De Olhos Abertos

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Raquel de Medeiros

Bruno é um dos mais conceituados entre os colunistas
Todo mundo passa por um momento na vida em que para e reflete: será que me tornei aquilo que sonhava? Cheguei aonde queria? E raros são os que têm a sensação de etapa cumprida. Aos 33 anos, o colunista social Bruno Astuto tem a sorte – ou garra suficiente – para dizer que foi além do que esperava. Com pouca idade, mas muitas histórias para contar – entre elas, a perda precoce da mãe, aos 4 anos, e do pai, aos 10 –, ele não se acomodou com o que a vida lhe ofertou, sonhou bem alto, pegou seus limões e os transformou em uma saborosa limonada, com direito a temporadas em Paris para respirar a Rive Gauche francesa, convites para as festas mais cobiçadas do planeta e carta branca para escrever o que bem entender na coluna social que assina em uma das revistas mais renomadas do País. “Ainda tenho de aprender muito, estou muito cru”, diz, apesar de já ser autor de um livro sobre a vida da rainha francesa Catarina de Médici e falar fluentemente seis idiomas, entre eles alemão, italiano e o preferido francês. Très bien!
 
Embora seja formado em Direito, Bruno sempre ganhou a vida lecionando. Aos 13 anos já dava aulas particulares do idioma que mais gosta. “Meus pais eram professores, mas eles morreram quando eu era muito pequeno. Fui morar com minha tia, irmã do meu pai. Estudei como bolsista do colégio São Bento, no Rio. Tirava notas ótimas e precisava fazer minha vida, então comecei a dar aulas.” No final, ensinava um pouco de tudo: inglês, francês, italiano, espanhol, matemática, preparava crianças para estudarem fora e também ajudava as que vinham aprender no Brasil. 
 
A partir dos 18 anos, tudo o que ganhava durante o ano juntava para passar temporadas na França. E o hábito se estende até hoje. É ali que se sente em casa. “Meu lugar preferido é a Igreja da Medalha Milagrosa. Conheço as freiras pelo nome, faço uma festa e elas ficam meio assim, porque freiras não podem ser tão bagunceiras, né?”, conta aos risos.
Entre ciaos, guten tags e au revoirs, as aulas fizeram com que o então professor circulasse pela elite carioca. “Muitas das minhas alunas eram da alta sociedade e eu acabava tendo muito contato com as mães, ficando muito amigo delas.” Em uma dessas surpresas da vida, surgiu o convite para encabeçar a coluna social do jornal carioca O Dia. Estava dado o primeiro passo da carreira de um dos mais conceituados críticos da high society na atualidade. 
 
SOCIEDADE REINVENTADA
Bruno começou a carreira em época nada alvissareira a colunistas sociais. “O Lula tinha acabado de assumir. Então, pegava mal. O negócio era o povão mesmo”, diz bem-humorado. O colunismo social no Rio de Janeiro estava meio às traças quando ele apareceu, anacrônico, ávido por entender qual era a nova elite, que começava a prenunciar mudanças. Descobriu que ela hoje abarca a alta sociedade tradicional e o novo jet set, formado por celebridades e indivíduos com perfis marcantes. “Pessoas que fazem o mundo borbulhar”, define.
Para Bruno, a sociedade em geral está passando por uma inversão de valores. “Os ricos querem parecer pobres e os pobres querem parecer ricos. Os ricos de verdade, que têm dinheiro pesado, você nem acredita que sejam milionários, é um absurdo, você não dá nada pela pessoa.”
Essa sociedade reinventada, na opinião de Bruno, traz frescor ao colunismo social brasileiro. “Imagina o que devia ser a vida de um colunista nos anos 1970? Eu acho que seria a pessoa mais aborrecida do mundo. Era algo como ‘A Mimi deu jantar para a Cocó e no dia seguinte a Cocó deu jantar para a Mimi’. Na (revista) Época, tenho toda liberdade do mundo: já entrevistei travesti, o ator pornô que namorou Marc Jacobs, e sempre penso ‘agora vou ser demitido’ (risos).”
 
CHOQUE DE CLASSES
Em um país de ricos emergentes, ostentar parece um tanto quanto irresistível. Pais dão carros caros aos filhos que, sem orientação suficiente, não usufruem o bem de maneira correta, causando evidente choque entre os dois Brasis que coexistem ao longo dos 8.514.876 quilômetros quadrados de extensão territorial, e também colocando em risco a vida de outras pessoas. Um exemplo é o filho do empresário Eike Batista, que atropelou e matou um homem há algumas semanas. 
Por mais que pareça contraditório, a ostentação dos ricos incomoda e é tema das crônicas escritas por Bruno. “Esse negócio de joias ou carro mais caro serve para quê? Qual o sentido dessa ostentação? Dizer ‘cheguei lá’?”.
Para o colunista social, o tom da nova alta classe brasileira deveria ser o da naturalidade. “O bonito do Brasil é, por exemplo, no Rio de Janeiro, as mulheres passeando com o vestidinho de algodão. Isso é leve, bonito e bem brasileiro.”
Para Bruno, escrever crônicas é forma de se fazer presente, transformar consciências e ajudar a contar a história e momentos importantes do País para gerações futuras. “Leio Zózimo, Ibrahim e Danuza, minhas grandes referências. Tento pegar uma antena do que a sociedade está pensando e botar o dedo na ferida. Às vezes, recebo um monte de e-mails acabando comigo, mas faz parte.”
 
O BRASIL E O MUNDO
Amante de Paris, Bruno não sabe bem descrever a diferença entre a alta sociedade francesa e a brasileira. Talvez porque seja quase impossível resumir o que é high society nos dias de hoje. “Eu não sei mais definir quem são. Nobres falidos? Os jovens artistas plásticos? Talvez sejam as pessoas mais vistas, mais familiares ao povo, não necessariamente que estejam na televisão. E não só os ricos. Alta sociedade não vem mais de alto padrão, mas de perfil alto, que grita.”
Os artistas plásticos, por exemplo, são nova casta na opinião de Bruno. “Beatriz Milhazes, Vik Muniz, Adriana Varejão... Eles entram em uma sala e todo mundo treme, porque são brilhantes. Levam o nome do Brasil para fora. Isso é que é alta sociedade: pessoas que se diferenciam pelo que contribuem. E a partir do momento em que se democratiza esse conceito, fica muito melhor, porque podemos prestar atenção em mais gente ainda.”
 


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