Flor da idade no outono da vida

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Heloisa Cestari

A fonte da eterna juventude sempre habitou os sonhos e genes do ser humano. Durante séculos, alquimistas dedicaram-se aos mistérios do elixir da longa vida, substância que seria capaz de curar doenças e dar longevidade a quem a ingerisse. Depois, na Idade Média, o líquido transformou-se em fonte. A tradição dizia que este rio estaria em algum lugar da Índia. Mas o espanhol Juan Ponce de Léon (1460-1521), que acompanhou Cristóvão Colombo em sua segunda expedição à América, acreditava que as águas capazes de curar o envelhecimento poderiam estar no Novo Mundo. Em 1508, ele se estabeleceu em Porto Rico e ouviu falar de uma ilha, chamada Bimini, onde haveria uma fonte capaz de restaurar a juventude. Cinco anos depois, aventurou-se pelos mares em busca do lendário lago e acabou descobrindo a atual Flórida. De fato, muito adulto volta a ser criança nos parques temáticos desse Estado norte-americano, mas nem por isso deixam de envelhecer.

 

Para acelerar a corrida contra o tempo, a ciência agora entra em ação. Tratamentos com hormônios, alimentos antioxidantes e até células-tronco já não são mais ficção. Alguns métodos prometem longevidade ou, ao menos, qualidade de vida na velhice. Outros, como a aplicação da toxina botulínica, limitam-se a apenas esconder os sinais do tempo.

Seja lá como for, os avanços da medicina têm conseguido aumentar a expectativa de vida da população mundial a níveis inimagináveis nos tempos de Ponce de Léon. Na Roma Antiga, vivia-se, em média, 17 anos. No século 19, essa estimativa subiu para 30. Hoje, a expectativa de vida em países desenvolvidos chega a 85 anos, e projeta-se que, dentro de duas décadas, estaremos rompendo a barreira dos 100 no Brasil. “No fim do século 21, chegaremos aos 200 anos”, anuncia o médico Ítalo Rachid, especializado em antienvelhecimento pela Universidade de Harvard.

 

O mundo está envelhecendo. Nos países ricos, a quantidade de idosos já ultrapassou a de jovens com menos de 14 anos. E essa tendência deve chegar ao Brasil, que se tornará o sexto país em número de idosos em 2025.

 

“Por volta de 2045, a pirâmide do País se inverterá, tendo mais velhos do que jovens”, sentencia Rachid, que lança mão de hormônios para retardar e até retroceder a ‘idade biológica’ de seus pacientes. Segundo ele, o processo de envelhecimento começa a partir dos 20 anos e se intensifica após os 30. “Nesta idade, o catabolismo (poder de destruição das células, com perda de energia) fica maior que o anabolismo (capacidade de regeneração celular). Ou seja, os hormônios não caem porque nós envelhecemos. Nós envelhecemos porque os hormônios caem”, explica o médico, que garante ser possível, por meio da reposição hormonal, reverter até funções que já haviam sido perdidas pelo organismo.

 

O cientista inglês Aubrey De Grey, autor de várias pesquisas na área da biogerontologia pela Universidade de Cambridge, vai além: para ele, o envelhecimento terá ‘cura’ daqui a 25 anos, e a primeira pessoa a viver 1.000 anos deverá nascer dentro de duas décadas.

Em maio, durante o 25º Congresso Brasileiro de Cosmetologia, o engenheiro da Nasa José Luis Cordeiro também apresentou pesquisa que prevê a extinção da morte em 30 anos. Como? Através do sequenciamento do genoma humano. “Entender como funciona o genoma é a pedra fundamental da medicina do futuro. Ao que tudo indica, trata-se do ponto de partida para a desmistificação da vida eterna”, declarou o presidente da Associação Brasileira de Cosmetologia, Alberto Keidi Kurebayashi.

 

Além das descobertas genéticas, uma série de drogas e procedimentos estéticos tem conquistado espaço no mercado com a promessa de serem o tal elixir da longa vida. Nos últimos anos, o GH (sigla em inglês para hormônio do crescimento) virou febre em academias de ginástica devido aos seus supostos poderes de aumentar músculos, reduzir gordura e melhorar a disposição.

 

A substância controla a multiplicação celular, a formação de músculos e a distribuição de gordura, sendo indicada a crianças com deficit de crescimento. Sua produção diminui com a idade. No entanto, isso não significa que sua reposição possa evitar os avanços do tempo. A atriz Goldie Hawn, que completará em novembro 66 anos cheia de jovialidade, atribui sua boa forma às injeções de GH. Mas o seu colega de Hollywood Nick Nolte, que também declarou tomar o hormônio, não parece tão conservado no auge de seus 70 anos.

 

Estudo publicado na revista Annals of Internal Medicine sobre o impacto da reposição de GH na saúde conclui: a substância não tem serventia no combate ao envelhecimento, e pode até causar dores nas articulações, tumores, insuficiência cardíaca e diabetes.


Outros experimentos prometem o milagre da eterna juventude por meio do uso de células-tronco. Esteticistas já anunciam uma vacina em pó e um antídoto líquido capazes de eliminar 90% das rugas. E o laser de CO² fracionado garante o fim dos sinais de expressão, das manchas provocadas pelo sol e da flacidez facial por meio do estímulo à remodelação de colágeno na pele.

 

A questão, no entanto, não se limita à quantidade de anos que a pessoa viverá nem à sua aparência. É preciso ter qualidade de vida também. E para isso ainda não foram criadas fórmulas mágicas. O segredo continua sendo a velha receita de adotar hábitos saudáveis de vida. “Pare de fumar, não beba em excesso, pratique atividades físicas, evite a obesidade, faça consultas médicas periodicamente, participe de grupos de convivência para evitar a solidão, viaje, dance, faça planos para o futuro”, aconselha a secretária de Saúde de Diadema, Aparecida Linhares Pimenta, especialista em Medicina Preventiva.

 

A cidade possui 27 mil idosos, e tem promovido uma série de iniciativas para prevenir doenças típicas da terceira idade. O resultado é um menor custo aos cofres públicos. “Todas essas medidas diminuem o uso dos serviços de Saúde. Caminhar uma hora durante o dia, por exemplo, é uma das melhores formas de prevenir a osteoporose. Então, quando se consegue convencer um grupo a participar dessas atividades, diminuem os gastos do poder público com tratamentos de proble



Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados