Agora é moda

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Raquel de Medeiros

Reprodução
Modelos de Coco Chanel valorizavam o preto básico

”Uma mulher precisa de apenas duas coisas na vida: um vestido preto e um homem que a ame”, já dizia a sábia estilista Coco Chanel. Seja pela praticidade ou pelo glamour, o preto sempre surge como tendência, principalmente nos meses mais frios do ano. O tradicional tubinho, bem cortado, é aposta certa de elegância e bom gosto: alonga a silhueta e combina com qualquer acessório. Deixá-lo com cara diferente é fácil. Basta apostar nos detalhes. “Misture-o com brilhos, couros ou acessórios de cores vibrantes”, sugere a stylist Márcia Jorge.

O preto surgiu como peça marcante em 1926, quando a revista Vogue publicou modelos de Coco Chanel. Antes disso, era usado somente para momentos de luto. O filme Bonequinha de Luxo, de 1961, ajudou a valorizar o tom. Com hábeis mãos e uma genialidade que era extravasada em chapéus, vestidos e alfaiataria, Coco deu a pitada de desejo que o longa-metragem exigia em figurino luxuoso. Aguçou o imaginário de homens e, principalmente, o das mulheres, que aderiram de vez à ideia tão simples e, ao mesmo tempo, revolucionária da estilista. O famoso pretinho básico estava imortalizado.

Meio século depois, a cor – ou ausência de cores, na visão newtoniana – continua a aparecer, sem substitutos à altura, reinando nas passarelas brasileiras. Da jovem Cavalera às mais tradicionais, como Glória Coelho e Reinaldo Lourenço, o preto apresentou-se novamente como tendência para o próximo inverno.

“É um clássico indispensável. Mesmo quando não aparece nas passarelas, não deixa de ser item importante, tanto em modelos básicos quanto nos mais elaborados”, opina o consultor de estilo Rodrigo Cezário.

Esconde e mostra
O trocadilho é verdadeiro: impossível não se render às rendas. Acredita-se que o tecido com orifícios padronizados originou-se na Bélgica e na Itália. Posteriormente, nos séculos 18 e 19, formaram-se centros de produção nas cidades de Valencienses e Chantilly, na França.

Até então, o uso das peças restringia-se às vestimentas do clero e da realeza, como mostra o filme A Jovem Rainha Vitória, do diretor Jean-Marc Vallée. A obra ganhou o Oscar de melhor figurino em 2010 graças ao talento da conceituada figurinista britânica Sandy Powell, que soube reconstruir com graça as peças do século 19. Por aqui, o troféu certamente iria para o novato R.Rosner, que mostrou na passarela surreais vestidos produzidos com fibras levíssimas e bordados. à mostra.

Herchcovitch também trouxe renda para saias e blusas, num jogo de leve e pesado. As sobreposições de delicadas rendas douradas deixaram vestidos e blusas extremamente femininos e sensuais, constituindo duas das peças favoritas do consultor de moda e apresentador do programa Tenha Estilo, do SBT, Arlindo Grund. “O vestido da Carol Trentini tinha transparência coberta pela própria transparência”, destaca.

Fause Haten aproveitou para bordar flores e retalhos de tecidos nas peças de sua coleção para cobrir seios e partes íntimas. A alternativa de Giulia Borges no Fashion Rio foi sobrepor vestidos translúcidos a outros coloridos, adaptando as transparências ao dia a dia.

“Para não ficar vulgar, deve-se pôr um top por baixo ou um sutiã bonito, sem que interfira na peça transparente. Quando você usa uma hot pant, pode colocar saia transparente por cima. Fica lindo, mas tem lugar certo para usar”, explica Márcio Banfi, que é professor de Moda da Faculdade Santa Marcelina.

A consultora de moda Helena Montanarini dá outra sugestão: “As rendas são versáteis. Também é interessante cobrí-las por cima, com blazers e acessórios.”

Mas será que vale a pena sair comprando tudo o que aparece nos desfiles? Para a stylist Márcia Jorge, não. A mulher tem de conhecer a própria personalidade para definir o que é mais adequado a ela. “Quem compra tudo o que vê na passarela não tem noção do seu estilo pessoal nem do que já possui no guarda-roupa. Os desfiles são fonte de inspiração, e não de escravização. Devemos extrair apenas o que combina com a gente e que ainda não temos no armário.”

Metalizados
O brilho dos tecidos metalizados é aposta para o inverno. O estilista André Lima abusou da tonalidade na coleção. Blazers, calças e vestidos inteiros foram produzidos com tecidos recortados e unidos, como num patchwork em dourado, cinza e cobre.
Túnicas e saias douradas chamaram atenção no desfile de Alexandre Herchcovitch. O metal surgiu em botões e zíperes, ponteiras e saltos de sapatos.

A consultora de moda Glória Kalil reparou na tendência logo nos primeiros dias de desfile da São Paulo Fashion Week. “Tem metal em tudo. Vi muita roupa dourada, prateada e couro com tonalidade metalizada.”

Veludo
O veludo que outrora era considerado fora de moda vem aos poucos entrando nos desfiles, principalmente no Exterior. Em 2010, as marcas italianas Versus, sob o comando de Donatella Versace, e Giorgio Armani trouxeram peças com o tecido. No ano passado, também foi bastante utilizado na semana fashion de Nova York por Alexander Wang, Donna Karan, Zac Posen, Elise Overland, Altuzarra, Carolina Herrera e Peter Jensen.

Por aqui, Huis Clos usou veludo elegante em tons de verde, bege e vinho para produzir vestidos e macaquinhos. “Estão vindo de maneira mais sofisticada. Porém, o macacão de veludo molhado capta luz. Se a mulher tem quadril largo, o ideal é cobri-lo para disfarçar”, diz Grund.

Couro e pele
O couro e as peles apareceram em peso nos últimos desfiles e incitaram a velha polêmica. Fause Haten, que sempre primou por postura politicamente correta, trouxe desta vez pele de raposa na coleção. A Colcci apostou em shorts e saias de couro – algumas chegavam quase até os pés.

Glória Coelho sugeriu casacos de couro com cintura bem marcada como ponto forte da marca. Reinaldo Lourenço produziu peças em verniz contrastando com pele de raposa, e o filho dos dois estilistas, Pedro Lourenço, optou pelas peles fake em golas e casacos inteiros.

Samuel Cirnansck também usou peles falsas em barras e golas de vestidos, conferindo luxo junto a rendas e pedrarias. O couro foi transformado em jaquetas de diversas cores, como preto, caramelo e vermelho, pela Ellus. A marca apresentou peles como adornos em golas e sobreposições.

A publicitária Cris Guerra, autora



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