Ave Julio

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Miriam Gimenes

O ator Julio Rocha fez especialização nos Estados Unidos

Os imperadores romanos tinham plena convicção de serem deuses e até exigiam de seus súditos que fossem tratados como tais. A plebe não só lhes obedecia como usava a palavra ‘ave’ para saudá-los toda vez que apareciam em público – vide o termo ‘ave César’, dedicado ao soberano Julio César. O ator Julio Rocha, 32, é xará do imperador, mas não precisou fazer essa exigência para arrancar da mulherada a mesma reverência, principalmente depois que apareceu de cuecas nos últimos capítulos da novela Fina Estampa. As cenas do personagem Enzo garantiram picos de audiência à emissora – 49 pontos –, rendendo ao jovem ator o título de símbolo sexual. E, graças aos deuses, não demorou muito para voltar à telinha, causando novo alvoroço com seu gingado no quadro Dança dos Famosos, do Domingão do Faustão.

Mas quem tem a oportunidade de conhecer Julio pessoalmente logo nota que sua personalidade vai além de um corpo esculpido em músculos. Em uma sociedade que supervaloriza a imagem, a beleza chama atenção e abre portas. Na sua visão, no entanto, é preciso oferecer muito mais do que isso para galgar espaço, inclusive profissional. “Cada pessoa tem seu perfil e dentro de cada uma há algo que a torna única. O meu físico não ajuda nem atrapalha. Só o emprestei para mais uma alma, criei para o personagem e assim contei uma história”, analisa.

Para solidificar seu argumento, Julio diz que suas capacidades como ator são variadas. Estudou muito para adquirir conteúdo, formou-se em Artes Cênicas, fez cursos – inclusive na New York Film Academy, nos Estados Unidos – e, por isso, consegue ser exigido ao máximo em seus papéis. “Que bom que neste momento da minha vida o corpo tem sido algo que agrega no meu trabalho. Imagina quando descobrirem outras possibilidades que tenho como ator”, desafia. O próprio papel de Enzo em Fina Estampa começou acanhado para depois crescer ao longo da trama, impulsionado pelo improvável romance com a médica Danielle, interpretada por Renata Sorrah.

Para Julio, o reconhecimento, inclusive do público, foi uma conquista inenarrável. Durante a sessão de fotos desta reportagem, em Santana de Parnaíba, inúmeras pessoas – a maioria, é claro, mulheres – se juntaram em torno do ator para posar ao lado do novo galã. É a colheita dos frutos de uma decisão tomada pelo rapaz aos 15 anos, quando participou de uma peça na escola e descobriu o talento para a interpretação. Desde então, não parou de exercitá-lo. “Julio apresentou a peça no fim do ano e cerca de 350 pessoas o aplaudiram de pé. Aquilo assustou um pouco, mas ele descobriu que realmente gostava de atuar”, lembra o pai, Eduardo Porto, engenheiro aposentado que dedica seus dias a acompanhar o filho nos compromissos profissionais.

E aí reside o segredo de Julio: no seguro porto familiar. Além de ter dividido com Enzo o seu corpo malhado, o ator também compartilhou com o personagem o companheirismo que tem com seu pai. “O Pereirinha (José Mayer) era o ídolo dele. Tenho isso em comum, porque meu pai é meu ídolo”, derrete-se.
Julio também se identifica com a entrega do personagem para o amor. Sim, mulheres, ele é tão romântico quanto o bonitão de Fina Estampa. “Quando o Enzo fez a campanha de cueca, ficou constrangido, mas achava que tinha de fazer aquilo para conseguir grana e ajudar a Danielle. Acredito no amor e, se estivesse apaixonado como ele, também seria capaz de fazer qualquer coisa para ajudar a pessoa. Qualquer coisa do bem, óbvio.” Ave, Julio!

CONQUISTA DO MUNDO
É fato que Julio já conquistou a plateia feminina nacional. Estreou nas telinhas na novela Louca Paixão (1999), da Rercord, e em 2001 foi contratado pela Globo para ser o Luciano de Porto dos Milagres. Integrou o elenco de outros seriados e folhetins da emissora, mas passou a ser mais reconhecido pelo público com a novela Duas Caras (2007), na pele do sensual motorista JB. Foi nessa época que sentiu o que é estrelar em um papel de destaque. Durante um fim de semana, decidiu ir a Santana de Parnaíba para conferir a festa da cidade e teve de ser acolhido por uma moradora, junto com sua família, tamanho o tumulto que provocou. “Ela nos salvou. Eu não imaginava que causaria isso tudo”, lembra o ator.

O mesmo furor foi sentido com Enzo. Imagine, então, se concretizasse o sonho de ganhar um Oscar. Questionado sobre se tentaria carreira internacional, já que tem familiaridade com a atuação nos Estados Unidos, Julio não titubeia: “O máximo para um ator é ganhar o Oscar. Não com uma carreira internacional, mas com a globalização, que deixa tudo mais fácil. Se eu já chego através da Globo Internacional para mais de 100 países, por que não com um filme? Seria limitador e castrador dizer que não sonho com isso.” Afinal, não há limites para quem se dedica a um ideal. Hollywood é logo ali.

OPORTUNIDADES
Julio ainda colhe os louros da novela. Desde que estrelou no horário nobre da telinha, o rapaz é constantemente convidado para desfiles de moda e se diz feliz por figurar entre os favoritos da Dança dos Famosos. No dia do anúncio dos participantes no mês passado, por exemplo, o seu nome ficou entre os trending topics (assuntos mais comentados) do Twitter. “Sinto a magia do sucesso de Fina Estampa através do carinho do público e do apoio que recebo mesmo após o término dela.” Para ele, a notoriedade do quadro dominical equivale à de uma novela das 21h. “Não importa se vou ganhar. Farei o melhor que posso”, diz o ator, que já arriscou passos em aulas de hip hop.
Em paralelo, Julio procura patrocínio para a peça Estrelando Você, escrita em parceria com o repórter do programa CQC, da Band, Maurício Meirelles. E revela certa veia cômica. “Busco essa ampliação de todos os meus recursos como ator. E se o humor está dentro disso, por que não usá-lo?” O pano de fundo da história é a motivação para que as pessoas acreditem nos seus sonhos, mas o roteiro também faz críticas sociais ao abordar temas como desmatamento, preconceito e violência.

Em alguns momentos da peça, o ator pretende também fazer brincadeiras em relação à fama. Uma realidade para quem, como Julio, ganha o status de celebridade. “Ela (fama) pode ser duas coisas: um cafuné gostoso que conforta, faz você se sentir orgulhoso e agraciado, ou um veneno. Se voc&eci



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