Fórmula do amor

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Raquel de Medeiros

Fatores culturais e psicológicos mudam nossa visão de parceiro ideal, aponta pesquisa. Foto: sxc.hu

Cara-metade, tampa da panela, alma gêmea. Muitas são as descrições que remetem ao grande amor e que permeiam os sonhos da maioria dos homens e mulheres. Mas será que existe fórmula ou, ao menos, características essenciais que facilitem o reconhecimento do parceiro perfeito? Levantamento feito pelo site de relacionamentos eHarmony com cerca de 120 mil brasileiros mostra que achar essa tal ‘fórmula do amor’ é mais difícil do que se imagina. Isso porque, excluindo mentiras, traição e falta de higiene – traços dos quais ninguém gosta – e a famosa química, que todo mundo almeja, os brasileiros indicam ter preferências diferentes no que se refere ao parceiro amoroso dependendo do Estado em que vivem. É o que revela outra pesquisa promovida pelo portal, em parceria com o Oxford Internet Institute (da Universidade de Oxford, no Reino Unido), com cerca de 1.000 homens e mulheres casados de 19 a 81 anos. 

O estudo aponta que acrianos, por exemplo, gostam de mulheres caseiras. Já as mineiras preferem homens generosos. Os piauienses desejam as que têm capacidade de adaptação. As nordestinas consideram a preguiça um defeito inaceitável e em Roraima a preocupação maior é com o sexo. 
No Amapá, os homens buscam mulheres autoconfiantes. No Sudeste, o homem ideal tem de ter responsabilidade financeira. Os homens do Sul não gostam das muito vaidosas, enquanto que as gaúchas exigem homens higiênicos. 
Mas por que será que há tanta diferença entre as regiões do País? 
Para a antropóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro Mirian Goldenberg, nessas respostas estão imersos os estereótipos das regiões em que vivem. “É uma representação da cidade. Uma imagem que foi construída e que as pessoas absorvem como verdade. São Paulo, por exemplo, é um local de trabalho; o Nordeste tem imagem mais preguiçosa e no Rio o corpo é o capital.”
No dia a dia, porém, nada disso tem muita importância. “Nas relações, as pessoas querem coisas parecidas, como fidelidade e segurança. No cotidiano, é isso o que importa: os valores mais profundos.”
 
A TAL QUÍMICA 
“Segundo pesquisa realizada em julho do ano passado com cerca de 120 mil usuários brasileiros, homens e mulheres concordam que sem química não há relacionamento que dure”, afirma o diretor da eHarmony no Brasil, Stanlei Bellan.
E o que seria essa ‘coisa’ que faz com que duas pessoas se atraiam tão intensamente? A atração sexual nos seres humanos continua sendo mistério, segundo a sexóloga Carmen Janssen, autora do livro recém-lançado Inteligência Sexual. 
De acordo com algumas pesquisas, a maioria dos animais tem um órgão chamado vomeronasal, localizado no nariz, cuja finalidade é detectar os sinais químicos envolvidos no comportamento sexual e na marcação do território, com papel fundamental durante a fase de acasalamento. Mas os seres humanos também se comunicam por meio de sinais bioquímicos inconscientes, os feromônios, que funcionam como ativadores sexuais responsáveis pela química do amor. Com eles somos capazes de avaliar pessoas por meio de um processo inconsciente de seleção. 
Podemos afirmar que nossas atitudes diante do sexo são extremamente influenciadas pela sociedade, pela família e pela época em que vivemos. “Fatores culturais, psicológicos e nossas expectativas em relação ao amor certamente exercem poder em nossas escolhas. Por essa razão, compreender as raízes dos nossos sentimentos e desejos é fundamental”, orienta Carmen.
 
ESTEREÓTIPO ENLATADO
As representações ou os chamados estereótipos também são criados para cada gênero. Por exemplo, para as mulheres foi estabelecido que o homem ideal tem de ser mais rico, mais poderoso, mais alto, mais bem-sucedido. “Mas pode ser que o cara baixinho, que não ganha tanto, faça com que ela seja realmente feliz, embora seja difícil aceitar quando se trata do oposto ao ideal”, afirma Mirian Goldenberg. 
A antropóloga ainda ressalta um curioso contraponto. Enquanto as mulheres querem um homem que seja ‘mais’, os homens querem mulheres ‘menos’. “Eles querem que elas sejam menos histéricas, menos exigentes, menos reclamonas”, explica.
Pode ser que esses rótulos criados pela cultura ou pela imposição da sociedade expliquem também o resultado de pesquisa norte-americana realizada pelo professor de Psicologia Eli Finkel, da Universidade Northwestern, que afirma que nem sempre o que as pessoas dizem que querem de um parceiro é o que elas realmente procuram. “Temos uma ampla gama de estudos que mostram que as pessoas não têm boa percepção de suas preferências românticas. Por exemplo, você pode pensar que se preocupa mais com a atratividade física de um homem do que sua melhor amiga, mas acontece que as duas se preocupam da mesma maneira: muito”, diz Finkel.
Esse descompasso entre o que uma pessoa diz que quer e o que ela realmente procura pode ser uma das razões pelas quais sites de namoro muitas vezes não funcionam, mesmo com perfis perfeitamente bem descritos pela pessoa que está procurando um companheiro.
A fundadora da agência de relacionamentos A2, Cláudya Toledo, confirma a tese na prática. “É clássico. Já apareceu cliente procurando parceira sofisticada, bem vestida. Porém, numa das atividades, acabou se apaixonando por uma mulher que não tinha as exigências que ele havia imposto no início.”
O presidente do site de relacionamentos ParPerfeito, Claudio Gandelman, também já reparou no fenômeno. “A pessoa diz procurar alguém com características de nota nove ou dez, mas na hora de se relacionar acaba com alguém que no seu conceito seria nota seis ou sete”, diz.
Marcelo Ruzzi, 36 anos, discorda. O assistente Jurídico do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo procura por uma mulher que seja bem-humorada, bonita, honesta, inteligente e responsável, além de ter boa dose de comprometimento. E não acredita que possa amar alguém que não se encaixe ao perfil que traçou. “Posso assegurar que não. Por experiência própria, percebi que algumas características revelaram-se indispens&aac


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