Ao tempo de Flávia

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Raquel de Medeiros

Foto: Nino Andrés
A jornalista Flávia Freire quer informar a  sociedade sobre a preservação do meio ambiente e contribuir com as futuras gerações. Foto: Nino Andres

Na redação e fora dela, a primeira pergunta de quem sabia que havíamos entrevistado Flávia Freire, 37 anos, era: “Ela é tão bonita quanto na TV?” Sim, ela é. Loira, com rosto delicado, corpo curvilíneo, chama atenção por onde passa. Só para se ter ideia, no dia da entrevista o estúdio panorâmico onde é apresentado o SPTV – e também onde as nossas fotos foram feitas – estava ocupado por empresários em visita. Os olhos deles estavam fixos na grande janela que dá vista para a ponte estaiada Octavio Frias de Oliveira e para a Marginal do Rio Pinheiros quando Flávia chegou. A partir de então, todos olhares se voltaram para ela. Queriam ao menos uma foto para ter aquele momento registrado. Mesmo pega de surpresa – e um pouco tímida –, Flávia cedeu aos pedidos.

Apesar da imagem de repórter e apresentadora ainda estar mais atrelada à beleza do que ao jornalismo – experimente jogar o nome dela no Google –, a preocupação da apresentadora está totalmente voltada ao trabalho. Coordenadora do projeto Respirar Rede Globo e amiga pessoal de Flávia, Cristiana Randow, comprova a tese. “Das apresentadoras que conheço e com as quais trabalhei, ela é das mais tranquilas. Talvez porque não precise muito se preocupar, já que é naturalmente bonita”, diz Cristiana.

Do que a apresentadora se gaba mesmo é de ter conseguido vingar o projeto, que fez sucesso dentro da programação do SPTV e foi finalizado no mês passado. Flávia concentrou-se no meio ambiente e se apaixonou. Com a ânsia de querer levar a mensagem adiante, mergulhou em histórias e entrevistas que procuram desvendar e esclarecer formas de tornar São Paulo cidade melhor para se viver. “A ideia foi minha e da Cristiana, não caiu de paraquedas. Queríamos abordar a poluição de maneira diferente, como nunca ninguém fez, com muita seriedade. Apresentamos para a Globo e ela abraçou”, explica. Assim, Flávia iniciou formato em prol do ambiente que deve se repetir nos próximos anos.

Com os olhos escuros e brilhantes, com aquela energia contagiante de quem acaba de ter uma epifania, é que ela descreve incansavelmente o quanto é importante dar o primeiro passo. “A gente não vai estar preparado nunca, mas é trabalho de formiguinha, tem de começar.”


ELA QUEM DÁ AS CARTAS AGORA

Depois do sim da emissora para o Respirar, a jornalista questionou-se como iniciaria o caminho. Decidiu começar com reportagem em uma cidade que tivesse semelhanças com São Paulo e que também tivesse tido sucesso no combate à poluição. Trazer mais perto aquela sensação distante de que transformar só depende de nós. “Vimos que a que mais se parecia era a Cidade do México. Lá não é o melhor exemplo do mundo, mas acabou de sair do ranking das mais poluídas. Fiquei impressionada de ver como lidam com esse assunto, a participação política, a clareza da população.”

Flávia não tira da cabeça o que viu por lá. Encantou-se com a substituição de frota de ônibus e táxis velhos, subsidiada pelo governo. “Carro velho não tem catalisador e polui mais. Então, o governo dá incentivo financeiro para que o dono do veículo possa trocá-lo por um mais novo.” A apresentadora ressalta a inspeção veicular – já incorporada na Capital – que acontece na Cidade do México duas vezes ao ano.

“Não sei até que ponto tudo isso é muito político, mas aqui você incentiva quem tem carro velho, como por exemplo com a isenção de IPVA. Não sou contra carro antigo, tem muito carro velho bem cuidado e regulado que não tem problema de estar na rua”, explica.

Flávia dedicou-se tanto ao assunto que cada pergunta ela aproveita para embasar com informações que foi colhendo durante todo este tempo em que está completamente focada no projeto. “O metrô começou a ser construído na Cidade do México na mesma época que o nosso. Hoje eles têm 201 quilômetros. A gente tem 70. Há os corredores de ônibus rápidos, sinais inteligentes que abrem com aproximação do ônibus e é a primeira cidade da América Latina que tem aluguel de bicicletas. É fantástico! Por que a gente não pode ter esse sistema aqui se existe na Europa toda?”, questiona.

 
EXEMPLO PRA DAR


Para a jornalista, sistema de transporte público eficiente é uma das principais formas de melhorar o ar: “Cerca de 90% da poluição de São Paulo vem dos veículos”, diz. E Flávia não fica só no papo. No dia a dia, ela costuma deixar o carro – e a preguiça – de lado para pedalar. “Quando vou à padaria ou à locadora, por exemplo, eu pego a bicicleta. Outro dia fui a um shopping perto de casa de bicicleta.”

O novo hábito também gerou em Flávia nova forma de enxergar o mundo. Hoje ela se considera uma motorista mais consciente. “Você passa a respeitar muito mais o pedestre, o carro e o ciclista. Quando estou de carro, por exemplo, dou passagem. Não há dúvidas de que criei mais consciência.”

Engajada, procura passar o aprendizado para os que estão à sua volta. Nessa entram, principalmente, a família e os amigos. “Eu acabo contagiando todo mundo que está perto de mim.” Difícil é falar de meio ambiente sem parecer monótono. Infelizmente, a consciência da maioria dos brasileiros ainda é superficial no que se refere ao tema. Talvez porque pareça que nunca vai faltar nada. Talvez porque ninguém sentiu na pele a consequência do abuso dos recursos naturais. A maneira de viver de Flávia nem sempre é bem interpretada. Ela acha graça. “Eu não sou ecochata, não”, defende-se.

Para ela, a culpa dessa limitação é o mundo frenético, que impede os lampejos de consciência. “Você tem mil coisas para fazer no seu dia, eu tenho mil coisas para fazer no meu, então, com certeza, os que estão mais ligados ao meio ambiente são chamados de ecochatos porque vivem e se preocupam realmente com isso.”

Em auto-avaliação, ela admite que não foi s



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