O bem feito

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Raquel de Medeiros

É fato que a maioria dos brasileiros parece não ter noção da responsabilidade que lhes compete em relação ao meio ambiente. Embalagens de produtos e bitucas de cigarro são arremessadas pelas janelas dos carros; o desperdício de água é visto com complacência e políticos priorizam os próprios benefícios em detrimento do meio ambiente, comprometendo o bem-estar de toda uma população. Nestes tempos em que a ignorância e a necessidade de tomada de decisões por parte do poder público se esbarram, chamam atenção as iniciativas de alguns cidadãos que fazem o seu trabalho de formiguinha a favor de um mundo melhor para todos.
 
Lucas Buarim é proprietário de uma temakeria sustentável
COMIDA COM CONSCIÊNCIA
 
Lucas Dudalski Buarim, 30 anos, de São Caetano, passou a se preocupar com sustentabilidade por uma questão de trabalho. Observador, o sócio dele, que é DJ, sentiu falta de lugares para fazer uma refeição durante a madrugada. “Não tinha onde comer. Além disso, é cansativo ter de pegar o carro para ir a outro local, achar vaga ou estacionamento. Pensamos, então, em uma forma de atender a esse público.”
Para que pudessem ficar o mais perto possível das saídas das casas noturnas, a ideia foi construir uma temakeria móvel. “E ela precisava ser sustentável, porque nem todo ponto possui tomada de energia para geladeira. Estudei bastante uma forma de poder trabalhar sem depender de recursos externos.” 
 
A solução foi adaptar duas placas solares à van. As duas televisões e o refrigerador industrial funcionam por energia solar. “Posso trabalhar três dias  direto sem outras formas de energia.” E assim os proprietários começaram a ampliar seu conceito de sustentabilidade aplicado ao negócio. Todas as lâmpadas são de LED, para economizar energia. O rádio é ligado na bateria. As mantas que revestem a van são de material reciclável. O salmão usado nos pratos não é oriundo de pesca predatória e até os cartões são produzidos com material reciclado.
 
A próxima meta é conseguir captar água de chuva. As iniciativas despertam a curiosidade de quem frequenta o lugar e ajudam a espalhar boas ideias por aí. “Tem gente que conhece a temakeria e quer montar teto solar em casa. É legal conscientizar as pessoas. Estou até montando um informativo sobre sustentabilidade e reciclagem.”
 
COTIDIANO VERDE
 
Sandro Nicodemo, 31 anos, cursou Tecnologia Ambiental no Senai a partir de 2001. Na época, fazia o mínimo a favor do meio ambiente, como não jogar lixo no chão. Depois que começou a estudar, participou de uma ONG que o incentivou a realizar limpeza na Represa Billings. “Quando você começa a conhecer, passa a ser influenciado.”
Hoje, separar lixo orgânico do seco tornou-se rotina na sua casa, em Santo André. Para aprimorar os cuidados com o meio ambiente, ele fez um minhocário para reaproveitar também o material orgânico. “É uma composteira onde se colocam as cascas das frutas, restos de legumes e verduras, e as minhocas transformam tudo em adubo.”
 
Assim como Lucas, Sandro tem projeto de construir um captador de água de chuva em casa, para regar plantas e lavar o quintal. E o contato com a família faz com que todos participem. “A minha sogra faz artesanato com caco de azulejo. Vê estruturas de metal jogadas no lixo e transforma a peça em algo diferente, que depois coloca para vender.”
Em festas de aniversário, ninguém usa utensílios descartáveis. “A gente não compra nada de plástico. Vale a pena, porque não gera mais resíduos sólidos.” Se dá trabalho? Dá um pouco, sim, mas ninguém se incomoda, já que o bem gerado pelas pequenas ações é muito maior e recompensador. “A gente vai lavando a louça enquanto conversa e nem percebe.”
 

Edgard deixa a preguiça de lado e prefere andar de bike
DE BIKE HÁ 20 ANOS
 
Todos os sábados, Edgard Gilgio Moreno, 62 anos, sai de sua casa em Santo André e segue de magrela até o Parque da Água Branca, em São Paulo, para comprar verduras e legumes livres de agrotóxicos. São cerca de 30 quilômetros que ele vence, sem preguiça, de bike e transporte público. “É bom, porque aos fins de semana dá para colocar a bicicleta nos vagões do trem e do metrô. Fica mais fácil.” 
 
O engenheiro mecânico faz isso pelo meio ambiente há cerca de 20 anos. Aprendeu a respeitar a natureza em um grupo de escoteiros. “Um dos lemas é que o escoteiro é amigo dos animais e das plantas. Então, me preocupava com água, resíduos, compostagem.” Edgard acha tão importante não ser passivo que participa de fóruns sociais, seminários e congressos sobre meio ambiente, e dá palestras em faculdades, escolas e sindicatos.
No dia a dia, além de usar a bicicleta para ir à maioria dos lugares, Edgard utiliza sacolas recicláveis para compras há um ano e meio; separa o lixo de casa; reaproveita o material orgânico através da compostagem; reveste as lixeiras com saquinhos de jornal que ele próprio produz e ainda transforma restos de madeira de demolição em móveis novinhos para vender. “Faço bancos, baús, camas, o que você quiser eu faço. Sou designer de sustentabilidade.” 

 
 
 
DESDE PEQUENA
 
Agnes Franco, 32 anos, é jornalista e atriz. A preocupação com temas ligados à preservação ambiental surgiu quando ainda era pequena. “Lembro que, quando criança, aos 5 anos, vi


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