Décadas de ‘pedaladas’ e adrenalina

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Angelo Verotti

Fittipaldi representa o que há de mais refinado nas pistas
“Homem é que nem bicicleta. Se parar de pedalar, cai.” A frase é uma das que melhor definem alguém que por 65 anos não parou de pedalar e tem a velocidade latente nas veias. Seja ao controle de moto, kart ou, principalmente, carro de corrida, Emerson Fittipaldi sempre teve como objetivo andar ao máximo. E é sinônimo de potência. Representou e representa para o Brasil e para o esporte mundial o que há de mais refinado nas pistas. O jeito sereno, a fala mansa e o sorriso maroto parecem contrastar com o precursor do automobilismo nacional, que tem cravados no currículo - entre outras conquistas - dois títulos na Fórmula 1 (1972 e 1974), outro na Indy (1989) e duas vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis (1989 e 1993), a prova mais tradicional do planeta. 
 
Puxar o freio de mão é ideia que não passa na mente deste paulistano, de pai nascido em Santo André. Emerson expande os horizontes (é empresário, promotor de corrida, garoto-propaganda, entre outras atribuições), curte os primeiros passos do neto Pietro no automobilismo e vislumbra sucesso dos pilotos brasileiros nas pistas pelo mundo afora, especialmente nas da Fórmula 1, onde o País se mostra órfão desde a morte do tricampeão Ayrton Senna, em 1994. Mais do que isso, aposta na força do brasileiro e assegura que o jejum de títulos na categoria chegará ao fim em futuro não tão distante. Só pede paciência aos fãs da velocidade.
 
“Ganhei o primeiro campeonato, o segundo... Aí apareceu o Nelson (Piquet), ganhou três (1981, 1983 e 1987), e o Ayrton (Senna) outros três (1988, 1990 e 1991). O Brasil ficou mal acostumado”, destaca Emmo, como é conhecido nos Estados Unidos. “Foram muitos títulos em pouco tempo. Agora, os brasileiros veem esse longo jejum (20 anos) e ficam insatisfeitos. Ao menos os jornalistas têm mais tranquilidade para entender a situação, o que não acontecia na minha época, quando éramos muito cobrados até pelo recente sucesso.”
Nem mesmo a transferência de Rubens Barrichello para a Fórmula Indy e a fraca temporada de Felipe Massa na Fórmula 1 (é apenas o 17º colocado na classificação, com dois pontos) fazem com que Rato – alcunha recebida no Brasil, ainda nos tempos de kart - perca a esperança de ver novamente o País no lugar mais alto do pódio.  “O Rubinho fez carreira espetacular em grandes equipes. Pegou uma época com a presença do (Michael) Schumacher (heptacampeão mundial). Teve companheiros complicados, mas possui muito talento”, afirma. “Se você analisar o currículo dele, vai ver que andou muito bem. Foi vice-campeão mundial por duas vezes (2002 e 2004).”
Massa, por sua vez, vive momento em que os pneus da Pirelli dão desgaste maior. “O estilo dele é muito agressivo no acelerador e, desde que a Pirelli entrou (na Fórmula 1), quem consegue administrar mais os pneus é aquele que chega até o fim. Em ótima posição”, explica Emerson, ressaltando que a Ferrari não tem o melhor carro, mas possui equipe com potencial e histórico. “Infelizmente, ainda está fazendo os acertos neste ano. O problema é que o estilo do Felipe não se adapta nem com o pneu Pirelli nem com a nova Ferrari. Mas quando acertar ele vai andar muito bem.”
 
Além de Massa e Barrichello, Bruno Senna é outro que não escapa do crivo do bicampeão. O sobrinho de Ayrton estreou na Fórmula 1 no ano passado pela Lotus e, nesta temporada, defende a Williams. “Acho que o Bruno está em equipe boa, com estrutura e organização, mas não sei se o carro é muito bom. Ao mesmo tempo, ele mostra-se rápido e me impressionou no Grande Prêmio Brasil do ano passado, quando se classificou em oitavo com carro que não era legal. Foi com faca na boca aquela classificação. E com o sobrenome (Senna) que tem, assim como o Pietro (Fittipaldi), é muita responsabilidade. Mas ele consegue levar isso”, salienta o compatriota. 
 
O pai de Vittoria, Emerson, Juliana, Jayson, Tatiana, Joana e Luca – frutos dos casamentos com Rossana, Maria Helena e Teresa – chama atenção para o talento de dois brasilienses: Felipe Nasr, 19 anos, e Felipe Guimarães, 20, vistos por ele como promessas. "São dois pilotos muito rápidos que, chegando à Fórmula 1, vão andar bem. Estão em divisão de acesso para a categoria, o que não é fácil porque tem gente do mundo inteiro”, diz Emerson. Nasr foi campeão da Fórmula 3 em 2011, enquanto que Guimarães vive a expectativa de disputar a GP3 nesta temporada.
 
Mas é o neto Pietro quem deixa Emmo com os olhos marejados. Aos 15 anos, o jovem se tornou, em setembro, o primeiro latino-americano a assegurar o caneco na Nascar, nos Estados Unidos, pela categoria Limited Late Model. “Há três anos, ele disse: ‘Vovô quero correr na Nascar’. Liguei para o presidente da categoria (Mike Helton), falei que o meu neto estava com 13 anos e perguntei que programa existia para o Pietro. Ele falou: ‘Pode correr com 14’. Questionei qual era o tipo de carro. ‘É o da Nascar’, respondeu. Fiquei atônito e quis saber: ‘Mas como com 14 anos?’ Ele rebateu: ‘Émerson, não se preocupe. Tem muito menos potência, só 500 cavalos (rs)’”,  recorda o brasileiro, ao ironizar a alta potência do carro. “Então, foi o caminho que o Pietro seguiu e está indo bem. Até chegar ao topo da Nascar o caminho é longo. Mas o objetivo nosso é que com 18 anos, 19, ele consiga alcançar a categoria principal.”
 
Apesar de ter conquistado dois mundiais na Fórmula 1 e de salientar o glamour da categoria, Rato assume certa preferência pela Indy.  “Foram épocas diferentes, mas eu me divertia mais na Indy. Dentro e fora do cockpit. O norte-americano respeita a integridade do esporte muito mais do que nós, da América Latina, e do que o europeu. Difícil traduzir isso. Não há influência política ou qualquer outro tipo de pressão. Os Estados Unidos são muito abertos. Você está lá para se divertir como atleta, como esportista, e fui muito bem recebido pelo público norte-americano, apesar de ser brasileiro. Tratavam-me como se fosse norte-americano...Muito legal.” 
 
MELHOR PILOTO BRASILEIRO
 
Emerson é um gentleman e, como tal, prefere destacar as características de cada um ao ser questionad


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