O poderoso vilão

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Heloisa Cestari

Foto: Anna Fischer
Depois de interpretar corruptos assassinos na TV e no cinema, Herson Capri quer agora tirar férias das patifarias. Foto: Anna Fischer

“Não faça isso comigo. Queria ser eu mesmo”, disse o ator Herson Capri assim que iniciamos entrevista no Projac e disparei pergunta sobre seu lado vilão. Nas telas, ele é antagonista por excelência. Quem não se lembra do violento Capitão Justo, que colecionava meninas virgens para explorá-las sexualmente na minissérie Teresa Batista (1992), e do temido Coronel Teodoro, que jogava sujo para se apossar das terras de José Inocêncio durante toda a trama da novela Renascer (1993)? Mas os personagens em nada se assemelham ao ator que lhes dá vida. Depois da brilhante atuação como o banqueiro corrupto Horácio Cortez em Insensato Coração e de ganhar as telas de cinema na pele de um personagem que também rouba e manda matar a mulher na comédia Não se Preocupe, Nada Vai Dar Certo, de Hugo Carvana, Capri quer agora tirar férias das canalhices. E só delas.

Antes mesmo de gravar os últimos capítulos da novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, o ator já experimentava o figurino do seu próximo personagem, Alberto, da novela Aquele Beijo, de Miguel Falabella, que estreará em outubro no horário das 19h. Desta vez, um cara do bem, empresário de uma grande loja de moda, casado há muitos anos com Maruschka (Marília Pêra), mas que se apaixona por uma mulher bem mais jovem. Este, sim, modelado à imagem e semelhança do Capri de fato, que nunca perde a oportunidade de derreter-se em declarações à mulher, Susana Garcia, 19 anos mais nova que ele. “Mas isso não significa que eu sou como o Alberto. Ele é empresário, eu sou ator. Me apaixonei pela Susana pelas qualidades dela. Além de ser linda, ela é uma mulher inteligente e tem série de virtudes que me conquistaram, e não o fato de ser mais nova,  absolutamente.”

Em casa, Capri faz o estilo paizão e marido fiel. Tem quatro filhos: Laura, 32 anos, do primeiro casamento; Pedro, 30, da segunda união, com a atriz Malu Rocha; e os irmãos Lucas, 13, e Luiza, 10, frutos da história de amor com Susana, que permanece caliente há 16 anos.

Neste tempo, não faltaram oportunidades de cada um demonstrar o amor que sente ao outro. Principalmente quando o ator enfrentou a batalha contra um câncer de pulmão. “A primeira coisa que pensei foi em cuidar da papelada, passar as coisas que estavam em meu nome para o da minha mulher, colocá-la em conta corrente conjunta no banco, enfim, deixar minha família amparada caso eu morresse. Tive uma postura bem racional, até demais.”

A chance de sobrevida para aquele tipo de nódulo era de apenas 10%, mas a precocidade do diagnóstico garantiu o sucesso do tratamento. Na ocasião, Capri se preparava para interpretar Jesus no espetáculo da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém, em Pernambuco. Foi orientado a fazer dieta seguida de lipoaspiração para perder alguns quilos e acabou descobrindo a doença.

Embora seja ateu, admira os valores pregados pelo Cristo. “É um personagem incrível, que representa a dor da humanidade, que sofre pra caramba. Tem gente morrendo de fome até hoje. É uma crítica que põe o dedo na ferida e chama para a solidariedade.”

A pele de cordeiro, entretanto, não lhe dá tanto ibope quanto a de lobo. Na própria encenação de Páscoa, Capri encarnou duas vezes Pilatos. “Também adorei interpretá-lo. Ele é épico, se veste de veludo e dourado, é o vilão da omissão.”

Nada se compara, porém, aos crápulas da telinha. Dos 34 trabalhos, menos de um quarto foram como antagonista. Mas quem se lembra dos demais? A explicação, ele traz na ponta da língua: “O vilão marca muito mais, é determinante na trama”. E adivinhe qual foi o seu preferido. Cortez, claro. “Ele bateu todos os outros. É um personagem bem escrito, coerente, completamente canalha, um gângster, como disse a Dilma.”

Curiosamenrte, o banqueiro que acaba atrás das grades em Insensato Coração foi o antagonista que mais dividiu a opinião pública. “Os outros vilões caíam na comédia, de tão maus e bobos que eram. O Cortez não: é um gângster, um assassino. Mas tem alguma coisa que fascina mulheres e  homens. Não sei explicar o que é.”

Com outros personagens, o retorno do público não foi tão afável. “Fui muito xingado nas ruas por causa do vilão Sérgio Mota, da novela Partido Alto. Gritavam assassino, ladrão. Uma vez, estava levando o meu filho Pedro para a escola e ele perguntou: ‘Pai, você é ladrão?’. Na época, ele tinha 7 anos.”

Tempos depois, a história repetiu-se com o maquiavélico Marco Monterrey, de Anjo de Mim. E a hostilidade é apenas um dos desafios enfrentados pelos vilões. Cenas de ação e tiroteios também são rotina no currículo de todo mau-caráter profissional. Para o personagem Horácio Cortez escapar da cadeia de forma tão cinematográfica quanto a fuga do criminoso Escadinha do presídio de Ilha Grande em 1986, Capri teve de suar a camisa. “O piloto do helicóptero era excelente e a gente sabe que os tiros são de festim. Mesmo assim, é uma cena tensa, que dá medo. Até me arrisquei um pouco, me pendurando na corda, e depois soltei para dar lugar ao dublê.”

Essa não foi a única vez que o ator viu os níveis de adrenalina dispararem durante uma gravação. Em Desejos de Mulher (2002), ele teve de fingir um desmaio embaixo d’água, a 30 metros da superfície. E no também global Caso Verdade, seu carro afundou em uma lagoa. “A queda foi com dublê, mas eu tive de descer com um mergulhador, colocar o cinto de segurança e, quando começou a gravar, soltar e subir. Felizmente, contei com a ótima direção do Vinícius Coimbra.”

A dois meses de completar 60 anos, ele esbanja saúde para este tipo de desafio. Malha sempre e corre até quatro vezes por semana. “Também faço musculação, mas não é para ficar sarado. É para me sentir bem”, ressalta Capri, que faz questão de exaltar a simplicidade como estilo de vida. “Não gasto dinheiro com roupas nem comigo. Também não tenho preocupação com carrão ou moda. Gosto de um bom vinho, boa comida... mas se tiver arroz com feijão eu adoro; um ovo frito c



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