A centenária Machu Picchu

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Leonardo

Foto: Divulgação
Cidade perdida dos incas permanece envolta em neblina e mistérios no aniversário de 100 anos de sua descoberta. Foto: Divulgação

24 de julho de 1911. Durante expedição pelos Andes, o professor norte-americano Hiram Bingham (1876-1956) – espécie de Indiana Jones da vida real – descobre uma cidade inca perdida em meio às florestas do Peru. Nascia para o mundo um de seus mais enigmáticos cartões-postais: Machu Picchu, sonho de consumo de dez entre dez mochileiros sul-americanos. E não é para menos. Hoje, o labirinto de ruínas e templos erguidos a 2.400 metros de altitude, possivelmente a partir do século 15, forma um dos maiores patrimônios histórico-culturais do planeta.

Para descobri-lo, Bingham partiu do Vale Sagrado pelo Rio Urubamba e escalou a face leste da montanha. Tinha como guia apenas um menino, filho de um camponês local. E ficou estupefato quando se deparou com a magnífica cidade de pedra, localizada nas  escarpas dos Andes, como se fosse o ninho de um condor. “Nenhum outro lugar dos altiplanos peruanos é tão bem protegido pela natureza (...) Para impedir que inimigos ou visitantes indesejados alcançassem seus santuários, eles confiaram nas correntezas do Rio Urubamba, que são perigosas mesmo na época de seca, e na altura da chapada, flaqueada por precipícios e acessível por uma trilha tão estreita quanto o fio de uma navalha”, descreveu Bingham na ocasião.

Hoje, há outras formas de chegar ao topo da ‘Montanha Velha’ – tradução para Machu Picchu no dialeto quechua. A mais confortável é o trem que parte de Cuzco e vai até a estação de Águas Calientes. A viagem dura três horas. De lá, basta pegar um ônibus que deixa bem na entrada do sítio arqueológico.

Outra opção – mais procurada por aventureiros, místicos e turistas que esperam ‘vivenciar’ a viagem – é a Trilha Sagrada dos Incas, que dura cerca de quatro dias e exige bom condicionamento físico para encarar subidas íngremes e o temido mal de altitude, que provoca fadiga e dores de cabeça memoráveis por conta do ar rarefeito.

Seja lá como for, a vista que se contempla na chegada compensa qualquer esforço. Pedras de granito pesando toneladas formam as estruturas das construções e intrigam engenheiros não só pelo tamanho como pela perfeição dos encaixes. Como e por que aqueles monumentos foram erguidos em local tão inóspito, ninguém sabe ao certo: os motivos parecem tão nebulosos quanto a quase permanente neblina que insiste em cercar Machu Picchu de névoa e muito mistério. Mas as suposições mais aceitas pelos arqueólogos são as de que a cidade teria sido construída, sob o comando do inca Pachacutec, para conquistar a floresta ou proteger o enigmático império (e suas Virgens do Sol) dos ataques da Coroa Espanhola – motivo que explicaria o fato de grande parte das ossadas encontradas nas ruínas serem femininas.

Muitos pesquisadores consideram o local como a mais importante descoberta arqueológica do século 20 na América do Sul. Afinal, ao contrário de outros lugares em que os pesquisadores têm de se contentar com pequenos achados para comprovar teses e responder perguntas pendentes, em Machu Picchu tem-se uma cidade inca inteira à disposição, com construções habitacionais, escolas, praças, templos, depósitos, setores agrícolas, tumbas e tesouros que permanecem intactos há mais de 400 anos. Ou melhor, que permaneceram intactos até serem descobertos por Bingham, porque hoje, segundo a Unesco, esse patrimônio corre o risco de ruir tão rápido quanto sua construção.

Para evitar essa tragédia, algumas medidas têm sido tomadas pelo governo peruano, como a redução no número de turistas autorizados a percorrer a Trilha Inca – obrigatoriamente na companhia de guias credenciados.

Em abril, um lote com 363 peças incas retiradas de Machu Picchu por Bingham e levadas à Universidade de Yale, nos Estados Unidos, foi finalmente devolvido ao Peru.
E engana-se quem pensa que o destino é exclusividade de mochileiros. Não bastassem as confortáveis instalações do Machu Picchu Santuary Lodge, que oferece hospedagem de alto luxo bem ao lado das ruínas, recentemente a Orient-Express anunciou a inauguração, no ano que vem, do Palácio Nazarenas em Cuzco. O empreendimento, supervisionado pelo Instituto Nacional de Cultura do Peru, terá spa, a primeira piscina ao ar livre da cidade, degustações de especiarias peruanas, iPads nos quartos e um sistema de ventilação com ar rico em oxigênio e delicadamente perfumado para combater os sintomas do mal de altitude, entre outras regalias dignas dos deuses incas. Essa nem o visionário Bingham poderia imaginar.




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