Corrente do bem

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Heloisa Cestari

Pesquisa aponta que maioria dos jovens no Brasil se preocupa com o bem-estar social 

No filme A Corrente do Bem, o professor de Estudos Sociais Eugene Simonet (interpretado por Kevin Spacey) desafia os alunos a criar algo que possa mudar o mundo. O garoto Trevor McKinney (Haley Joel Osment) sugere um jogo, chamado Pay it Forward, em que cada pessoa deve retribuir o favor que recebe auxiliando outras três. Surpreendentemente, a ideia dá certo. A troca de gentilezas cresce em progressão geométrica e, em curto espaço de tempo, transforma toda uma cidade.

Embora a história seja ficção, não faltam exemplos na vida real de jovens que conseguem ajudar muita gente a partir de iniciativas simples, criadas com o único e desinteressado intuito de melhorar o mundo. E esse número é crescente, aponta pesquisa divulgada em junho pela Box 1824, que entrevistou 1.784 jovens para o estudo O Sonho Brasileiro. O resultado mostrou que 76% dos cidadãos entre 18 e 24 anos acreditam que o País está mudando para a melhor; 89% deles têm orgulho de serem brasileiros e o que é mais importante: para a maioria, sucesso não é apenas acúmulo de dinheiro ou status social, mas a relação disso com a sua própria felicidade e com o bem-estar das pessoas que o rodeiam.

Segundo um dos responsáveis pela pesquisa, o sociólogo Gabriel Milanez, essa mudança de paradigmas reflete o novo cenário do Brasil, que se contrapõe à geração dos anos 1980, marcada por instabilidades políticas e econômicas que a levaram a buscar segurança financeira e profissional a todo custo. Os fantasmas da inflação e da ditadura já não assustam como outrora. E sequer são lembrados por essa nova geração, mais confiante, engajada, sonhadora e otimista quanto ao futuro. Ainda de acordo com o estudo, 90% dos entrevistados gostariam de exercer profissão que ajudasse a sociedade; 31% sonham com respeito e cidadania para o País e 28% almejam oportunidades para todos.

Enquanto os jovens de outras gerações entoavam o hino do 'quem sabe faz a hora, não espera acontecer', os nascidos após a década de 1990 o colocam em prática. E lançam mão da internet para mobilizar pessoas com interesses em comum e criar cenário de possibilidades nunca visto antes na história do País. 

As propostas são tão singelas quanto a do garoto Trevor no filme. Em vez de levantar bandeiras grandiosas e depositar nas mãos dos políticos toda a esperança de transformação do País, os jovens de hoje acreditam que podem fazer o mundo melhor por meio da participação em causas sociais, ambientais e outras iniciativas. 

Para transformar a sociedade de baixo para cima, eles apostam na interconexão das redes sociais, e alcançam poder de mobilização ainda maior que a tal progressão geométrica calculada nas telas de cinema. Foi com o auxílio da internet que conseguiram juntar, por exemplo, 50 mil voluntários para varrer a Estônia em 2008, retirando 10 mil toneladas de lixo em menos de cinco horas. Os pontos mais sujos do país foram mapeados e transpostos com o uso do Google Maps agregado a outro software gratuito. 

Também foi nas redes sociais que jovens do Oriente Médio e Norte da África organizaram a onda de protestos que derrubou ditadores na Tunísia, no Egito e na Líbia neste ano, no que ficou conhecido como Primavera Árabe. E ainda aproveitaram canais como Twitter, Facebook e YouTube para sensibilizar a comunidade internacional em face das tentativas de censura e repressão por parte dos chefes de Estado. 

Até o Brasil - que permaneceu adormecido em berço esplêndido desde o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello em 1992 – tem assistido ao retorno dos jovens às ruas para protestar contra a corrupção. Nos últimos feriados de 7 de setembro, 12 de outubro e 15 de novembro, diversas capitais do País viraram palco de manifestações. Milhares de internautas foram às ruas para pedir o fim do foro privilegiado, a aprovação da lei da Ficha Limpa, a implementação do voto aberto nas casas legislativas e a elevação da corrupção à categoria de crime hediondo. Essas reivindicações estão entre as mais votadas em uma enquete promovida na internet. Os participantes confirmam presença pelo Facebook. 

E o site Unidos Contra a Corrupção informa que as passeatas representam apenas a primeira etapa do movimento, que pretende pressionar a classe política para a criação de leis mais rígidas contra a corrupção e, por fim, criar grupos na sociedade civil voltados à fiscalização do poder público. 

Não à toa, outra pesquisa, realizada pelo Instituto de Recursos Humanos da Califórnia, revela que a web está deixando os jovens mais engajados socialmente. O estudo, feito com 2.500 estudantes de diferentes etnias e classes sociais, indicou que quem recorre à internet para fazer pesquisas ou procurar conteúdos relacionados ao seu interesse está mais propenso a se envolver com questões civis e políticas. 

Estima-se que, só no Brasil, 8% dos jovens entre 18 e 24 anos têm esse perfil, o que gera número aproximado de 2 milhões de pessoas dispostas e empreender pequenas revoluções no dia a dia para colaborar positivamente com o planeta. Confira a seguir, alguns exemplos de gente que, definitivamente, não espera acontecer. E que tem feito toda a diferença. 

 

 

Foto: Divulgação
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Quem visita o Parque Dr. Alfred Usteri, no Jaguaré, Zona Oeste de São Paulo, nem imagina que o espaço verde é fruto do trabalho de um ambientalista apaixonado por plantas. Desde a infância, Ricardo Henrique Cardim prestava atenção na vegetação da selva de pedra paulistana. Não entendia por que sua cidade era tão cinza e resolveu estudar Ecologia para preservá-la. Em 2008, criou o blog Árvores de São Paulo, que logo virou sucesso, com média de 1.500 acessos por dia. Nele, Ricardo lista as espécies raras que têm



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