Das praias cariocas aos shoppings de SP

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Heloisa Cestari

Foto: Claudinei Plaza
Presidente da incorporadora  Multiplan, José Isaac Peres aposta na sorte e nos números para construir shoppings e cativar consumidores. Foto: Claudinei Plaza

O trevo de quatro folhas, estampado na logomarca da empresa que fundou em 1975, deu sorte a ele. “Sou uma pessoa um pouco mística”, afirma o economista, sócio-fundador e presidente da Multiplan, José Isaac Peres. Ingresso no setor imobiliário ainda jovem, o executivo defende com unhas e dentes o seu segmento, de shoppings, dentro desse mercado. Para ele, a fórmula é simples: “Quem vende recebe uma vez. Quem aluga recebe três.”

Recém-chegado ao Grande ABC, com um shopping em São Caetano previsto para iniciar as atividades em 27 de outubro, Peres tem os números como amigos desde o início da carreira. Seu primeiro empreendimento foi vendido em 19 dias. E hoje, sócio-fundador de uma das maiores empresas do mercado imobiliário no País, não para de saborear bons resultados. A companhia obteve lucro de R$ 63,7 milhões no primeiro trimestre, crescimento de 34,2% em relação ao mesmo período do ano passado.

Carioca de Ipanema, Peres passou boa parte da infância e adolescência curtindo as areias da Praia do Leblon. Filho de pais de classe média do Rio, iniciou a vida profissional cedo. Para complementar a renda familiar, trabalhava como corretor de imóveis. Desde cedo contava com a habilidade comunicativa. E não deixava de lado a  facilidade de detectar oportunidades. Tinha 19 anos quando entrou no ramo, mesmo período em que ingressou no curso de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Os projetos arquitetônicos lhe agradavam. Mas não supriam seus anseios na época. “Sempre tive vocação para mexer com arquitetura. Mas achei que um arquiteto não tinha muita chance de vencer na vida.” Foi assim que migrou para a Economia, também na UFRJ.

O curso, na década de 1960, era restrito. Poucas instituições ofereciam a cadeira. A Faculdade Nacional de Política e Economia da UFRJ já ultrapassava duas décadas de existência. E como todo universitário, Peres gostaria de crescer profissional e financeiramente. Na sua cabeça, a economia era sinônimo desta ascensão. O problema é que a felicidade da expectativa de um futuro promissor durou pouco. “No primeiro ano, nosso professor de Economia Política disse a seguinte frase que nunca mais esqueci: ‘Se vocês vieram aqui pensando que vão ficar ricos, estão redondamente enganados. Vocês vão ajudar os outros a ganhar dinheiro’”, lembrou o empresário. Neste momento começou a vida empreendedora. Ele estava com apenas 22 anos, mas conhecia as pessoas certas. O objetivo era criar uma incorporadora e promotora de vendas. Encontrou parceiros, convenceu-lhes de que o negócio era promissor, e fundou sua primeira empresa, a Veplan, em 1963. Para começar, um prédio residencial, no Rio de Janeiro, comercializado em 19 dias. Foi um caminho com valores monetários subindo e temporários caindo. Em menos de cinco anos de companhia, houve venda de prédio residencial inteiro em dois dias.


SHOPPINGS

A Veplan percorria o caminho do crescimento. Entre os passos, atingiu o desejo de muitos empreendedores. Em 1971, entrou em negociação na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Após a façanha, Peres conseguiu a fusão de sua ex-empresa com um grupo do setor e criou a Veplan-Residência.
A Bolsa carioca iniciou as operações em 1875. E era referência até meados de 2000, começo da migração das negociações do mercado acionário para a Bolsa de Valores de São Paulo.

Dentro da Bolsa, a empresa ganhou poder de fogo. A captação de recursos abriu espaço para grandes negócios. E foi em 1973 que Peres apresentou ao mercado sua primeira experiência com o segmento de shoppings. Com a Veplan-Residência fundou o segundo centro de compras da cidade de São Paulo, o Ibirapuera, em Moema. “Já existia o Iguatemi. Só que naquela ocasião era mais como uma galeria. O Ibirapuera nasceu como o primeiro shopping estruturado.”

Antigamente, Moema não era como hoje, conhecido como um dos melhores bairros para morar na Capital. A entrada do estabelecimento proporcionou o desenvolvimento da região ao longo dos anos. Prevendo isso, Peres vendeu sua participação na Veplan-Residência. “Meus sócios tinham vontade de serem banqueiros. Realmente, na época, chegamos a ter um banco, mas achei que não era minha vocação.” E em 1975, fundou a Multiplan.

Com vista para o segmento, o primeiro passo de Peres foi fundar o BH Shopping, em Belo Horizonte (MG). Ele sempre apostou em investimentos duradouros. “O negócio imobiliário é algo com o qual não se convive. Depois da venda, acabou. Já o shopping é parceria com a cidade, com consumidores e lojistas. É convivência para o resto da vida.”

Como economista, e afirmando que não trabalha mais por dinheiro, mas sim por ideal e desafio, Peres revelou sua estratégia de rentabilidade. Além de calcular faturamento triplicado ao alugar, ele enfatiza o poder de interferir diretamente na valorização dos seus investimentos. “Veja o Morumbi: quando começamos, era  muito menor.”
Junto ao shopping, a região próxima ao cruzamento das avenidas Dr. Chucri Zaidan e Roque Petroni, estendendo ao percurso da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, também se desenvolveu. “Inicialmente eram empreendimentos periféricos. Hoje são epicentros das cidades. São as zonas mais valorizadas.”

Não é de hoje que os terrenos são caros. E a estratégia de Peres era comprar mais barato. Em seguida agregar valor ao espaço, com investimentos em benfeitorias, ampliações e desenvolvimento, que propiciassem a ascensão do imóvel e dos arredores.

Em Belo Horizonte (MG), por exemplo, o projeto BH Shopping vale hoje cerca de US$ 600 milhões. Quando lançado, girava em torno de US$ 10 milhões. A expansão atinge 5.900%. “São 60 vezes mais”, diz o empresário.


NÚMEROS DE SUCESSO

O faturamento da Multiplan é formado por 60% de negócios em locação. Os aluguéis dos espaços  garantiram à empresa, no primeiro trimestre, R$ 105 milhões de receita, crescimento de 17% sobre o mesmo período do ano anterior. No total, a empresa faturou R$ 173 milhões.

Os preços de locação são definidos para um teto de venda. Se



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