Um pouco de luz na vida

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Raquel de Medeiros

Foto: Luiz Paulin
Socialite Regina Moraes, há 12 anos na frente do Projeto Velho Amigo, aprendeu com o pai a importância de ajudar. Foto: Luiz Paulin

“A Regina é muito amiga da gente”, diz o ex-caminhoneiro Rubens de Assis, 86, que mora há 24 anos na Casa dos Velhinhos Ondina Lobo, em Santo Amaro. Apesar de ter perdido a visão, Rubens é ativo, faz bolsas artesanais de barbante e se assume  pé de valsa: participa de todos os bailes da terceira idade.  Ele é um dos idosos beneficiados pelo Projeto Velho Amigo, liderado pela socialite Regina Moraes, 38 anos. Se não fosse por iniciativa dela, talvez ele estivesse vivendo sem tanta alegria.

Casada e mãe de dois filhos – Laura, 3 anos, e Pedro, 6 –, ela não precisaria se aventurar em mais nada além do seu dia a dia na alta classe paulistana. Mas filha de peixe, peixinho é. E não poderia ser diferente com a filha caçula do empresário Antônio Ermírio de Moraes. Aos 26 anos, ela arregaçou as mangas e decidiu fazer alguma coisa para espalhar um pouco de todo carinho que recebeu no lar. “Tive exemplo dentro de casa, meu pai trabalhava na Votorantin e na Beneficência (Portuguesa) como voluntário. Não tinha nem fim de semana. Era algo natural.”

Através do grupo Votorantin, Antônio Ermírio de Moraes dedicou-se exaustivamente ao trabalho em benefício da população. Foram mais de 50 anos de serviços prestados, muitos deles na Cruz Vermelha, outros tantos na Cruz Verde e mais de 40 anos dedicados à Beneficência Portuguesa. Os filhos aprenderam com o pai que, mais do que fazer dinheiro, ajudar era importante.

A descoberta de Regina aconteceu sem que ela tivesse planejado. Em um certo dia, Maria Theresa Cunha Pereira – que hoje também encabeça o projeto Velho Amigo – pediu doação da Votorantin para um asilo. Curiosa, Regina quis ver para onde havia ido o donativo. Foi quando seu coração bateu mais forte e um princípio de projeto lhe veio à mente. “Aquela foi a primeira vez que coloquei os pés em um asilo e senti vontade de trabalhar.”

Maria Theresa era voluntária em entidades de assistência a idosos. Depois, juntou-se à dupla outra amiga, Regina Helou (também líder do projeto Velhos Amigos). “É um encontro de almas, pessoas certas na hora certa e para fazer o bem”, explica Regina Moraes.

 
PÉ ANTE PÉ

Deu certo. O tempo passou rápido e o projeto Velhos Amigos, menina dos olhos de Regina, já completa 12 anos. O início foi de maneira informal. Era o próprio trio que fazia a compra dos produtos que seriam entregues aos asilos. “Promovíamos eventos, pegávamos o dinheiro e íamos ao supermercado comprar o necessário.”

Hoje, conseguem ajudar 13 organizações e dois centros dia, que funcionam como creches para idosos. O motivo do trabalho com a terceira idade é claro. Enquanto as crianças exercem fascínio logo de cara, os idosos precisam de amparo. E nem todos estão preparados para enfrentar o fim da vida, muito menos para ajudar alguém a passar por isso. “Quase ninguém quer trabalhar com velhice.”

Regina percebeu que podia fazer isso e enxergou ali um espaço para atuar. “Cada um tem de lidar com seus limites. Para mim, foi tranquilo, não saio mal de lá. É paixão pura, a gente ama o que faz. Levamos um pouco de dignidade a essas pessoas no fim da vida.”

Em casa não é diferente. Antônio Ermírio está com 83 anos e Maria Regina Costa de Moraes, mãe de Regina, tem 79. Precisam de cuidados. É ali que ela se dá conta do quanto o trabalho que faz é importante. “O emocional de quem lida com doentes vai lá pra baixo. É difícil aceitar que eles têm limitações. Você tem de olhar no olho, falar com mais calma, porque para eles se isolarem é um minuto, não acompanham o mesmo ritmo.” Experiência que ela leva para o trabalho voluntário e vice-versa.

 
TEMPO PARA DOAR

Qual tarefa é mais difícil de executar: dar tempo ou dinheiro? “Para alívio de consciência, é melhor doar dinheiro, mas não está com nada”, opina Regina, que afirma não achar fácil deixar marido e filhos para acompanhar mutirões.

As semanas que antecedem o evento, segundo a socialite, são de muito, muito trabalho. O tempo que ela doa vai além do estipulado e sempre ultrapassa as horas que fica na sede do projeto. “Participo de programas, acordo pilhada, pensando em tudo o que esqueci de fazer ou que tenho de fazer.”
Regina está na linha de frente: faz papel de relações públicas da instituição. Mas já teve experiências visitando asilos. “Saí de lá pensando: meu Deus, amo minha vida, e agradeço por isso todo dia.”

O maior medo dela é não poder dar prosseguimento às atividades. “Tenho medo de não estar aqui amanhã e o projeto acabar.” Afinal, não é fácil conseguir voluntários que se dediquem com o mesmo empenho dela.  “Não conseguimos pessoas que tenham a atitude que eu, a Teresa e a Regina temos. A gente vem falando cada vez mais em profissionalização.” Aqueles que topam o desafio trabalham diretamente nas casas, desenvolvendo atividades, auxiliando em reformas ou levando os idosos ao médico, cabeleireiro e passeios.


Foto: Luiz Paulin
Regina Helou e Regina Moraes Waib idealizaram o projeto Velho Amigo. Foto: Luiz Paulin

ATRÁS DO PATROCÍNIO

Apesar do patrimônio da família Moraes, Regina não mexe no bolso para investir. A atitude tem seu propósito: faz parte da filosofia da empresária e funciona quase que como desafio. “Acho que é muito mais legal cutucar as pessoas para ver o barato do projeto. Procuro meus amigos para comprar convites, claro, mas o projeto tem maturidade e notoriedade. Acredito que não precisa do patrocínio da Votorantim para continuar dando certo.”

No entanto, na hora de bater na porta de empresários para pedir apoio, Regina não tem dúvidas de que o sobrenome ajuda. E muito. “Abre portas, lógico, mas temos uma tran



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