Super Felipe Andreoli

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Raquel de Medeiros

O repórter em ação: entrevistando o jogador Elano. Foto: Divulgação.

Quem vê aquele cara andando pela rua, não diz quem ele é. De camisa, calça social e um par de óculos que o ajuda a esconder a timidez, Clark Kent leva a vida sem fazer alarde, como repórter do fictício Planeta Diário. É mais um entre tantos. Porém, basta alguma injustiça ocorrer na cidade de Metrópolis para ele se transformar no Super-Homem, com doses extras de força e coragem. Embora não tenha superpoderes, Felipe Andreoli admite sentir-se um pouco assim quando está vestido de terno preto e óculos escuros, traje típico dos integrantes do programa CQC, da Band. “Você incorpora um personagem. No primeiro dia em que gravei o Deu Olé (programa esportivo que estreou dia 16 na emissora), me senti estranho, meio indefeso, como o Clark Kent sem a roupa. Com o terno preto, parece que a gente é meio pit-bull. O cara vê e foge, atravessa para o outro lado da rua. A roupa é meio protetora.”

Na vida real, Felipe – assim como Kent – é extremamente tímido. Tanto que sente dificuldade de frequentar eventos e ir a festas. “Acho que entro em estado de timidez quando estou em um lugar que conheço pouca gente. Às vezes é um evento que me interessa, com gente bacana, mas é difícil, porque quando estou tímido fico arredio e penso que as pessoas devem estar me achando um mala.”

Quem ajuda Felipe a ficar mais descontraído é a mulher dele, a apresentadora Rafaella Brites. “Sozinho, não consigo ir. Vou com minha mulher e ela desenvolve mais do que eu, vai conversando com todo mundo, e eu vou chegando aos poucos.” Nas rodinhas de amigos do casal, ele é o que menos fala. “Os amigos dela ficam decepcionados, porque acham que vou entrar na roda e começar a contar altas piadas, que vou ser o centro das atenções, e eu fico muito mais ouvindo do que falando e divertindo a galera.”
A timidez, no entanto, nunca o impediu de trabalhar. Tendo o pai como inspiração, sempre sonhou em estar na televisão e ficar conhecido. “A primeira coisa que eu queria era ser famoso, e depois jornalista.”
 
Com os pais separados desde a infância, passou vários fins de semana na Band e na Globo só para ficar ao lado do pai – às vezes, por mais de 12 horas. “Meu pai estava no auge, e a TV só tinha cinco canais. Ele era um cara muito famoso e eu pensava: quero ser como ele.” O progenitor ajudou a abrir a primeira porta do jornalismo para Felipe, mas o resto ele fez sozinho. “Apesar de ele ter me ajudado, não fui trabalhar em nada luxuoso no início. Trabalhei no núcleo da Igreja Universal: entrei por uma portinha e fui abrindo janelas maiores”, explica.
 
Na época, Felipe estudava em uma faculdade do Morumbi e trabalhava na sede da Record, na Barra Funda. Tinha de cumprir o percurso em uma hora para chegar a tempo das aulas e não tinha carro. Por sorte, um pastor percebeu a dificuldade e resolveu ajudá-lo. “Até hoje lembro o nome dele. O pastor Luciano tinha um Gol vinho e me dava carona, me trazia todo dia para a faculdade. Ele me dava a maior força e a gente vinha conversando sobre todos os assuntos. Em nenhum momento tentou me converter, talvez porque soubesse que eu era um caso perdido”, brinca.
 
Em pouco tempo, perceberam o talento do garoto e lhe deram a oportunidade de apresentar um programa para jovens. Felipe ganhou estúdio com três câmeras à disposição, além de plateia, e teve de aprender, de uma vez por todas, a lidar com a timidez. “É muito engraçado assistir aos meus vídeos antigos, todo tímido. Até na postura do ombro eu era diferente, mas como primeira experiência foi muito bom, um grande desafio. O que me tranquilizava era que eu sabia que ninguém assistia. No máximo os crentes, eu e minha mãe.”
 
HOMEM DE PRETO
Depois de trabalhar na Rede Gospel da Record – onde fez reportagens para um programa do pai – e ficar cinco anos na TV Cultura cobrindo um pouco de tudo, de enchente a inaugurações de hospital, um ex-chefe o convidou para ingressar na Bandeirantes. Era o ano de 2007, e ali ele pôde se aproximar do que mais gostava: o esporte. Trabalhou um ano para a editoria esportiva, temperou as reportagens com tiradas divertidas e acabou chamando atenção da equipe que estava montando o CQC no Brasil. “Sinceramente, não me acho engraçado. Sou um cara agradável, bem-humorado e que pensa rápido. Acho que são estes os motivos que me levaram ao CQC.”
 
O primeiro ano foi muito difícil. Felipe teve de aprender a ficar menos envergonhado diante de situações inusitadas e, literalmente, correr atrás dos entrevistados. Logo que entrou, foi escalado para uma viagem de três semanas à Europa, para entrevistar jogadores brasileiros na Itália, Espanha, Roma, Milão e Madri. “O produtor falava ‘sobe no muro, grita, corre’. E eu dizia ‘não vou fazer isso’. Ele me avisou que, se eu quisesse estar no CQC, teria de fazer tudo isso.” Felipe foi se acostumando, e com a ajuda do seu superuniforme preto, passou a sentir-se mais confiante.
 
O pior momento foi levar um tapa na cara de um político. Foto: Nário Barbosa.
CUSTE O QUE CUSTAR
A vida de super-repórter nunca foi fácil. A coragem e, principalmente, a ‘cara de pau’ de Felipe estão sempre sendo colocadas à prova em reportagens inusitadas. Como na vez em que encontrou com o cantor Luciano, da dupla Zezé Di Camargo e Luciano, no aniversário de Ana Maria Braga. Felipe perguntou se ele não achava conflitante a apresentadora fazer receitas cheias de ingredientes caros enquanto a maioria da população não tem dinheiro para comprar nada daquilo e levou um passa-fora. “Ele ficou puto e falou um monte para mim. Fiquei com um sentimento que é o mesmo que eu sinto até hoje quando as pessoas são muito escrotas. Naquele dia o Luciano foi. Hoje ele é um doce. Me deu muita raiva, fiquei pensando: ‘Passei essa vergonha com esse cara; quem é o Luciano?’, mas engoli. Se tivesse acontecido hoje, eu teria uma resposta boa para ele.”
 
E essa não foi a situação mais difícil. A pior


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