Fuja das ciladas

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Raquel de Medeiros

Foto: DGABC
Sites e clubes de compra oferecem descontos, mas também deixam o consumidor exposto a armadilhas. Especialistas ensinam como não cair em roubada. Foto: Diário do Grande ABC

Ingressos para cinema por R$ 6, jantar completo para dois por R$ 49, depilação definitiva com 95% de desconto, ingressos para teatro por R$ 15. Os preços tentadores fazem parte das promoções oferecidas pelos clubes de compra, febre entre os internautas desde 2010. Peixe Urbano, Groupália, ClickOn e Groupon estão entre os maiores. O grande problema é que, apesar das ofertas tentadoras, nem tudo o que é oferecido é confiável ou vale a pena.  No último mês, por exemplo, o Procon autuou três deles, Groupon, ClickOn e Peixe Urbano, por praticarem condutas que vão contra o Código de Defesa do Consumidor, como não garantir a qualidade dos serviços que oferecem, negar a devolução de dinheiro em casos de não prestação e informar percentual de desconto incorreto.

As ofertas atrativas devem ser observadas com cautela. Nem tudo o que está na vitrine dos sites é bom negócio. O empresário Adair Pedro de Oliveira, 34 anos, ficou curioso pelos preços convidativos e a chance de conhecer lugares diferentes. Até o pagamento, tudo perfeito. O problema foi na hora de receber o serviço. Comprou alimentação em um rodízio de pizza na Mooca, em São Paulo, por R$ 7, porém, o suco custava R$ 8. “Às vezes o desconto é só chamariz. Você não vai comer sem beber, então, o preço no final não fica tão interessante.”

Outra desvantagem que incomodou o empresário foi o atendimento ruim. “Há três semanas fui em uma rotisserie e colocaram a gente em um local ruim, trouxeram a comida primeiro para depois trazer entrada e bebidas, enquanto o atendimento das outras mesas era normal. É um lugar que não volto mais”, decidiu. Quem não é cliente de compras coletivas acaba levando vantagem, na opinião de Adair.

Os recém-casados Juliana Stanev, 29 anos, e Bruno Gonçalves, 36 anos, aproveitam a febre dos descontos virtuais para economizar.  “Graças a esses cupons conhecemos muitos restaurantes em São Paulo. Alguns com comida de excelente qualidade, outros nem tanto. Mas vale pela experiência e pela economia”, disse Juliana. O casal encontrou saída para não cair em ciladas: ler atentamente os regulamentos das promoções. “Percebemos que alguns cupons não eram válidos para determinados dias, como sexta à noite. Com isso, sempre lemos e evitamos pegadinhas como vouchers válidos somente com acompanhante pagante. Contra atendimento ruim, no entanto, não há muito jeito, tem de arriscar.”

 
DESCONTO MAQUIADO

Tudo parece muito bom, mas não se iluda. Nem todos os descontos astronômicos que se vê nos sites são verdadeiros. Uma pesquisa feita pelo Idec mostrou que os preços estabelecidos pelas empresas nos sites de compras coletivas não correspondem à realidade, são inflacionados para que os descontos pareçam maiores.

O instituto simulou a compra de sessões de depilação a laser do Instituto do Laser no site Groupon. O valor integral informado era de R$ 1.250, e o promocional, R$ 59,90 (desconto de 95%). No entanto, as mesmas cinco sessões de depilação a laser eram vendidas no próprio estabelecimento por R$ 159.

O CEO do Groupon Brasil, Florian Otto, tem preocupação em escolher as parcerias. “Temos uma equipe que é responsável por selecionar a qualidade dos parceiros que fazem ofertas conosco.”

Segundo o Idec, o site Groupalia também colocou os consumidores em uma fria. Um restaurante mexicano prometia reduzir o preço do bufê de R$ 49,90 para R$ 19,90. Porém, ao ligar no local, o que se descobriu é que o desconto oferecido era falso. O valor indicado como promocional era o preço real do serviço.

No Peixe Urbano, o problema foi ainda mais grave. O site ofereceu cupons para cinco sessões de ultralipocavitação (lipoescultura sem cirurgia), mais dez sessões de plataforma vibratória, por R$ 129. Segundo o site, o valor integral do pacote era R$ 2.050. Mas, ao visitar a clínica Skin Live (que, na verdade, é o Instituto do Laser – aquele da promoção do Groupon), o Idec descobriu que, no local, o mesmo tratamento oferecido pelo Peixe Urbano sairia por apenas R$ 99. Ou seja, o valor integral era ainda menor do que o promocional divulgado pelo site.

No ClickOn, a oferta era de um aparelho de DVD automotivo de R$ 999 por R$ 499. Ao visitar o site da empresa fornecedora, o instituto constatou que o preço de mercado era  R$ 599.

Segundo o Idec, a veiculação de informação falsa pode ser considerada publicidade enganosa e é terminantemente proibida pelo artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor.

 
E AGORA?

O gerente de banco Marcelo Magalhães, 28 anos, comprou um pacote de viagem com destino a Cuba no Groupon. “Paguei à vista, pela confiança e credibilidade da empresa.” A empresa parceira Star Travel, subitamente, foi descredenciada pelo Groupon, que informou o ocorrido aos clientes por e-mail. “Garantiram que na próxima semana entrariam em contato, para apresentar a nova empresa responsável pela viagem.” Fato que não ocorreu. “Tentei por três vezes entrar em contato através do e-mail disponibilizado pelo Groupon. Depois de duas tentativas, fui atendido e a atendente garantiu ter anotado minha reclamação. Porém, continuei sem ter uma posição do site”, reclamou Marcelo.

Para a advogada da Proteste Polyanna Carlos da Silva, é preciso  cautela com a aquisição de viagens.  Antes de adquirir, é importante o consumidor buscar informações sobre a estrutura do local, para se certificar da  capacidade e qualidade. Outro ponto que merece especial atenção são as restrições de data. Se a expectativa é utilizar o cupom em períodos festivos ou de férias, o cuidado deve ser redobrado.

Em vez de viagem de folga, Marcelo ganhou um problema. ”Até havia me programado no trabalho para viajar, entre outros fatores bem chatos, como a preocupação de ter R$ 3.000 gastos sem saber quem vai oferecer o produto.”

De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, em casos de descumprimento de oferta, o consumidor pode exigir, à sua escolha, outro produto ou serviço ou a rescisão do contrato com direito à restituição do



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