A Ilhéus de Jorge Amado

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Eliane de Souza

Cena de Gabriela na Ilhéus de Jorge Amado

No ano do centenário de Jorge Amado (nascido em 10 de agosto de 1912), todas as atenções voltam-se à formosa Ilhéus, no Litoral Sul da Bahia. A cidade, que serviu de cenário para o maior clássico do escritor – Gabriela, Cravo e Canela –, preserva até hoje as fazendas de cacau, a beleza das praias e parte do casario que marcou a época de triunfo econômico. Também ganhou destaque com o remake da novela Gabriela, exibida pela primeira vez na Rede Globo em 1975 tendo Sonia Braga no papel da protagonista, atualmente vivida por Juliana Paes.

A história se passa nos anos de 1920, tempo em que Ilhéus vivia sua fase áurea por conta da produção e exportação da semente que serve de matéria-prima para o chocolate. Na obra, a pequena cidade é dominada por coronéis liderados por Ramiro Bastos (Antônio Fagundes). Gabriela é uma retirante que atravessa a caatinga e chega à procura de emprego. Acaba na casa de Nacib (Humberto Martins), imigrante árabe, dono do bar Vesúvio, que se encanta com os dotes culinários – e físicos – da cozinheira. Alheia aos costumes da época, ela seduz o patrão e põe à prova os questionamentos morais da sociedade com sua natural espontaneidade.

A arquitetura da década de 1920 é caracterizada por ruas calçadas de pedra, igrejas e casarões antigos. Mas as construções históricas mais bem conservadas pertencem à vizinha Canavieiras. Mesmo assim, o destino agrada tanto aos aficionados por Jorge Amado quanto aos turistas que buscam sombra e água fresca em refúgios litorâneos distantes do centro urbano, como as praias do Norte e os resorts à beira-mar que pontuam a estrada que leva para Una.

Todas as referências à obra literária podem ser conferidas em um agradável passeio a pé pelo centro de Ilhéus. A primeira parada é a Casa de Cultura, antiga residência de Jorge Amado. O Bar Vesúvio – o mesmo da novela – existe de verdade e serve de palco, todas as semanas, para a dramatização, de aproximadamente 45 minutos, do romance Gabriela, Cravo e Canela. A encenação ocorre todas as terças-feiras, às 21h. Não deixe de tirar uma foto junto à estátua do escritor e apreciar algum aperitivo nas mesinhas que invadem a calçada.

A um quarteirão do Vesúvio está o Bataclan, antigo cabaré descrito por Jorge Amado e comandado pela personagem Ana Machadão, interpretada nas telas pela cantora Ivete Sangalo. Nos tempos áureos do Ciclo do Cacau, o local era frequentado por coronéis. Hoje, serve de sede para apresentações teatrais de 30 minutos, sempre às quartas-feiras, a partir das 20h30.

Para entender como a produção de cacau movimentava a economia da cidade, nada melhor do que conhecer de perto as plantações do chamado ‘ouro negro’. Várias fazendas no caminho de Itabuna abrem suas portas a visitantes. É possível conhecer a história das propriedades, passear pelas plantações e observar o processo de beneficiamento e secagem dos grãos para depois degustar a fruta e concluir que o cacau em nada lembra o sabor do chocolate. Para garantir a entrada, agende previamente o passeio nas fazendas Yrerê (0xx73 3656-5054) e Primavera (0xx73 3613-7817). Ambas ficam na Rodovia Ilhéus-Itabuna (Kms 11,5 e 20, respectivamente) e cobram R$ 20 por pessoa.

Bar Vesúvio existe de verdade e serve de cenário

PRAIAS

Além das lembranças de Jorge Amado e da produção da matéria-prima dos chocolates, Ilhéus é reduto de belezas naturais, com rios margeando fazendas, praias intocadas, imensos coqueirais, reservas de Mata Atlântica e alguns manguezais. O município pertence à região conhecida como Costa do Cacau, que compreende cerca de 180 quilômetros entre os municípios de Itacaré e Canavieiras.

Entre as praias, destaca-se a de Canabrava. Mais afastada do centro, é endereço de alguns resorts e casas de veraneio. Já a Cai N’Água alterna trechos de mar calmo com outros de ondas fortes, sendo frequentada tanto por surfistas quanto por famílias.

A orla urbana de Ilhéus, apesar de imprópria para banho, também é muito procurada nos fins de semana, o que torna o passeio a pé pela cidade baiana ainda mais agradável. O trecho começa ao Norte, na orla de São Miguel, e segue pelas praias de Marciano, Avenida, do Cristo e da Concha.

Quem procura cenários paradisíacos deve refugiar-se ao Norte, que abriga oito praias semidesertas, ao longo de 34 quilômetros, entre Ilhéus e Itacaré. Ponta da Tulha, Mamoã (Lagoa Encantada), Coqueiros, Ilhéus e Ponta do Ramo pertencem ao município. Já Barra do Sargi, Pé de Serra e Pompilho ficam na pequena cidade de Uruçuca, a seis quilômetros.

Também é possível conferir a biodiversidade do Sul da Bahia no Ecoparque de Una. Basta  atravessar trilha de Mata Atlântica fechada em percurso de uma hora e meia para se deparar com espécies raras da fauna local, como o mico-leão-de-cara-dourada e o macaco-prego-de-peito-amarelo. Depois de caminhar sobre pontes suspensas entre as copas das árvores, a aventura termina com um banho no Rio Maruim. Bem ao estilo sossegado de Jorge Amado.




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