A hora da estrela

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Raquel de Medeiros

A cantora lançou o primeiro disco aos 10 anos de idade

O show estava prestes a começar no Estância Alto da Serra, em São Bernardo. Paula Fernandes se preparava para receber os jornalistas. Enquanto todos se acomodavam na sala reservada para a imprensa, veio o aviso: “Vocês podem tirar fotos da cantora, mas não com a cantora”. E mais: ela só responderia a quatro ou cinco perguntas no total. Entrei na sala e lá estava ela: rosto de boneca, emoldurado por cílios postiços, maquiagem e cabelos impecáveis... Mas não podia sair do lugar. Todas as fotos deveriam ser feitas praticamente do mesmo ângulo. Sentar ou sair dali para tentar uma imagem com perspectiva mais exclusiva ou intimista, nem pensar.

Tanta pompa parece contradizer o passado da menina que um dia deixou a Serra do Cipó, em Minas Gerais, para tentar a carreira de cantora. Ali, ela vivia rodeada pela simplicidade do campo – entre galinhas, vacas, bois, cabras e bananeiras –, comia o que era produzido na propriedade, andava a cavalo, ouvia Tonico e Tinoco e Tião Carreiro e Pardinho no rádio de pilha da avó e sonhava em viver de música um dia.

Ninguém nega que Paula é linda e que sua voz de veludo é, literalmente, música para os ouvidos de qualquer um. Mas a garotinha do campo mudou. Cresceu, ficou mais vaidosa, ganhou o tão almejado sucesso e hoje impõe limites para aqueles que se aproximam dela. Muitos sites noticiam que a cantora é arredia com a mídia e que não permite que fãs tirem fotos abraçados a ela. A cantora desconversa. “O assédio é normal, faz parte da vida de qualquer artista. Procuro atender o máximo de fãs antes do show, mas infelizmente existem alguns que acabam não tendo acesso na hora.”

A força de vontade de Paula, no entanto, é inegável. Entrou na escola aos 7 anos. Aos 8, pediu de presente um violão ao pai, que atendeu ao desejo da filha. Dali em diante, a garota cultivava a certeza de ter o caminho traçado: queria ser cantora. Aos 10 anos, lançou o primeiro disco independente, chamado Paula Fernandes. Apresentava-se em eventos da cidade e participava de programas de televisão e rádio para divulgar o trabalho. O começo – nada fácil – exigiu bastante determinação e persistência.

Durante viagem para divulgar o disco – que na época ainda era o velho LP de vinil – em Poços de Caldas, viu-se em penúrias: não tinha sequer dinheiro suficiente para passar a noite em um hotel. O pai, como sempre, a acompanhava. E tiveram de aguardar o raiar do sol na rodoviária da cidade. “Não tínhamos grana para dormir. Lembro que estava com meu pai e fui fazer divulgação carregando meu disco, ainda de vinil, embaixo do braço.”

E esta não foi a única vez em que a família passou por apuros na busca de um lugar ao sol para a filha. Outra passagem difícil foi durante as viagens que fazia para divulgar o primeiro disco. Ela e a mãe só tinham dinheiro para uma refeição. Sem saída, tiveram de dividir um pastel e um suco. “E minha mãe, achando que era catchup, colocou molho de pimenta no pedaço dela. Teve de comer daquele jeito mesmo. Isso é verídico e eu tenho muito orgulho de contar, porque foi o que me ensinou a dar valor ao que tenho”, diz Paula, que até hoje mora na casa dos pais, junto com o irmão.

Nada importa. O sucesso sempre foi o seu grande alvo. “Foi o que sempre busquei. Meus caminhos, até aqui, foram trilhados sempre a passos bem firmes.” Mas ela garante não ter chegado a cometer loucuras ‘impensáveis’ na corrida pela fama. “Nunca fui imprudente. Posso ter passado a noite em uma rodoviária, porque realmente não tinha grana para voltar pra casa, mas nunca cheguei a  vender o almoço para comprar a janta.”

Por isso, aos 18 anos, depois de muitas portas fechadas em São Paulo, decidiu voltar a Belo Horizonte e iniciar um novo caminho. Entrou para a faculdade de Geografia. “Foi um período bem difícil de minha vida. Voltei para Minas decidida a não cantar mais.”

A falta da música e a frustração dos planos, no entanto, a levaram à depressão. Além do tratamento que fez com ajuda de remédios e psicólogo por cerca de dois anos, dois amigos foram fundamentais à recuperação da cantora neste período: os irmãos Victor e Leo, por quem ela guarda carinho especial. “Somos amigos há mais de dez anos e tenho profunda admiração pela dupla.”

Os galãs da música sertaneja, por sua vez, que sempre incentivaram Paula a não desistir do sonho, hoje não só se declaram colegas como rasgam elogios à cantora. “Além de ser uma grande amiga, de muito tempo, que inclusive já tivemos o prazer de trabalhar juntos em uma mesma gravadora, ela é uma cantora de muito talento. Sempre que puder, faremos questão de tê-la em nossos trabalhos”, declarou Leo em entrevista exclusiva à Dia-a-Dia.

O rei Roberto ajudou a impulsionar a carreira de Paula

Enfim, o sucesso

Alguns anos depois, Paula teve a sorte de ser convidada para cantar ao lado de Dominguinhos no programa Emoções Sertanejas. Estava dado o pontapé para a grande guinada. Nos bastidores, a mineira teve a oportunidade de conhecer Roberto Carlos, que a convidou para participar do seu tradicional especial de fim de ano na Rede Globo. Nada mal para quem pensava em desistir. “Foi um momento ímpar de minha vida e carreira. Só tenho a agradecer pela oportunidade. Através da luz dele, pude acender a minha.”

Com 1,7 milhão de cópias vendidas do trabalho Paula Fernandes ao Vivo, o sucesso não é visto com surpresa pela cantora, que diz estar colhendo os frutos do que plantou há muito tempo. Também não espera atingir a mesma marca de vendas com o último CD. “Não achava que devia fazer isso. As pessoas me cobravam: ‘Poxa! Tem que ser igual!’ Mas por que tem de ser igual? Cada projeto é único, exclusivo, e retrata o momento que estou vivendo. Já fizemos um grande feito com 1,7 milhão de cópias. Seja o que vier agora, vai ser lindo.”



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