O palco é para poucos

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Raquel de Medeiros

Foto: Divulgação
Fazer sucesso e sobreviver da música exige mais do que talento e sorte. Foto: Divulgação

Todo show é a mesma coisa. Eles entram e a plateia vai ao delírio. Não são jovens, não começaram agora, não estão no topo das paradas, mas conseguiram façanha para poucos: manter admiração do público, músicas nas rádios e o tão almejado sucesso na carreira ao longo de mais de 30 anos.

A banda Roupa Nova, composta por Paulinho, Sergio Herval, Nando, Kiko, Cleberson Horsth e Ricardo Feghali surgiu em agosto de 1980 e é uma das que estão mais tempo na estrada com a mesma formação. Depois do primeiro hit, Canção de Verão, não parou mais. É responsável  por mais de 50 músicas que fizeram parte de trilhas de novelas brasileiras. Como esquecer de Dona? A música que foi sucesso na global Roque Santeiro em 1985 ainda é uma das mais cantadas pelo público nos shows. Coração Pirata, Começo, Meio e Fim e Whisky a Go Go também não ficam de fora.

O que eles conseguiram é o sonho de dez entre dez grupos e cantores que se lançam no mercado a cada mês. A fórmula, no entanto, é difícil de se alcançar. Só talento não adianta. Sorte também não.

Para Serginho Herval, o segredo é não parar no tempo. “Procuramos sempre estar atualizados, com instrumentos novos, antenados com a evolução do mundo em todos os níveis. Por isso acho que o nosso som atravessou várias gerações e esperamos atingir mais.”

Outra banda que surgiu nos idos dos anos 1980 e que não só arrebatou gerações como também venceu grave tragédia pessoal para ressurgir ainda mais forte – e, provavelmente, indestrutível – foi Os Paralamas do Sucesso. Eles foram os primeiros a gravar Renato Russo, passaram pelo Rock in Rio, misturaram referências norte-americanas do rock com sonoridades latinas e ganharam personalidade própria. Foram parar no Festival de Montreux, cantaram sobre amor, criticaram a política, passaram pela crise da era Collor, caíram na crítica e se reinventaram. Em 2002, talvez o mais difícil dos desafios. O acidente e a perda da mulher do vocalista  Herbert Vianna, junto com a memória e os movimentos do cantor poderiam ter colocado fim à primeira banda brasileira reconhecida internacionalmente. Mas não. Como a fênix, eles retornaram à cena da música brasileira, renovados. 

A fórmula de sucesso parece esbarrar novamente na capacidade de se reconstruir, o que não exime nenhuma destas bandas da luta, do carisma, do estudo, de um pouco de sorte e, é claro, do talento, que já lhes é nato. Uma mistura explosiva que é obtida, como já dissemos anteriormente, por apenas alguns escolhidos e que, ao que nos parece, cada vez mais raros.

Para o colunista de música do Diário do Grande ABC, Vinícius Castelli, a música virou produto descartável, fruto de um mercado que – assim como nos educou a rápida internet globalizada – é sedento por novidades e prazeres imediatistas, sejam estes de qualidade ou não. “Hoje um novo grupo aparece, lança um disco com produtor dando pitaco em tudo – afinal o álbum tem de vender – com duas ou três músicas que tocarão em todos os lugares. Lança outro, talvez um terceiro, e acabou. Não tem força para se manter. Isso não vale para todos. Temos, sim, muita gente talentosa e muita banda honesta, que acredita realmente na música. Mas é difícil conseguir espaço sob as luzes”. Na opinião do crítico, é necessário muito mais do que talento e ousadia para sobreviver.

 

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A banda Jim is the Cheap Jack busca espaço no mundo da música. Foto: Divulgação

PRIMEIRO PASSO

Se mesmo assim você sente que pode fazer a diferença, começar a se apresentar com shows amadores para os ‘mais chegados’ pode ser uma boa maneira de dar o primeiro passo, segundo a sugestão do produtor e jurado do programa Ídolos da Record, Marco Camargo.

O próprio Serginho Herval, do Roupa Nova, fazia shows para a família, como brincadeira de criança. Aos 5 anos, tocava em latas de leite em pó, imitando todos os movimentos de seu baterista predileto, o Ringo Starr, dos Beatles. Ganhou uma bateria do pai e, aos 10 anos, tocava nos bailes em festas escolares e formaturas. Deu no que deu.

João Lucas e Pedro, que moram em Tarumã, no interior de São Paulo, seguem a sugestão. Tocavam para os amigos em rodas de viola e churrascos. Por incentivo dos parentes decidiram gravar um CD independente. Aos poucos começaram a ser chamados para cantar em festas de aniversário de cidades do Interior e rodeios. “A gente tem que tocar muito neste tipo de evento para se tornar conhecido, fazer contatos com outros artistas renomados para que eles também conheçam o nosso trabalho”, explica João Lucas, 20 anos. Para Pedro, 18, a fase mais difícil já passou. “Hoje fazemos cerca de dois shows por semana”, comemora.

O baterista Rodrigo Pereira, 27, também começou a tocar para os amigos, no colégio. Com o palco montado no meio do pátio, ele sabia que tinha vencido uma importante etapa. “Bandas de rock não eram muito bem aceitas num colégio de freiras.” Onze anos depois, Rodrigo divide-se entre o trabalho administrativo num hospital de São Paulo e apresentações em bares e casas noturnas da cidade com as bandas R.A.R.D e Direct Rock. Mas almeja mais, quer viver de música. “É um sonho e um compromisso comigo. E onde há uma vontade há um caminho.”
 

CAMINHO DE PEDRAS

O mundo musical pode não ser tão colorido como se pinta. O auxiliar de Tecnologia da Informação e guitarrista da banda Gaia, Cássio Aluizio Medici Silvério, 24, sente dificuldade de emplacar o som, já que vive em um País onde o hardcore não é bem aceito. “O Brasil é conhecido pelo Carnaval, samba e MPB. Infelizmente, a cultura não abre espaço para outros tipos de som e isso dificulta a entrada de grupos n



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