Consumir ou poupar?

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Marília Balbi e Gilmara Santos

Foto: Divulgação
Mulheres rompem a barreira e se firmam como investidoras da bolsa. Foto: Divulgação

A estabilidade econômica aliada à expansão dos salários deu à população brasileira mais acesso a itens que antes ficavam apenas nos sonhos. Eletrodomésticos e eletrônicos já estão presentes em grande parte dos domicílios do Grande ABC. Depois de adquirir bens de consumo, os brasileiros voltam-se para pensar no futuro e começam a investir, seja para a aposentadoria, viagens ou para comprar produtos de maior valor agregado, como carro ou casa. Pesquisa realizada pelo Ibope para a Anbima (Associação das Entidades Financeiras) revela que mais brasileiros estão aplicando seus recursos. A parcela de pessoas que não têm nenhum investimento caiu de dois terços para a metade desde 2005. Além disso, a média de idade dos compradores de planos de previdência, que era de 37 anos em 2007, hoje é de 34 anos.

As mulheres, que já ganharam espaço no mercado de trabalho, também começam a se destacar quando o assunto é investimento. A renda fixa  – poupança, fundos de DI e títulos públicos do Tesouro Nacional – ainda é a principal opção dessas novas investidoras. Mas elas também começam a apostar em aplicações mais ousadas, como a Bolsa de Valores. Dados da BM&FBovespa  (Bolsa de Valores de São Paulo) mostram que o público feminino já representa 25% dos investidores. Apesar de os homens ainda estarem na frente, a participação das mulheres cresceu em uma velocidade surpreendente. “Enquanto a quantidade de homens evoluiu 540% de 2002 para cá, o número de mulheres cresceu cerca de 900% no mesmo período“, diz Patrícia Quadros, gerente dos Programas de Popularização da BM&FBovespa.

Em 2002, a Bovespa percebeu o interesse feminino pelo mercado de ações e partiu para uma pesquisa em seis capitais brasileiras para entender quem era esta mulher da atualidade e descobriu que trata-se de uma empreendedora e que o consumismo já não é prioridade.

“Ela está preocupada com o futuro“, diz Patrícia Quadros, pensamento que fortalece uma “ligação com os nossos mercados, a longo prazo”.

Afinal as mulheres são mais da metade da população nacional, são maioria nas faculdades, ocupam 42% das vagas de emprego do País,  sozinhas sustentam 35% dos lares e, além disso, pesquisa da consultoria internacional Grant Thornton mostra que a brasileira é a que mais empreende no planeta, com uma taxa de 12% contra 4% da média mundial.

De olho neste mercado em expansão, a BM&FBovespa traça metas ousadas de crescimento. O objetivo é atingir 5 milhões de pessoas físicas investidoras na Bolsa no Brasil. Boa parte deste percentual será composta por mulheres. Esse número não se trata de uma previsão exata, “é uma provocação para evidenciar que o nosso mercado de capitais possui todos os fatores para se expandir“, diz Patrícia Quadros.


EDUCAÇÃO FINANCEIRA


O primeiro passo para quem pretende partir para o mercado de investimentos é definir sua meta, seja ela viagem, compra de bens ou aposentadoria. Decidida a finalidade da aplicação, o próximo passo é saber qual o período que o dinheiro ficará guardado. Exceto no caso da poupança, todas as demais modalidades têm cobrança menor de tributos quanto mais tempo o valor fica aplicado.

Especialistas afirmam que o importante é guardar uma parcela da renda, tratando esse percentual como qualquer outra despesa mensal. O ideal é que o valor destinado para investimentos não seja o que sobra do salário, porque assim dificilmente haverá uma rotina de aplicação. Para quem já está endividado, o primeiro passo é se acertar financeiramente. E é aí que entram os cursos de educação financeira promovidos por diversas instituições.

Se vivemos momento de estabilização da moeda, é preciso saber planejar e organizar a vida financeira. A palavra-chave é focar na educação financeira, com o objetivo, primeiramente, de não fazer dívidas. E numa próxima etapa,  com o dinheiro que sobrar, investir e multiplicar o valor aplicado.

Até o mês passado, mais de 3,1 milhões de pessoas foram atingidas por algum tipo de ação educativa oferecida pela Bolsa brasileira, a BM&F Bovespa.


MULHERES EM AÇÃO

Diante do interesse feminino, a Bolsa criou o programa Mulheres em Ação, em 2003. Uma unidade móvel viaja pelo País para mostrar o que é a Bolsa de Valores e qual a sua importância para a economia. O curso de educação financeira da Bovespa também chegou ao Exterior em palestras na Argentina e Suíça. “É um sucesso“, garante Patrícia Quadros. O programa abrange planejamento financeiro e ensina como investir em ações.

São vários exemplos de quem vai ao curso. É o caso de Ana Paula Martins, 25 anos, que trabalha na administração de uma grande empresa. Só daqui a dois anos conseguirá sair da dívida com um banco para quitar os cartões de crédito. “Acho uma deseducação a propaganda de uma loja popular na TV que mostra uma mulher dizendo que precisa daquelas compras – a sala aparece cheia de pacotes adquiridos no estabelecimento.“ Ana sente na pele, comprou mais roupas do que cabia no orçamento. Com a dica de uma amiga, que ganha menos do que ela, mas que fez o curso da Bovespa e aprendeu a poupar, ela foi atrás para resolver sua situação.
Com o mesmo sonho de fazer o dinheiro funcionar a seu favor, está no curso Iracy Marcondes, 32, bancária em dúvida se continua na profissão, mas que quer aprender a investir o dinheiro que recebeu ao sair da empresa. “Quero pensar no futuro, aprender a ter mais organização financeira, porque sempre gastava muito nas férias e fazia novo empréstimo no banco quando voltava para casa.“

Mesmo caso de Michelle Diehl, 29, que foi às aulas com a mãe Nélida, 66. Apesar de a mãe ser mais organizada, o pai era gastador. Michelle confessa que não teve controle com o dinheiro; e ainda se endividou ao pedir empréstimo ao banco para realizar um projeto de trabalho que não deu certo.

Durante o intervalo para o cafezinho, ela confessa que gosta das aulas de educação financeira, principalmente



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