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Eduardo Chaves
2011 vai deixar saudades para três personalidades da região que assumiram compromisso consigo e com o mundo ao romper as barreiras do continente e difundir suas artes. Andréa del Fuego abocanhou a última edição do Prêmio Literário José Saramago. Além do prestígio, trouxe 25 mil euros para casa. De Diadema, a Banda Jazz Sinfônica desembarcou na Suíça para se apresentar no Jazz Festival sob a batuta de Toddy Murphy. E enquanto, para a maioria, brincar de boneco é passatempo, para o andreense César Cabral tudo vira tempestade. Este é o nome do curta-metragem que conquistou o Oscar brasileiro da animação.
Toddy Murphy comanda a Banda Jazz Sinfônica de Diadema. Foto: Andréa Iseck |
QUE SOM É ESSE?
“Toda música é reflexo de uma época.” A frase de Tom Jobim, cujas composições integram o repertório de influências da Banda Jazz Sinfônica de Diadema, revela que a cultura da cidade deve muito ao maestro Toddy Murphy. Em 2011, a banda, composta por 26 integrantes, incorporou o passaporte como item de primeira necessidade. Afinal, foi para os ouvidos de milhares de pessoas, durante o Montreux Jazz Festival, na Suíça, que músicas de Ary Barroso, Djavan, Dorival Caymmi, entre outros, ganharam atenção especial e foram aplaudidas de pé.
Murphy nasceu em Arkansas, nos Estados Unidos. Aos 15 anos, sua família mudou-se para a Flórida, onde ficou até completar o bacharelado em música. Já em Miami, consagrou-se com o diploma de mestrado. São anos de trabalho e profissão que o músico trouxe ao Brasil em 1992. “A ideia era viajar pelo País e realizar turnê com minha banda de jazz. A viagem aconteceu e, no ano seguinte, vim para ficar. Formei família – duas, aliás – e hoje estou casado e com uma filha de 11 anos”, comemora o norte-americano.
O som forte do trombone é a paixão de Murphy, que foi convidado para reger a Banda de Diadema após a desistência do antigo maestro. “Tive de aprender na raça. São sete anos de trabalho e muitas alegrias”.
Toddy não consegue enumerar quantas emoções sentiu nos palcos do Teatro Clara Nunes, em Diadema. No entanto, destaca a apresentação com Hermeto Pascoal durante as comemorações do aniversário da cidade. “Encerrar o ano com este ícone da música brasileira foi ainda mais emocionante que tocar em Montreux.”
Murphy diz que não vai parar até finalizar a gravação do primeiro DVD do grupo, que terá clipes com cenas da apresentação em Montreux. “Antes de nos apresentarmos na Suíça, pesquisei na internet e éramos notícia em mais de 70 mil sites. Quero que a banda cresça ainda mais. Sou muito teimoso e estou fazendo música de alto nível. Podem acreditar.”
César Cabral é grifado no exterior com projeto criado na Região. Foto: Marina Brandão |
TEMPESTADE CRIATIVA
Quatro meses de trabalho intenso, 15 horas por dia, deram ao andreense César Cabral o título de melhor curta-metragem de animação na 10ª edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, considerado o Oscar das produções nacionais. O filme Tempestade narra a história de um marujo que navega sozinho pelos mares e, em terra firme, precisa conquistar seu amor. O enredo é tão forte quanto a persistência de Cabral em impulsionar sua criatividade. Em 2009, ele conquistou o prêmio de melhor animação por Dossiê Rê Bordosa, sob influência do cartunista Angeli. Em pouco tempo, o filme abocanhou mais de 70 prêmios.
A técnica de stop motion é árdua. Além do clique quadro a quadro, o diretor precisa ter o projeto no papel e na mente. “Um dia de muito trabalho anima cinco segundos. Para produzir todo o filme – de aproximadamente dez minutos – nós demoramos quatro meses. É muito difícil.” Com Tempestade, César ainda faturou os prêmios dos festivais de Sundance (Estados Unidos) e Annecy (França).
E a parceria com o cartunista Angeli renova-se para 2012, quando o cineasta prepara massas e bonecos para um projeto de longa-metragem.
Andréa del Fuego comemora a conquista do Prêmio Literário José Saramago pela obra "Os Malaquias". Foto: DGABC |
PALAVRAS DE FOGO
“No último dia de aula da 8ª série, minha professora de Português Célia Aiko disse, num canto da sala, que eu jamais deixasse de escrever.” Assim começou a paixão pela escrita de Andréa Fátima dos Santos, ou Andréa del Fuego, como é conhecida entre os notáveis das letras. O ano de 2011 trouxe para a escritora, que veio para São Bernardo aos 6 anos, o Prêmio Literário José Saramago pela obra Os Malaquias. O romance, lançado em 2010, conta a história de três irmãos que ficam órfãos quando seus pais são atingidos por um raio. “O livro saiu do interior de uma cidade mineira e atravessou o Atlântico para ser recebido com dignidade jamais sonhada.”
O segredo de Andréa está na disciplina, no controle da ansiedade e na frustração. “Nada como um pé na bunda para acordar aos próprios limites, tanto os da escrita quanto os da sua tolerância ao mercado.”
Ao todo são dez publicações de sua autoria e inúmeras colaborações editoriais. O próximo passo será revisar o romance que ganhou em 2009 o Programa Petrobras Cultural. “O prêmio foi o melhor susto que já levei e é a minha mensagem para a professora Célia Aiko: você tinha razão."