se misturam em suas peças, influenciadas pelas mudanças rápidas do século 21 sem jamais esquecer as raízes históricas da sociedade.
Por isso, sua moda é difícil de entender à primeira vista, mas apaixona devido ao fio condutor do conceito, que alia beleza e inovação. Não à toa, Miuccia está entre as mulheres mais influentes no universo da moda e as mais ricas do mundo segundo a revista Forbes.
A coleção tem forte inspiração oriental, o que se nota em modelos que mais parecem origamis de tecido e outros que evocam os quimonos japoneses, com apliques de flores brancas. Os sapatos, altíssimos, foram substituídos por meias de couro em alguns looks. No backstage, Miuccia explicou sua proposta: “Tentei fazer um mix da obstinação e poética femininas, porque é com isso que as mulheres têm de lidar na sua realidade. As roupas expressam a impossibilidade deste sonho”.

Ermanno Scervino

Depois dos estudos em arquitetura e de ter vivenciado o fermento cultural nova-iorquino dos anos 1980 com ninguém menos que Andy Wahrol, frequentando o glamour das noites do Studio 54, além da experiência com grandes nomes da Haute Couture italiana, Ermano Scervino decidiu lançar seu próprio brand na década de 1990.
Suas criações são marcadas não só pela originalidade como também pelo caráter 100% italiano, descrito como Made in Florence, cidade berço do Renascimento e que hoje abriga a sede da empresa.
O sucesso de Ermanno Scervino vem das mãos de seus artesãos, com bordados, crochês, rendas e peças de couro tão fino que parece pesar como seda. Essa maison traduz de modo literal a noção de luxo que se resume no mundinho fashion com o jargão fatto a mano. A coleção é inspirada na mulher que vive em várias partes do globo com elegância. Espécie de figura feminina boho chic moderna, que valoriza, acima de tudo, a qualidade e a criatividade do grande estilista.

Vestidos longos e muita seda na Gucci

Gucci

A diretora criativa da casa fiorentina da ‘doppia G’ (G duplo, como os italianos gostam de chamar a Gucci na Itália) é romana. Antes da grife, passou pela Fendi, onde desenvolveu três coleções femininas, além da peleteria (couro).
Não por acaso, Frida teve a responsabilidade de abrir a semana de moda milanesa com um dos desfiles mais esperados do evento. E conseguiu se superar na feliz opção por cores fortes e decididas, como o coral e o azul royal. Vestidos longos, muita seda e estampas originais com mood 70’s fizeram da coleção uma das mais aclamadas da temporada. Os cortes lembram os tempos aristocráticos, em que a nobreza dos tecidos e a simplicidade das linhas ganhavam destaque. Mangas-sino e babados acrescentaram movimento aos looks. E pode apostar: as sandálias de tiras bem finas propostas pela maison vão virar febre no próximo verão.
As bolsas em píton fascinaram quem conferiu a passagem das modelos na passarela, assim como todos os acessórios apresentados nos desfiles da marca, que tem como ícone a filha da princesa Car



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