2012

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Heloisa Cestari

Foto: Sxc.hu
Calendário maia instiga especulações sobre o fim do mundo. Será o apocalipse ou o início de uma nova era? Foto: Sxc.hu

2012 será ano de Jogos Olímpicos em Londres, eleições municipais no Brasil, do jubileu de diamante da rainha Elizabeth II, do centenário do Santos Futebol Clube e do pleito que elegerá o novo presidente norte-americano. Mas outro calendário, desenvolvido pelos maias séculos atrás, tem gerado repercussão maior por supostamente anunciar um acontecimento bem mais relevante: o fim do mundo.

Não é a primeira vez que o apocalipse é previsto com data definida. Desde a ressurreição do Cristo, profetas se arriscam a antecipar o retorno do Messias e o temido juízo final em meio a choro e ranger de dentes.  Em 1524, vários astrólogos predisseram o Armagedon como decorrência de um grande dilúvio. Em 1846, mais de 50 mil adventistas se reuniram para aguardar juntos a hora do fim dos tempos, no que acabou conhecido como o Dia do Grande Desapontamento. Em 1910, jornais conceituados como o The New York Times alardearam a população com a notícia de que todos os seres vivos do planeta poderiam morrer envenenados pelos gases tóxicos da cauda do cometa Halley. E na virada deste século, centúrias de Nostradamus e especulações de que o Bug do Milênio poderia provocar uma pane geral no mundo fizeram muitos acreditarem que de 2000 não passaríamos.

Nada aconteceu. Mas alguns eventos previstos para 2012 têm levado muita gente a crer que o mundo pode mesmo estar próximo de passar por uma grande transformação. Segundo dados da Nasa (Agência Espacial Americana), no dia 31 de dezembro o 433 Eros passará perto do nosso planeta. Trata-se do segundo maior asteroide já registrado próximo à Terra, com  10 quilômetros de diâmetro, tamanho provavelmente superior ao do objeto que caiu na península de Yucatán formando a cratera de Chicxulub, à qual é atribuída a extinção dos dinossauros.

A distância, no entanto, será de folgados 27 milhões de quilômetros. “Isso dá 70 vezes a distância até a Lua! Mais ainda, o tamanho do objeto é 200 vezes menor do que o da Lua. Ou seja, não existe nenhum perigo real”, garante a professora da Universidade de São Paulo, especialista em dinâmica planetária, Tatiana A. Michtchenko.

Também haverá eclipses solares nos dias 20 de maio e 13 de novembro. E em 31 de dezembro expira o prazo do Protocolo de Kyoto, tratado internacional que estabelece compromissos mais rígidos para a redução na emissão de gases que agravam o efeito estufa, grande vilão do aquecimento global. Ou seja, o planeta poderá ‘derreter’ mais ainda se novas negociações não forem firmadas a partir de 2012 entre os países que mais poluem a atmosfera.

Mas nenhuma data gera tanto alarde quanto o temido 21 de dezembro, que marcaria o término do ciclo de 5.125 anos no calendário maia de contagem longa. Para alguns arqueólogos, este seria o prenúncio de um cataclisma global que poderia pôr fim ao mundo. Outros estudiosos, por sua vez, garantem não se passar de um mal-entendido, mas não negam que o enigmático ano reúne todos os ingredientes para representar um marco na história da humanidade.

Pelo calendário maia, em 21 de dezembro de 2012 o Sol nascerá alinhado com o centro da Via Láctea e também com o centro da cruz eclíptica maia que se sobrepõe a ele, em posição astronômica raríssima, que só se repete a cada 26 mil anos. Segundo John Major Jenkins, autor do livro Maya Cosmogenese 2012, trata-se do fenômeno astronômico conhecido como precessão, que consiste na mudança do eixo da Terra em relação à esfera celeste. 

A singularidade do evento cósmico, aliada ao fim do calendário maia, tem levado os ‘defensores do apocalipse’ a repercutirem uma série de profecias catastróficas acerca do fim dos tempos. As teorias – grande parte refutada pela comunidade científica – vão desde a colisão com outro planeta até a existência de um buraco negro no centro da galáxia que poderia aniquilar a raça humana ao provocar a inversão dos polos da Terra. Isso ocorreria devido a distúrbios nos campos magnéticos do Sol, que gerariam imensas tormentas solares afetando a polaridade de todo o planeta. Os resultados seriam gigantescos tsunamis, terremotos, erupções vulcânicas e um deslocamento dos continentes que arrastaria Europa e América do Norte por milhares de quilômetros, tornando o clima destes locais semelhante ao da Antártida.

Curiosamente, desenhos atribuídos ao famoso profeta Nostradamus (1503-1566) também apontariam para um grande acontecimento astronômico em 2012. O ponto de convergência com as previsões maias seria o conjunto de imagens que ilustram aquele que é apresentado como o Livro Perdido de Nostradamus. A obra permaneceu 400 anos esquecida nos arquivos do Vaticano – já que foi oferecida como presente pelo filho de Nostradamus, César, ao papa Urbano VII – e só foi encontrada em 1994.

Alguns pesquisadores consideram que os desenhos fazem claras referências ao alinhamento galáctico, e dizem que seria um aviso sobre o que poderia ocorrer no planeta entre 1999 e 2012. Outros estudiosos, no entanto, contestam a autoria do livro. Em entrevista ao canal History Channel, o pesquisador John Hogue, especialista nas obras do profeta francês, afirma que, na época em que as figuras teriam sido esboçadas, Nostradamus já sofria de artrite aguda, o que o impedia até mesmo de escrever. Além disso, não há registros de que tenha desenhado em vida. Por isso, Hogue acredita que tais imagens tenham sido obra do próprio filho de Nostradamus, que foi um bem-sucedido pintor de retratos.

A própria teoria de que o término do calendário maia seria o prenúncio do fim dos tempos é contestada por muitos especialistas. No início de dezembro, cientistas de todo o mundo reuniram-se em Palenque (sítio arqueológico maia, situado ao Sul do México) para discutir as profecias da civilização antiga para 2012 retratadas no monumento número 6 de Tortuguero e nos hieróglifos de um ladrilho em Comalcalco, ambos em Tabasco. Chegaram à conclusão de que todas as mensagens maias gravadas em estelas (monumentos esculpidos em um único bloco de pedra) que fazem alusão ao solstício de 21 de dezembro de 2012 não revelam uma grande tragédia, muito menos o fim do mundo, apenas o encerrame



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