Geração Y

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Willian Novaes

Foto: Celso Luiz
Thiago Sabino, 25,se esforça para não impor o quer. Foto: Celso Luiz

Eles são teimosos, rápidos, diretos e contestadores. Também são inseguros, intransigentes, insubordinados, egocêntricos e imediatistas. Mas ainda bem que no meio dessas características existem vidas e almas. Assim é o perfil da geração Y, formada por jovens nascidos entre o fim dos anos 1980 e início da década de 1990.

A maioria cresceu convivendo com as inovações tecnológicas. A liberdade foi maior que a das gerações antigas. Um dos seus maiores ídolos morreu no último mês, aos 56 anos: o visionário Steve Jobs, cofundador da Apple, trouxe para o dia a dia dessas pessoas a inovação e nova forma de relacionamentos, pessoais e profissionais.

As barreiras da distância não existem para essa galera. Tudo pode ser full time e on-line. Tarefas escolares, relacionamentos amorosos, compromissos de trabalho e diversão. Essa turma está conectada seja em casa, no escritório, no carro ou no transporte público. A internet é grande companheira. As amizades podem ser efetivas ou superficiais. A efemeridade faz parte da rotina, seja no emprego ou no amor.

Complicados e cheios de si: assim são os adultos das décadas anteriores que se encaixam nesse rótulo, muitas vezes falso, imposto por consultores, psicólogos e pesquisadores. Mas assim é a humanidade e, para desenvolvimento e registro histórico, cada um precisa ter uma classificação.

“As pessoas da geração Y questionam mesmo. O brasileiro pouco fala ou reclama. Parece que grande parcela ainda vive no período da ditadura. E esses jovens trouxeram   outra maneira de contestar, coisa que seus pais não podiam fazer devido a uma série de fatores históricos”, explica a consultora Eline Kullock, presidente do Grupo Foco, um dos grandes pesquisadores do tema no País.

Do mesmo jeito que reclamam, perguntam e batem de frente, a galera Y também sofre com mais rapidez e se frustra na mesma velocidade com que atinge o auge. A corrida do crescimento profissional é disputada com euforia e na maior intensidade possível. O objetivo é traçado ainda no fim da adolescência e muitos sacrificam a vida pessoal para se dar bem na carreira escolhida.

“Os mais velhos pensam que os jovens são insubordinados, mas eles apenas colocam em questão o seu ponto de vista e o defendem da melhor maneira possível. Essa relação é inte-ressante porque os mais velhos podem aprender com essa disputa”, diz a psicóloga Maria Regina Domingues Azevedo.

O publicitário Thiago Sabino, 25 anos, percebeu que o seu temperamento precisava mudar. Antes ele debatia, argumentava e queria impor o seu modo de pensar. Com o tempo e alguns empregos trocados, aprendeu a lição. “Atualmente, sou mais diplomático, sei que não devo impor tudo o que quero. Mas precisei de muitas discussões para entender.”

Todo esse esforço descomunal faz com que eles fujam do ditado ‘dê tempo ao tempo’. A frustração é imensamente superior quando o plano não funciona do jeito idealizado. Eles não precisam de muito para se sentirem derrotados, e ainda não sabem lidar com perdas. “Por viverem em extrema competição, numa velocidade absurdamente rápida, a baixa resistência e a frustração são imensas”, afirma Line.

Mas também há o lado positivo. É o caso do técnico em informática Guilherme Coutinho, 31 anos. A sua vida é extremamente agitada, seja com os amigos, nas redes sociais, nos empregos, na graduação ou nos cursos de especialização. Seu dia tem 24 horas assim como o de qualquer outro mortal, mas ele consegue conciliar os compromissos sociais, amizades e tarefas profissionais de forma quase fenomenal aos olhos dos mais velhos.

Segundo a professora e psicóloga Maria Regina Domingues de Azevedo, da Faculdade de Medicina do ABC, Guilherme, a exemplo de grande parcela da sua faixa etária, tem capacidade absurda de realizar multitarefas ao mesmo tempo.

“Os adolescentes e os jovens adultos conseguem desenvolver com prioridade várias atividades e relações simultâneas. A concentração para estudar pode ser dividida com uma conversa nas redes sociais ou ouvindo música. Eles têm capacidade de manter várias conexões, o que é impressionante”, comenta a psicóloga.

É isso o que ocorre com o técnico de informática. Ao acordar, ele vê na agenda qual das empresas que o contratam para prestar manutenção terá de ser visitada naquele dia. Nesse ínterim, o celular pode tocar e mudar todos os seus planos. O imprevisível trabalha em conjunto. “Há horas em que não sei mais o que estou falando nem com quem. É uma confusão, mas sempre consigo resolver. O jogo de cintura é fundamental para o meu trabalho”, conta.

Ele é seu próprio chefe desde os 20 anos. Não se vê trabalhando em apenas um lugar e, para provar isso, mesmo no último semestre do curso de Engenharia da Informática, com o trabalho de conclusão sendo desenvolvido, descobriu outra área profissional, mais restrita, e está conseguindo tirar as licenças para atuar também nesse campo. “Surgiu a chance de ganhar mais e não tive dúvidas em ir atrás das licenças para trabalhar na área de auditoria. O tempo, que já era curto, ficou menor, mas sempre dá.”

Guilherme tem um diferencial dos seus contemporâneos na área sentimental. Ele está casado há 13 anos e foge do padrão de relações fugazes. Mesmo com toda a carga de trabalho, a sua mulher tem prioridade total na agenda. “Sei que não é simples manter tudo em dia, mas bastou ela pedir alguma coisa que paro e tento resolver.”

Para a nutricionista Luciana Maga-lhães, 28, o que falta para a sua vida ser plena é um companheiro, pois conquistou emprego e independência financeira antes dos 30. Depois de inúmeros percalços e desilusões amorosas, ela decidiu optar por um companheiro virtual. Entrou em um site de relacionamentos e buscou por uma pessoa no seu perfil. A customização é uma das grandes armas dos jovens de até 30 anos. As casas noturnas já perceberam isso e cada vez mais trabalham em cima de um perfil pré-selecionado. Mas, no da nutricionista, o romance com a virtual cara-metade não durou mais do que três meses.

O perfil do militar não agradou e, com a mesma rapidez que a paixão começou, t



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