Em ritmo de festa

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Miriam Gimenes

Bia Figueiredo
Tiago Abravanel quer o teatro cada vez mais cheio

O teatro é representado por duas máscaras desde a Grécia Antiga: a tragédia e a comédia. O filósofo Aristóteles dizia que a primeira era para homens superiores, os heróis, e a segunda, atribuída aos indivíduos comuns, do povo. Durante os festivais de teatro, seus contemporâneos preferiam ser jurados das histórias dramáticas porque isso lhes conferia status designado somente a nobres. Já Tiago Abravanel, 24 anos, não liga para nenhum dos dois títulos. Ambos lhe caem bem. Tanto que é cultuado como uma das grandes revelações dos palcos na atualidade, principalmente pela atuação como protagonista do musical Tim Maia – Vale-Tudo, que estreia neste mês no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, depois de ser aclamado pelo público carioca. O que importa para ele é estar no tablado, onde pode desfilar sua versatilidade vestindo a máscara que a história pedir.

Essa pluralidade de humores não corresponde à conduta por trás das cortinas. O rapaz, nascido em São Paulo, prefere olhar sempre a vida pelo lado bom – para não dizer cômico, em ritmo de festa. Caso contrário, não aguentaria as brincadeiras que teve de ouvir desde pequeno na escola, quando os coleguinhas imitavam os bordões do maior apresentador da televisão brasileira, Silvio Santos, seu avô. Ao invés de brigar, Tiago entrava na brincadeira. O seu sobrenome pesa? “Sim. Tanto positiva quanto negativamente. Tenho muito orgulho de ser neto de quem sou. Ao mesmo tempo, não posso me apegar a isso, porque não vai me levar a lugar algum. É profissão ser neto do Silvio Santos? Não”, conclui.

Com essa mentalidade, ele teve de fazer seu destino acontecer. Para alcançar o status de revelação que tem hoje, começou desde pequeno a galgar seu espaço. A mãe, a produtora teatral Cíntia Abravanel – filha número um de Silvio – diz que esse é o maior orgulho que tem do rebento. “Ele é um cara que batalhou muito, e é mais gratificante ter por mérito do que porque a mãe produziu um espetáculo ou o avô abriu portas.” Até o ano passado, ela era responsável pelo Teatro Imprensa, agora fechado, onde Tiago conheceu todo processo de produção de uma peça.

E foi lá, vendo muitas pessoas trabalharem, entre elas Bibi Ferreira, que ele se apaixonou pelo ofício. Entre uma montagem e outra de peça, corria pelos palcos com a irmã e, quando a tia ia trabalhar, sentava-se ao lado e assistia à sua majestosa direção. Coincidência ou não, quando Fernanda Montenegro foi prestigiar o musical, ao cumprimentar Tiago no fim do espetáculo, disse a mesma frase que Procópio endereçou a Bibi na primeira vez em que a viu em cena: “Abrimos uma filial”.

DA DISNEY, UM SONHO
Desde pequeno, Tiago é louco por desenhos da Disney. O uso da música para contar uma história sempre o encantou. Mas só pôde exercitar esse sonho infantil quando fez parte do grupo de teatro do colégio para a formação de Os Saltimbancos, de Chico Buarque. Fez sua estreia nos palcos com o papel do jumento, o narrador da história.

Ainda debutante, conseguiu fazer seu primeiro trabalho musical com o grupo Avoar, apresentando cantigas de roda. Hoje reúne oito espetáculos no currículo, entre eles Miss Saigon e Hairspray. “É engraçado ouvir das pessoas: ‘Ah, que bom para você começar a carreira com um personagem desses (Tim Maia)!’ Mas já estou há um tempinho batalhando”, lembra aos risos.

Foi mesmo na labuta que conseguiu o papel mais importante da carreira. Uma amiga viu em um site de relacionamentos que estavam procurando alguém para interpretar Tim Maia e avisou Tiago. Sem pensar duas vezes, ele perguntou para a produtora de elenco Ciça Castelo se estavam precisando ainda de candidatos e ela disse que já haviam escolhido o ator. Uma semana depois, recebeu a ligação que mudaria a sua vida: ainda havia a possibilidade de fazer o teste.

Tiago escolheu, como dizia Tim, uma música “esquenta sovaco” e outra “mela cueca” para apresentar. O diretor, João Fonseca, lembra que não tinha expectativa em relação ao moço. “Ele me surpreendeu completamente. É óbvio que o sobrenome dele provoca muita curiosidade, mas jamais pensei que o neto do Silvio Santos pudesse parecer com o Tim Maia.” Fonseca gostou tanto que ficou com lágrimas nos olhos assim que o ator terminou a apresentação. “Ele é multitalentos: muito bom ator, tem carisma, espontaneidade e canta de maneira incrível”, enumera.

Para Fonseca, Tiago merece o sucesso que está fazendo. E merece mesmo. Para conquistar o papel em Miss Saigon após vários testes, teve de perder 15 quilos em poucos dias. Não se intimidou por ter sido considerado acima do peso e conseguiu eliminá-los. “É difícil ser gordo? É. Mas acredito que deve ser difícil ser negro, assim como ser bonito demais. Cada um tem a sua dificuldade e tem de aprender a lidar com ela. Basta a gente entender que isso não é uma dificuldade, e sim algo que pode lhe favorecer. Se eu não fosse gordo, não faria o Tim Maia.”

‘SEGURA, MEU QUERIDO!’
“Foi um processo rápido, louco, intenso e apaixonante.” É assim que Tiago define sua relação com Tim Maia. Após ser escolhido para fazer o cantor durante todos os momentos de sua vida – inicialmente seria apenas quando novo, mas acabou assumindo todas as idades –, ele teve de deixar seu papel na novela Amor e Revolução, do SBT, e embarcar em um caminho sem volta.

Tiago se envolveu tanto com o papel que chegou a ouvir a voz de Tim quando estava em sua casa. Pensou em voz alta: ‘Que responsa fazer você’. E ouviu de bate-pronto: “Segura, meu querido!”. No mesmo momento, ligou para a mãe desnorteado. “Acho que o teatro é mágico e essas energias estão por aí”, analisou Cíntia.

O antes neto de Silvio Santos agora é conhecido por Tim e basta sair na rua para se constatar tal nomeação. “Só quero saber quando vão me chamar de Tiago?”, brinca, acrescentando que ninguém tinha noção da proporção que o musical ia tomar. Durante a temporada no Rio, em dois teatros distintos, as salas ficaram lotadas, com filas imensas à porta e até cambistas negociando ingressos. Muita gente ficou de fora.

O ator atribui o sucesso à paixão que tem pela profissão. “Quando a gente faz o que ama, já é mais de 50% de chance que dê certo. Quando conseg



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