Homem com A maiúsculo

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Andréia Meneguete

Foto: Claudinei Plaza
Alexandre Accioly apresenta mais um empreendimento grandioso e torna seus negócios objeto de estudos do business brasileiro. Foto: Claudinei Plaza

Ele fez cair por terra o jargão mais do que datado de que carioca sabe curtir a vida e o paulista, só pensa em dinheiro. Nas brechas que o mercado deixa e que todo bom empreendedor adora explorar, Alexandre Accioly, 49 anos, expande território, mais uma vez, e transforma a crise econômica mundial em marolinha.
O empresário – junto com um time de peso com Luis Urquisa (ex-Unibanco), João Paulo Diniz (Pão de Açúcar) e Bernardinho (do Vôlei) – invade a Terra da Garoa e traz novo conceito no setor de saúde e bem-estar com o lançamento da academia Bodytech, no Shopping Eldorado, que já é sucesso no Rio de Janeiro com 15 unidades em pontos privilegiados.

As exclamações diante da expectativa do negócio aumentam a cada número revelado. Somente nessa unidade paulistana foram investidos R$ 22 milhões.
Para entrar forte no mercado paulista e trabalhar como quer, ele comprou a rede de academia Fórmula (tem Luciano Huck como um dos sócios), a qual vai atuar também com unidades próprias e franquias. Mas é com a Bodytech que ele pretende fazer barulho. Espera-se, até o fim do ano, uma academia butique no Shopping Iguatemi, com mensalidade de R$ 1.000. 

Com nova proposta de academia, serão oferecidos aos alunos serviços deluxes, como vestiário com hidromassagem e ofurô, garçons e camareiras, revista própria, aulas diferenciadas e equipamentos de ponta. Transformando o conhecido lifestyle carioca em negócios, ele promete abalar as convicções dos pessimistas.
Os planos de expansão para a nova menina dos olhos são proporcionais ao investimento de R$ 570 milhões: até 2015 deseja ter uma das maiores redes de academia do planeta. Enquanto alguns se contentam em ser mais um, Accioly quer ser sempre o melhor em tudo o que faz.

“O contrário do sucesso na minha área seria fracassar e isso é muito trágico em qualquer negócio, então não posso errar.”

O acesso livre às rodas sociais mais interessantes do Brasil facilita um bocado os resultados positivos do empresário. Com isso, ele faz multiplicar cada centavo aplicado. Ao todo são 18 negócios (na área de lazer, gastronomia e entretenimento), cerca de 40 sócios e mais de 2.000 funcionários.

Entre os principais empreendimentos da lista da Accioly Participações estão as rádios Paradiso e Mix FM. restaurante Forneria São Sebastião e o segmento de comidas e bebidas do Hotel Fasano Rio de Janeiro, que contempla Fasano Al Maré e Baretto Londra . Além de realizar as festas Noites Cariocas e Baile Devassa, que proporciona momentos de diversão e prazer ao público saudosista do carnaval glamouroso. Foi ele também o responsável por trazer em 2006 a banda irlandesa U2 para o Brasil. Nada conquistado por efeito de milagres, mas com muita transpiração.

Accioly deixa claro o incômodo com a definição propagada de que é Rei Midas contemporâneo. Lembra que já teve empreendimentos malsucedidos ao longo da vida. “Tem gente que fala que o que eu toco vira ouro. Trabalho muito e já levei vários tombos e muitos tropeços por ai.”

Os passos em falso fazem parte do passado. Hoje o carioca reconhece a necessidade de realizar planejamentos e estratégias quando quer aumentar o império conquistado. Faz questão de utilizar músculos, cérebro e energia para atingir as metas traçadas. Coloque aqui também boas doses de otimismo e muita fé por dias melhores. Afinal, por muito tempo o mundo não conspirou ao seu favor. 

Nos anos 1980, viveu grande desespero ao ver ruir o jornal de classificados de carro que não sobreviveu à crise econômica do governo Collor. Resultado: dívida de US$ 80 mil e seis linhas telefônicas.

Com fé em Deus e pé na tábua, utilizou as  únicas ferramentas disponíveis para fazer dinheiro. Após sete anos tinha criado a 4A, maior empresa de telemarketing do Brasil.
No fim da década de 1990 surgiu a oferta de compra da empresa  Telefônica, que abocanhou sua galinha de ovos de ouro por US$ 120 milhões.

 

Foto: Claudinei Plaza
"Trabalho muito e já levei vários tombos e muitos tropeços por ai”. Foto: Claudinei Plaza

HERANÇA DE VIDA

Nascido em família de classe média do Rio de Janeiro, Alexandre Accioly, filho caçula entre quatro irmãos, foi abandonado pelo pai e viu tudo lhe faltar. Não só dinheiro, mas laços afetivos, referências e heróis que são precisos ter quando ainda se é pequeno.

Sentiu na pele, segundo ele, o que a falta de estrutura familiar pode provocar na vida. Irmãos sendo criados por tios, avô materna sustentando a casa e a mãe com saúde frágil. Depois, presenciou o suicídio do irmão, refém das drogas e, ao mesmo tempo, a parada cardíaca da mãe que quase não aguentou o baque. Tempos depois, perdeu a avó que o criou num atropelamento.

O menino, que hoje pode arrotar caviar se quiser, já passou fome e momentos financeiros de incerteza. Nunca teve carteira assinada e não pode fazer uma universidade. Não por não querer, mas por não ter condições. “Sempre tive a urgência de levar dinheiro para casa. Tinha de me virar para isso acontecer da manhã para a noite”, lembra.

Com apenas 8 anos teve a ideia do primeiro empreendimento. Comprou alguns caixotes e flanela e convenceu amigos sobre o quão promissor seria engraxar sapatos. Para ele, ficou a função de fiscalizar tudo de perto com rondas feitas de bicicleta. No fim do dia ganhava metade do valor total obtido por cada um.

Alexandre Accioly é católico fervoroso, reza todos os dias e ainda tem o telefone particular do Padre Jorjão (da Paróquia Nossa Senhora da Paz), sua companhia preferida em idas ao cinema. “Já tive uma relação oportunista com Deus, de só chamar quando precisava. Mas sempre tive fé que tudo pode ser melhor e diferente. Agradeço todos os dias por tudo que tenho



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