O dono da bola

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Sérgio Vieira

 José Maria Marin trouxe novos ares para a CBF

Sejamos francos: ninguém, em sã consciência neste País, poderia dizer, há cinco meses, que Ricardo Teixeira não estaria à frente, com mão de ferro e detestado por muitos, dos preparativos da tão esperada Copa do Mundo de 2014, aqui no Brasil. Pois é. Não só não está como simplesmente não deixou saudades. Viu seu pedestal na Confederação Brasileira de Futebol ruir em meio a escândalos de corrupção e sumiu do cenário. Alçado ao posto máximo da CBF por ser o vice-presidente mais velho (completou 80 anos no dia 6 de maio), José Maria Marin trouxe novos ares para a entidade. E, elegantemente, por mais que pregue que sua administração é a continuidade da realizada por Teixeira, na realidade adota estilo bem diferente, em tom bem mais apaziguador. Conversa com os funcionários da confederação, atende da mesma forma desde o mais humilde trabalhador da entidade até presidentes de confederações de futebol de outros países, passando por chefes de Estado. No melhor estilo Zagallo, Marin – que foi governador de São Paulo de maio de 1982 a março de 1983, após a saída de Paulo Maluf para disputar vaga de deputado federal – adota a paixão pela camisa canarinho para cobrar dos jogadores empenho nas quatro linhas. O dirigente, que também comanda o Comitê Organizador Local da Copa, não tem dúvida de que o Brasil ganhará o hexa em terras tupiniquins e que todos os estádios estarão prontos. Pela confiança e disposição do novo presidente – são-paulino convicto –, é bem possível que ele esteja certo.

DIA-A-DIA – O senhor imaginava que hoje estaria em um dos postos mais importantes do Brasil, que é presidir a Confederação Brasileira de Futebol?

JOSÉ MARIA MARIN – Qualquer posição de vice é um cargo de expectativa. Era vice-governador de São Paulo, acabei virando governador. É claro que quem é vice sempre sonha um dia ser o titular do cargo, mas sempre dentro da maior lealdade. Não seria elegante ficar cobiçando o cargo do titular. O vice deve ser sempre solução, jamais problema. Havia uma expectativa, sim, mas não tão cedo de ocupar a presidência da CBF. Falei para o Ricardo: ‘peça uma licença de até seis meses. Antes disso, você volta. E tenha a tranquilidade de que você encontrará a CBF do mesmo jeito que você deixou’. Por isso eu não acreditava que ele deixasse, algum dia, o comando da CBF.

DIA-A-DIA – E hoje, então, o senhor tem a sua forma de administrar?

MARIN – É uma continuidade. O Ricardo Teixeira realizou uma belíssima administração. E digo isso com números. Nós somos pentacampeões mundiais de futebol. Ele deixou a situação administrativa da CBF muito bem. Mudou apenas o estilo, a posição do presidente. Mas a diretriz continua. O Ricardo Teixeira veio do mercado financeiro. Eu vim do meio político e do Direito. Sou formado em Direito pela Universidade de São Paulo. Nosso estilo é diferente. Ele lidava mais com números e eu lido mais com o ser humano. Além disso, minha origem é o campo de futebol. Comecei em 1950, no juvenil do São Paulo. E naquela época o futebol não proporcionava as condições financeiras que proporciona hoje. Naquele tempo, qualquer pai dizia que queria que seu filho fosse um médico,  um engenheiro, um advogado. Hoje existem famílias da classe média que me procuram para que eu indique uma boa escolinha de futebol. Houve uma transformação radical.

DIA-A-DIA – A que o senhor atribui isso?

MARIN – Houve uma mudança total no mundo. Hoje estamos na era da comunicação. A Copa de 1958 foi só ouvida e não assistida. Além disso, os grandes espetáculos passaram a ser transmitidos para o mundo inteiro. Imagine quanto estariam ganhando hoje os grandes craques do passado. Não se ganhava o que se ganha hoje.

DIA-A-DIA – Mas já não há um excesso na valorização do profissional?

MARIN – É uma questão de mercado. O nosso produto está altamente valorizado. Isso é consequência da Seleção Brasileira. A partir do momento em que o jogador veste a camisa de uma equipe pentacampeã do mundo, automaticamente seu passe já está valorizado. Nesse aspecto, já se pode notar uma mudança na Seleção. O time caiu demais no ranking mundial (atualmente ocupa a 11ª posição), mas também caiu no conceito no torcedor brasileiro. Não havia base. E agora teve renovação, não só na idade, mas a principal transformação foi na mentalidade do jogador. Desde que assumi o comando da CBF, a nossa exigência, de todos os brasileiros, é que o jogador convocado venha colocar a camisa com muita honra, responsabilidade e alegria. Não venha vestir a camisa da Seleção como se fosse uma obrigação. Mas agora a disposição do jogador já é outra. Os mais experientes passaram a transmitir confiança para os novatos. O Neymar hoje é a maior referência nacional e ainda é um garoto. Ele poderia estar mascarado, mas conserva a simplicidade.

DIA-A-DIA – O senhor acompanha o dia a dia da Seleção? Reclama do técnico?

MARIN – Eu não insinuo nenhuma convocação, muito menos escalação. Em todos os cargos que ocupei sempre deleguei para pessoas de confiança. Mas também faço cobranças. Não interfiro no trabalho de quem quer que seja, mas quero resultado. Nesse aspecto, confio plenamente no nosso diretor de futebol, que é o Andrés Sanchez e no nosso técnico, que é o Mano Menezes. E nós estamos no caminho certo.

DIA-A-DIA – O senhor acredita que todos os estádios brasileiros estarão prontos para a Copa do Mundo? E não está se gastando muito?

MARIN – Acredito. O brasileiro vai mostrar ao mundo que tem capacidade e competência para cumprir todas as metas. Essa é uma oportunidade para que todos possam conhecer as potencialidades do Brasil. O nosso País não se resume apenas ao futebol ou Carnaval. Vamos mostrar nossa hospitalidade ao mundo. A nós



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