Sexo sem Segredos

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Raquel de Medeiros

Ela fala de sexo sem ficar com as bochechas vermelhas. Com maestria, encara as perguntas mais inusitadas – e constrangedoras – na plateia do programa Altas Horas, apresentado por Serginho Groisman na Rede Globo, e no seu consultório em São Paulo. As respostas diretas surpreendem e nos fazem refletir: por que falar de sexo ainda é tão difícil?

Segundo a especialista, tudo é reflexo do que aprendemos no passado e tem a ver com o momento social, histórico, cultural e econômico da atualidade. A transformação, no entanto, ainda que lenta, começa a acontecer. “Já foi pior. No século 18, a masturbação era considerada errada. Há autores que diziam que as pessoas que praticavam enlouqueciam e morriam. Eu nunca vi ninguém morrer de masturbação”, diz aos risos.

Mas os resquícios de outros tempos permanecem. “Hoje, 30% das mulheres ainda acham feio, errado e sujo se masturbar”, diz Laura. Apesar de tanto mistério – e talvez por causa dele –, o tema sexo exerce fascínio entre homens e mulheres e é um dos mais procurados nos sites de busca, como o Google. “Sexo é um dos nossos principais prazeres, e de graça. Isso motiva, traz novo colorido para a vida. Só que ainda é tabu.”

Laura começou como jornalista e, durante a faculdade, jogou vôlei no clube São Caetano.  Foi editora de Cidades no jornal Folha de S.Paulo, cobriu casos policiais e só teve os primeiros contatos com a profissão atual depois que foi convidada para chefiar a editoria de sexo da revista Claudia, em 1997. Mas ela não nasceu tratando de forma confortável o assunto. A primeira entrevista foi tão difícil que não esqueceu mais. “Passei a falar de sexualidade com essa tranquilidade depois que comecei a estudar. Na minha primeira entrevista sobre sexo, morri de medo, não conseguia falar ‘pênis’, ‘vagina’. Dizia: ‘Ai, meu Deus, o que vão pensar de mim?’. Mas o profissional que entrevistei agiu com naturalidade e a partir dali percebi que com ela as coisas ficam mais fáceis.”

Pergunta difícil ela acha que não tem. As dúvidas são basicamente as mesmas. Enquanto o jovem se preocupa com iniciação sexual, gravidez precoce e doenças, o adulto foca nas dificuldades, como problemas de ereção, ejaculação precoce, orgasmo feminino, dor na penetração. Na terceira idade, os dilemas são oriundos do preconceito. ‘Será que estou velha demais para transar?’ é o principal questionamento. Mas a sexóloga explica que não existe idade para parar. Se o sexo continuar sendo um ato prazeroso para o casal maduro, é possível fazê-lo por toda a vida. “O nosso corpo tem envelhecimento natural. Ele pode ser saudável se aceitarmos a idade em que estamos e cuidarmos do físico e do emocional para viver a faixa etária da melhor forma possível”, orienta.

Laura Müller ensina a  falar de sexo naturalmente

MULHERES SEM PRAZER

A educação sexual para mulheres sempre foi mais repressora. Na época áurea das atuais avós, quem queria o rótulo de ‘moça de família’ não podia ter orgasmo ou demonstrar prazer. O mesmo não ocorria com os homens. Hoje, o público feminino tem direito ao orgasmo, mas a sexualidade ainda sofre limitações sociais. A consequência é a principal reclamação do clube da Luluzinha: dificuldade de sentir prazer.

Laura cita um contraponto: se a mulher ainda sofre preconceito, o homem não deixa de ter suas opressões e, de certa forma, também é pressionado a nunca negar fogo.

A sexóloga aconselha que cada um siga o próprio rumo, sem se apegar aos padrões. “Cada um tem um caminho. É preciso perguntar-se até aonde quer ir e ter consciência de que todo mundo falha porque é gente. Isso é natural. Não existem super-homens nem supermulheres.

EDUCAÇÃO AOS PEQUENOS

O mundo está mudando. Hoje, os filhos reivindicam o direito de levar a namorada ou namorado para dormir em casa. A decisão ainda é polêmica. Laura diz que deve prevalecer a vontade dos progenitores. “Quem manda na casa é o pai e a mãe. Se acham que não vão dar conta do filho ou da filha transarem em casa, então as regras deles devem ser respeitadas. O jovem precisa aprender desde cedo a ter limites.”

No papel de principais educadores da vida, são os pais que devem transmitir os primeiros ensinamentos sobre sexualidade aos filhos, dar orientações e ajudar os jovens a se tornarem homens e mulheres perante a sociedade. Outra parte da educação sexual deveria ser suprida pela escola, porém nem todas as instituições e educadores estão preparados para isso. “Talvez porque ainda haja dificuldade com esse assunto. É preciso capacitar professores”, observa a sexóloga.

APARANDO ARESTAS

Ao contrário do que se pensa, as dificuldades sexuais estão mais ligadas ao emocional do que a qualquer



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