Desprovido de qualquer censura, Rodrigo Faro não tem medo de pagar mico e se firma como um dos principais apresentadores da atualidade. Foto: Nino Andrés

Microfone como instrumento de trabalho, risada cativante, piadas com a plateia, habilidade em comunicar, voz e trejeitos característicos, jargões, olho no olho com o telespectador, identificação com o popular. Essas características são comuns ao apresentador de programa de auditório. Embora muitas atrações no ar hoje tenham esta figura, apenas alguns se destacam e entram para a história, tal como Chacrinha.
 
Por anos e anos, Silvio Santos reinou absoluto nos lares brasileiros e, embora tentasse emplacar herdeiros como Gugu e Celso Portiolli, há um jovem apresentador que está mais perto de tomar o posto do Homem do Baú: Rodrigo Faro. E eles sabem disso. Tanto que, após receber o Troféu do século 21 o rei da TV Imprensa 2010 e 2011 de Melhor Apresentador (título já concedido a Faustão e Luciano Huck), Silvio demonstrou interesse em sua contratação.
 
Por enquanto, Rodrigo Faro, 37 anos, é o rei, da Rede Record. O clima nos bastidores do programa O Melhor do Brasil não me deixa mentir. Passar duas horas acompanhando o trabalho do paulista-piadista é tarefa fácil e prazerosa. De um cantinho do local destinado à plateia, a repórter que vos escreve vê e sente a atmosfera descontraída que cerca os mais de 300 envolvidos (50 na produção e 250 na plateia) na gravação do programa transmitido aos sábados à tarde.
 
O público, que está ali há cinco horas, obedece aos pedidos dos animadores. A plateia é composta, em sua maioria, por mulheres. São as ‘colegas de trabalho’ de Rodrigo Faro, que ficam animadas com o anúncio do quadro de maior sucesso do programa: Vai dar Namoro. Se a memória não falha, Em Nome do Amor (na década de 1990) tinha o mesmo intuito de formar casais, mas é claro que os beijos eram menos picantes.
 
Diferentemente do formato norteamericano/mexicano escolhido por Silvio, no qual ele fica bem no meio da plateia, na Record as pessoas são posicionadas em arquibancadas, no estilo europeu. Isso permite que todos os olhares fiquem voltados para um só lugar, o centro do estúdio. Vestido de forma bem mais descontraída do que o Sr. Abravanel – no lugar do terno e gravata, blusa de manga comprida azul, calça jeans e tênis – e com o microfone em punho, não preso ao pescoço, está o causador de tanto alvoroço, a verdadeira razão para os picos de audiência da atração: Rodrigo Faro.
 
É impossível não se envolver e comentar com a pessoa ao lado como o apresentador é talentoso e engraçado. “Ele é melhor do que na TV. Dá para sentir quando a pessoa faz o que gosta. É gente como a gente“, disse a aposentada Francisca Pinheiro, 73 anos, também fiel  telespectadora do ‘Seu Silvio’. Ela levou a sobrinha de Araripe, no Ceará, para participar. “É o que mais estava esperando ver em São Paulo. Valeu a pena“, declara Célia Pinheiro, 24.
 
Como o mestre Silvio Santos, Rodrigo conduz o programa brincando. Com um ponto no ouvido, comunica-se com a diretora Ritinha – como ele a chama –, faz piada com os participantes do quadro, interage com os colegas de elenco, fala com o câmera, faz careta, dança e ainda arranja tempo para fazer propaganda de algum produto. Ele não para de falar um minuto sequer. Cansa só de acompanhar. E não são apenas as semelhanças artísticas que unem Faro ao dono do SBT. Embora quando Rodrigo nasceu, em 1973, o carioca já fosse um grande comunicador, Faro, assim como Silvio, também teve de ajudar em casa na adolescência. Não foi preciso ser camelô, mas virou artista aos 9 anos. “Inicialmente, foi uma necessidade. Sabia que tinha a obrigação de ajudar.“
 
O talento está no DNA. A diretora de O Melhor do Brasil, Rita Fonseca, reforça a teoria. “Rodrigo dá brilho a tudo o que faz. É empenhado, sugere ideias, não tem vergonha de pagar mico, ri, chora. É desprovido de qualquer censura, se diverte com ele mesmo. A minha função é apenas ponderar quando acho que não ficou bom e dar uma brecada quando está exagerado. De resto, ele incorpora o programa de verdade.“ Segundo a diretora, a única coisa que deixa o apresentador de mau humor é fome. Por isso, há pausas para almoço e lanchinhos durante as gravações.
 
Rodrigo Faro também é especialista em pagar micos. Quem lembrar de uma das dezenas de vezes em que Silvio Santos caiu na água, disse coisa que não devia e rolou na esteira durante brincadeira de palco vai ver semelhanças imediatamente entre os dois também neste ponto. Por isso, o quadro Dança Gatinho – no qual o apresentador da Record imita um artista a cada beijaço dos convidados do programa – é sucesso. O homenageado da vez é Zeca Pagodinho.
 
Nessa hora, ele corre para o camarim para a transformação. Enquanto a cabeleireira Jê estica os fios (ela não é tão íntima quanto o Jassa, mas a única a tocar no cabelo de Rodrigo) e a maquiagem traz as características principais do sambista, Faro brinca com as assistentes de palco e fica entusiasmado com foto de uma publicação que o compara a Silvio. “Ficou legal, né?“, pergunta para a equipe. Os olhos dele brilham ainda mais quando encontra uma foto tirada com as filhas (só duas, por enquanto, já que ainda não alcançou a marca de seis filhas do Sr. Abravanel) para uma campanha. “Nossa, como estão lindas.“
 

“Adoro e agradeço por ter essa vida corrida.“ Foto: Nino Andrés

Muito simpático, Rodrigo se desculpa pela correria e comenta a comparação com o apresentador do SBT. “Ele é uma referência para mim. Fico muito feliz e orgulhoso de ser considerado um grande comunicador como o Silvio“, diz o apresentador. Ele acredita que seus diferenciais são naturalidade, dedicação e humildade. “Não quero ser galã. Faço piada comigo mesmo e trabalho muito com o improviso. Sou o que sou sempre, sem n