Paixão pelas artes

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Raquel de Medeiros

De espírito inquieto e determinado desde a adolescência, Raoni Carneiro divide-se com maestria entre os palcos, a TV e a música.

Era uma vez um garoto que se apaixonou. Ele não era o Romeu de Willian Shakespeare, mas tinha a mesma força de vontade para alcançar o que queria. Tudo parecia muito distante do alcance de suas mãos, mas ele não pensou. E não quis nem cogitar a possibilidade de que algo poderia sair errado ou cair na frustração. O ator Raoni Carneiro – que está no elenco da minissérie global Gabriela e na peça Maratona de Nova Iorque, dirigida por Bel Kutner – se apaixonou pela arte dramática ainda muito novo, aos 13 anos de idade. A partir dali se dedicou de corpo e alma para realizar seus sonhos. Sem hesitar nenhum instante, seguiu adiante. 

 
Com 13 anos pediu para um professor para fazer parte do grupo de teatro que ele participava, em Itapetininga, no interior de São Paulo. Dois anos depois seguiu para a capital paulista, para estudar e se profissionalizar no Teatro Escola Célia Helena. A inspiração ele não sabe dizer de onde veio, mas credita ao pai essa mania de querer seguir em busca do sonho. “Meu pai sempre teve a coisa muito forte do lúdico, do sonho, da batalha, de conseguir alguma coisa e talvez isso tenha mexido comigo de alguma maneira.”
 
A família foi a grande mola propulsora daquele sonho. Os pais não se opuseram a vontade de Raoni de ir atrás da carreira nas artes cênicas. O pai inclusive ajudou a procurar o melhor caminho pro filho. “Ele leu sobre duas grandes escolas de teatro, uma era o Tablado no Rio e outra era o Célia Helena aqui em São Paulo, daí eu vim para São Paulo conhecer o Célia Helena. Tinha um exame de aptidões. Passei no curso e vim embora. Eles não ficaram tensos, meu pai e minha mãe sempre prepararam a gente pra vida.”
 
Raoni recorda que estava de recuperação em algumas matérias no colégio quando descobriu que tinha passado no Célia Helena. Raoni avisou que teria que sair da casa dos pais para morar em São Paulo.  O pai recebeu a decisão com naturalidade. “Ele me disse: ‘cara, é o sonho da tua vida? É o que você vai querer, você tem certeza? Então vai embora, mas com uma condição, não vai largar o estudo tradicional.’ E eu fui atrás.”
 
Em São Paulo, morou com os avós durante dois anos e achou forma de ganhar dinheiro com propagandas. “No começo não é nem um pouco fácil, aliás, nunca é.” Segundo o ator não é só por conta da concorrência, mas também por fatores como sorte, talento e a condição de estar no lugar certo na hora certa. “E depois que se começa também tem de estar preparado para continuar, aí você tem que ter alguma coisa com a qual consiga se manter, então, não é nunca fácil, nunca mesmo.”
 
Pés na Globo
 
É raro algum ator dizer tão abertamente que não sobreviveria sem a televisão. Raoni admite sem rodeios. “Sempre tive umas metas na minha vida. Uma delas era que eu ia ter que fazer televisão para viver da minha profissão. São raros os casos de pessoas que não precisam fazer isso.”
 
Ou seja, pra conseguir sobreviver do sonho, ele teria que achar maneira de ganhar um dinheiro certo, de encontrar espaço e fazer seu nome. Apesar de parecer impulsivo na decisão de deixar a casa dos pais em busca do ideal, ele não deixava apenas a maré levar. Traçou um plano para ter oportunidade na Globo. “Eu lembro que consegui descobrir o telefone da Globo e liguei para a pessoa responsável pelo elenco em São Paulo. Descobri que tinha que fazer um cadastro, que existia um produtor de elenco e que esse cara teria que me ver antes para me chamar. Pensei ‘só tem uma maneira desse cara me enxergar, que é vendo o meu trabalho’.”
 
Com os colegas de palco da peça Rei Lear, produzida e estrelada por Raul Cortez em 2000, conseguiu encontrar uma luz no final do túnel. “Estava num elenco cheio de estrelas e comecei a perguntar ‘gente, como é que se faz?’ Daí que fui entendendo e quietinho fui correndo atrás.”
 
No dia da estréia da peça – qual??? – ligou para a Globo novamente e pediu para falar com o responsável. Disse que estava estreando uma peça e queria que ele visse. O homem pediu para que Raoni deixasse convites de todos os dias, porque ele não ia dizer quando iria aparecer. “Mas eu lembro do dia que ele foi, porque não tinha ninguém quase no teatro (risos). Tinha mais gente em cena no que na platéia. Deviam ser umas treze ou catorze pessoas no palco e cinco ou seis na platéia (risos).”
 
Era o ano de 2000. Raoni foi convidado a fazer um teste na emissora. Decorou um texto e aceitou o desafio. Foi aprovado. E a partir de então o sonho começou a parecer mais palpável. O primeiro trabalho foi na série Sandy & Junior, em 2002. Depois emendou vários trabalhos em Agora É Que São Elas (2003), A Lua Me Disse (2005), Negócio da China (2008), Aquele Beijo (2011), entre outros trabalhos. 
 
Prata da casa
 
Raoni nasceu em São Bernardo, mas morou em Santo André nos dois primeiros anos de vida. Logo depois foi para Itapetininga no interior de São Paulo. Porém, nunca cortou laços com a região. O pai, qual o nome dele?,  se formou e deu aulas na faculdade de medicina do ABC. O irmão, também médico, mora em São Caetano, e também é formado na fundação. 
 
“Meu irmão e minha cunhada se casaram há pouco tempo e eu voltei pra cidade, visitei meus tios em São Bernardo, passei pra ver meu outro tio em Santo André e na casa do meu irmão em São Caetano.”
 
Mas a história da família Carneiro na região é mais antiga. Os avós de Raoni, Elias Carneiro e Simirames Carneiro, foram vereadores na cidade. “E lembro que os natais eram todos na casa da minha vó, sempre em Santo André. Minha família inteira foi criada no Campestre.”
 
Trupe
 
Mas não só pelas artes cênicas bate o coração de Raoni. A música, que foi a primeira a chegar, ficou um pouco de lado quando ele decidiu que queria se dedicar ao teatro e, como todo amor mal resolvido, voltou a ‘mexer ele’ depois de alguns anos. 


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