Você está preparado para ter um melhor amigo?

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Raquel de Medeiros

A desapropriação da comunidade Pinheirinho, em São José dos Campos, atraiu os holofotes da mídia nacional no mês passado. Quase 7.000 pessoas que viviam na área invadida foram removidas. E muitas delas, levadas a abrigos da Prefeitura. O que quase ninguém percebeu é que cerca de 600 animais permaneceram abandonados ali, sem comida e, principalmente, sem dono.

Para tentar sanar o problema, algumas ONGs uniram forças e depararam-se com realidade ainda mais desoladora: a maioria dos bichos já vivia em condição de abandono antes da desocupação. “Apenas 20% tinham donos”, diz a voluntária Luli Sarraf, 35 anos. “Esses animais iam ficando por ali porque sabiam que havia comida e assim continuavam a se reproduzir nas ruas.”

Neste ciclo sem fim, todos têm culpa. Para evitar que a população de cães e gatos cresça desenfreadamente – e sem o mínimo cuidado –, é preciso apoio da sociedade no trato com os animais e também foco na esterilização. “Não castrar é uma falta de informação. E não é antinatural, porque esse animal não está na natureza, onde a expectativa de sobrevivência é menor e ele precisa se reproduzir com frequência”, diz Luli, que se envolveu com a ONG Natureza Em Forma quando sentiu que precisava “fazer a vida valer a pena”. Hoje a publicitária dá palestras e ajuda a conscientizar as pessoas sobre a importância de se cuidar dos animais de estimação.

A posse responsável é outro assunto cada vez mais discutido em escolas e comunidades. Bicho não é algo que se possa descartar diante da primeira adversidade. Portanto, antes de ceder ao apelo daqueles filhotes bonitinhos que fazem de tudo para chamar a atenção, é necessário refletir com seriedade. Será que se está preparado para ter um melhor amigo? Querer é uma coisa. Outra é ter condição de assegurar o bem-estar de um ser vivo – que não sabe se virar sozinho – por cerca de 15 anos.

Um cachorro de porte médio e pelagem curta consome cerca de R$ 200 a R$ 400 da renda mensal dos donos, contando consultas veterinárias e ração. E aí começam as perguntas. Você tem esse dinheiro disponível? Terá tempo, atenção e espaço para garantir o bem-estar físico e emocional do pet? Reflita sobre tudo antes de tomar a decisão. “O primeiro passo para ser um proprietário consciente é aceitar todas as responsabilidades e obrigações que devemos ter com os animais. Isso exige dedicação, respeito e investimento de recursos. Além disso, os bichos de estimação necessitam de assistência médica por toda a vida”, afirma o veterinário do Centro de Controle de Zoonoses de São Caetano, Fábio Bertola Agostini.

SUPERPOPULAÇÃO

Susan Yamamoto e Juliana Bussab cuidam de gatos

Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que há um cão para cada cinco habitantes das cidades. Cerca de 10% deles estão em estado de abandono. Ou seja, no Grande ABC, que soma 2,6 milhões de moradores, haveria cerca de 52 mil animais perambulando pelas ruas. Com falta de programas eficientes por parte do poder público, o serviço de recuperação sobra para voluntários que, após a maratona de um dia de trabalho, ainda encontram tempo para se dedicar aos animais.

Mariana Vidal, 29 anos, de Santo André, atua por conta própria. Descobriu o amor pelos bichos quando comprou um gato há cerca de dez anos. O mais inacreditável é que ela tinha pavor de animais antes do primeiro contato. “Quando via um cachorro próximo, atravessava a rua.” Mas ganhou um cãozinho e se apaixonou. A partir daí, não parou mais de ajudar. Começou a trazer para casa animais abandonados que encontrava pelo caminho e contagiou a família. Já chegou a tomar conta de 30 cães em um único mês. “Pego e levo ao veterinário, onde ele toma vacinas e é castrado. Depois, deixamos num lar para ficar com o pelo bonito e engordar um pouco até ser doado.”

As amigas ajudam pagando parte das vacinas, banho e medicamentos, além de dar lares provisórios aos bichos que Mariana encontra. A maior quantia, no entanto, sai do bolso da jornalista, que ainda divide o tempo entre a agência de comunicação e o trabalho voluntário que faz com o marido em prol da paz.

Para se candidatar à adoção de um dos cães ou gatos, é preciso preencher questionário de adoção responsável, mostrar comprovante de residência e documentos. Mariana marca uma visita para conhecer o novo proprietário e só então a adoção é concretizada. Tudo para assegurar que tenham finalmente encontrado um bom lar. “Sempre ligo para saber se estão bem. A gente se apega.”


FELINOS EM APUROS

Juliana Bussab e Susan Yamamoto, ambas de 35 anos, têm como missão salvar os gatos em situação de risco na cidade. Com a criação da ONG Adote um Gatinho, elas conseguiram encontrar lares para mais de 4.500 felinos em sete anos de trabalho.

Abriram um site e abrigavam de três a cinco gatos em casa. Agora, são 440 animais sob seus cuidados. Eles não ficam todos no mesmo lugar, mas espalhados nas casas de voluntárias e em clínicas. Os chamados por socorro não têm hora para chegar. Elas precisam estar conectadas 24 horas. “Não dá para desligar o celular, não é que nem escritório”, diz Juliana.

A dificuldade é o capital necessário para cuidar de tantos bichanos. Ajuda do governo elas não têm. “Com patrocínio, o futuro seria melhor. Se não conseguirmos apoio de governo ou de empresas, eu acho que não teremos como manter a ONG por muito tempo”, lamenta.

Independentemente disso, Juliana se orgulha por ter colaborado com o início de uma mudança social. Se antes a população de felinos sofria preconceito, hoje a aceitação por eles é maior. “Temos muito orgulho do que construímos. Mesmo quando não estiver mais aqui, vou ser lembrada como alguém que fez alguma diferença.”

CASTRAR PARA AJUDAR

Na Capital, o número de c



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