Juliana cravo e canela

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Miriam Gimenes

Estevam Avellar/TV Globo/Divulgação
A atriz usou o 'kit sujeira' para interpretar Gabriela

“Foi quando surgiu outra mulher, vestida de trapos miseráveis, coberta de tamanha sujeira que era impossível ver-lhe as feições e dar-lhe idade, os cabelos desgrenhados, imundos de pó, os pés descalços.” Essa foi a impressão que o sírio Nacib teve na primeira vez em que colocou os olhos sobre a retirante Gabriela, por quem nutriria forte paixão tempos depois. A cena-clímax da obra-prima de Jorge Amado, Gabriela, Cravo e Canela, poderá ser vista no remake que terá início dia 19, às 23h, na Rede Globo. A data marcará não só a volta da atriz Juliana Paes ao papel de protagonista de um folhetim como também desmistificará a sua imagem de beleza impecável. Difícil é imaginar Nacib (inter pretado por Humberto Martins) expressando as opiniões originais do livro ao deparar-se com a musa, que já foi eleita uma das 100 personalidades mais sensuais do mundo pela revista norte-americana People.

Mas Juliana tem se esforçado. Ainda que a comparação com a primeira intérprete da personagem – a emblemática Sônia Braga – seja inevitável, a atriz carioca tomou este como um dos principais papéis de sua carreira. Para não decepcionar os fãs do autor baiano nem os milhares de telespectadores, encara com naturalidade a feição sertaneja de Gabriela e não se intimida com a necessidade de caracterizar-se fielmente. Uma de suas ‘armas’ tem sido o kit-sujeira – assim por ela apelidado –, composto por pós que reproduzem colorações e texturas de areia, lama e poeira. Munida desses artifícios, certamente arrancará não só de Humberto como de quem estiver assistindo os mesmos pensamentos do Nacib criado por Jorge Amado.

De início, a própria atriz titubeou quanto ao sucesso deste diferenciado trabalho. Foi criticada por interpretar uma adolescente aos 33 de idade. Chegou a se perguntar se ‘já havia passado do ponto’ para assumir tamanha responsabilidade. O conflito foi estancado com um bilhete da própria Sônia Braga, que a fez esquecer de qualquer comentário maldoso em relação à sua capacidade. A veterana disse de maneira carinhosa para a atriz que não poderia haver escolha melhor para ressuscitar Gabriela. Juliana respirou aliviada.

Mauro Alencar, doutor em teledramaturgia brasileira e responsável pelo workshop sobre a obra de Jorge Amado para o elenco, diz que a crítica é antiga na arte dramática. Soma-se a isso o fato de ser um programa de televisão, que tem alcance tão amplo. Para exemplificar, lembra de situação semelhante ocorrida com a atriz Norma Blum em 1975, quando foi escolhida para interpretar Aurélia Camargo (do romance Senhora, de José de Alencar) em novela homônima. Diziam que era velha demais para a personagem, mas ela apresentou trabalho fascinante e a novela teve grande audiência. “Em primeiro lugar, há de se observar o talento da intérprete e, depois, o espectador deve entregar-se a todas as virtualidades da grande obra de arte”, aconselha Mauro.

Juliana tem a mesma percepção e parece ter encontrado agora a leveza que a ajudou a administrar o desafio, inclusive em relação ao visual da personagem. Não se preocupa, portanto, em aparecer descabelada, suja, com dentes amarelados e unhas que denotam que há tempos não são tocadas por uma manicure. “Este (visual) ‘feio’ tem a ver com a caminhada muito desgastante do início da personagem. Mas calma, gente, ela não vai ficar suja o tempo todo”, alerta a musa, que por mais que se entregue às caracterizações, continua a sustentar beleza estonteante. “Faço votos de que Juliana mantenha acesa a chama de diva contemporânea que acompanha a sua ascendente carreira de atriz, ainda mais levando adiante uma personagem mítica como Gabriela, agora recontada sob a luz do século 21”, suplica Mauro Alencar. Amém.

TV Globo/Divulgação
Personagem da série As Brasileiras

DE COADJUVANTE A PROTAGONISTA
Os noveleiros de plantão certamente irão lembrar: o papel que fez o Brasil conhecer Juliana Paes não tinha nada demais. Era aquela velha história da empregada (Ritinha) que era assediada pelo patrão – no caso, Danilo, interpretado por Alexandre Borges. Só que de simples coadjuvante em Laços de Família, há exatos 12 anos, em pouco tempo a atriz revelou ser muito mais que um corpo esculpido à brasileira, que servia apenas para desfilar em passarelas e estampar fotos publicitárias. Além de curvas, ela mostrou que tinha talento.

Tanto que os papéis subsequentes foram meteóricos. No ano seguinte de sua estreia na TV, a atriz interpretou Karla em O Clone, também no horário nobre, e em seguida a divertida Jaqueline Joy – que hoje seria chamada de periguete – em Celebridades (2003). Passou a ser a queridinha dos autores e ganhou de Glória Perez a sua primeira protagonista: Maya, de Caminho das Índias. “Ela liderou o elenco de uma vitoriosa novela, contribuindo de maneira decisiva para a conquista do Emmy (prêmio internacional de melhor novela) em 2009”, lembra Mauro.
Paralelamente ao histórico artístico, Juliana passou a ser admirada tanto por homens quanto por mulheres. Virou ícone fashion e fez campanha de várias grifes – Hope e Arezzo são algumas delas. Mesmo assim, diz que não se deixa contaminar pela glamorização que existe no meio artístico. “Todo mundo é igual. Não existe afetação quando se está com a família ou quando se acorda descabelado. Toda afetação dos artistas é tipo. Quando a gente chega em casa, tira a roupa e toma banho, é tudo a mesma coisa.” Está aí o ponto que mais a aproxima da personalidade de Gabriela: o apreço pela simplicidade.

Tanto que ela não se incomodou quando, durante as gravações, uma imagem sua ao natural circulou pela internet. A foto foi tirada no dia de seu aniversário, em um botequim na cidade de Raimundo Nonato, no Piauí, e publicada em um blog local. “Fico surpresa das pessoas acharem que a gente não pode ser assim. Por que o artista não pode ser simples? Também sei ficar de pé sujo no chão e tenho muito orgulho disso. Nunca pensei que a foto ia ser t&ati



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