Contra o Tempo

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Raquel de Medeiros

Roberta Piza tem como prioridade o jornalismo

Ela tem pilha que nunca acaba. Aos 30 anos, Roberta Piza esbanja energia: acorda antes do sol nascer e mantém o sorriso contagiante e os olhos brilhando durante todo o dia, numa relação apaixonada com o jornalismo. Não desanima sequer diante da rotina, que inclui pouco tempo com a família. “Se não valesse a pena, eu já teria desistido.”

O cotidiano é pesado. A apresentadora do matutino Fala Brasil, que divide a bancada com Carla Cecato, acorda ainda de madrugada, pega a primeira roupa que vê no armário e corre para a Record. O segundo passo é gravar chamadas em vídeo a outros Estados para depois se familiarizar com o roteiro do dia, participar do fechamento, gravar offs e, principalmente, informar-se. Para tanto, navega na internet e devora os jornais que chegam por volta das 7h na Redação.

Ela não perde nem um minuto. Leva as publicações para o camarim, para continuar lendo as principais notícias do dia enquanto faz cabelo e maquiagem. “O apresentador que não estiver informado, não tiver conteúdo, não consegue se desenvolver. Deixo comigo até um tablet ou celular com internet na bancada para apurar os fatos entre um intervalo e outro.”

Em meio às leituras, Roberta ajuda a maquiadora nos retoques finais. “Adoro fazer isso. O time de profissionais é muito bom, mas eles sabem que, como eu gosto bastante, vivo me intrometendo.”

Bem realista, a jornalista – que tem como nova incumbência a cobertura da Olimpíada de Londres – não reclama do fardo pesado. Afinal, foi ela quem escolheu carregá-lo. “É a minha profissão e foi o que eu escolhi. Já sabia das dificuldades e que a rotina não seria normal em relação às outras pessoas. Não fico feliz de acordar às 4h ou de trabalhar nos fins de semana e feriados, mas tenho de encarar e lidar com isso.”

PAIXÃO PELO ESPORTE

A jornalista tem intensa relação com o esporte. Mesmo em frente à bancada de um jornal diário na Record, ela ainda encontra tempo para estar perto daquilo que gosta, nem que seja por um instante, à frente do Minuto Olímpico, quadro em que apresenta momentos históricos e outras notícias esportivas na Rede Record.

O gosto nasceu por influência da família. “Sou a única entre dois irmãos e quatro primos. Evidentemente, o controle da televisão nunca foi meu e as escolhas e brincadeiras também não eram minhas. Ou assistia ao futebol e à NBA na televisão, ou não via nada. Ou brincava de futebol, ou ficava sozinha.”

A família não costumava entender, no entanto, a admiração daquela menina franzina por atividades tão masculinas. As bonecas ficavam todas de escanteio para dar espaço ao futebol. “Não queria saber de boneca. Minha mãe até ficava preocupada, mas não tinha jeito. Ou era futebol de botão ou na quadra”. Fato que não alterou em nada a delicadeza de Roberta, que tem beleza irretocável – cabelos perfeitamente escovados, rosto fino, nariz bem feito e postura extremamente feminina.

Depois de treinar futebol por mais de cinco anos na escola – dos 12 aos 17 –, hoje o esporte ficou só na ponta da língua. “Não gosto de academia. De vez em quando faço uma caminhadinha e mais nada.” Se pudesse, Roberta certamente renderia-se à bola, mas não consegue conciliar os horários com a acirrada agenda.

Uma das coberturas mais marcantes foi quando viajou para St. Martin de Los Andes, na Argentina, para cobrir o campeonato brasileiro de snowboard. “Foi muito interessante: as regras, o convívio com a montanha, esse ambiente de neve e equipamentos de inverno. Não estava acostumada. Aprendi muita coisa boa.”

Preconceito não é palavra que conste no vocabulário de Roberta. Para ela, a fase de mulher longe dos gramados já passou. Mas assume sentir um pouco de timidez em meio a ambiente tão masculino. “Quando você vai cobrir, como quando fiz Guarani X Ponte Preta, em Campinas, é um ambiente masculino e você fica um pouco mais retraída, é natural. Todos jogadores são homens e você tem de entrevistá-los. Mas nunca ouvi algo como ‘ela não sabe o que está falando’ ou ‘não vou dar entrevista porque ela é mulher’.”

Apresentadora está a frente de um dos maiores jornais 

MÚSICA PARA EQUILIBRAR

Para fazer jornalismo, você tem de gostar de pessoas, do ser humano; gostar de ouvir e contar boas histórias. Infelizmente, nos últimos tempos muitas delas têm sido ruins. Aprender a lidar com tragédias sem se envolver emocionalmente é tarefa difícil para Roberta. 

Uma situação que não consegue esquecer foi quando teve de dar notícia ao vivo sobre o massacre em Realengo, no Rio de Janeiro. Um jovem entrou atirando em uma escola e matou 12 estudantes. “Estava no meio do jornal, num dia aparentemente tranquilo, e de repente meu chefe avisou que estávamos mandando repórter para o Rio porque havia muitas crianças mortas. É difícil porque você tem de saber separar as coisas e não pode se desesperar porque está apresentando.” E essa foi apenas uma das várias coberturas difíceis feitas pela jornalista. “Há dias em que saio do jornal achando que um caminhão passou por cima de mim.”

A válvula de escape é o piano. Apaixonada por música, usa o instrumento que tem no apartamento em São Paulo para acalmar a tensão do cotidiano. “É meu hobby. Todos os dias eu toco um pouco. Se não estou no piano, estou no videogame tocando guitarra ou ouvindo música em algum canto da minha casa.” Ler livros e rezar também a ajudam a recuperar o equilíbrio. “Sem a espiritualidade fortalecida, é difícil encarar”.

Outra face de Roberta é o gosto pela literatura. Pós-graduada em jornalismo literário pela Faculdade Integrada Metropolitana de Campinas, ela tenta



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