Marinho que vem da terra

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Heloisa Cestari

Foto: Andréa Iseki
Prefeito de São Bernardo busca nas raízes interioranas  a sabedoria para ouvir companheiros, cuidar da sua saúde e traçar os rumos da cidade. Foto: Andréa Iseki

Ele é Marinho, mas pouco chegado ao mar. Pelo contrário: é na terra que o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), encontra suas raízes, mantém a forma e define o futuro do município. Da infância na roça de Santa Rita do Oeste, no interior de São Paulo, ao lado de 13 irmãos, ele traz a experiência de pisar o barro para que nenhuma obra fuja do seu controle. “Preciso ver com os pés”, diz, sempre que um projeto apresentado na sala de reuniões do gabinete parece estar com o andamento diferente do planejado. E para vistoriá-los, o ex-líder sindicalista de signo elemento terra não poupa tempo nem disposição. A fama entre seguranças, secretários, assessores e outros funcionários públicos é de alguém que dorme pouco e assume muitos compromissos. De fato, dá trabalho acompanhar seu ritmo. A equipe da Dia-a-Dia passou uma sexta-feira com o prefeito, desde as 7h, quando vistoriou obras do Hospital de Clínicas no Alvarenga, até as 21h, momento em que o chefe do Executivo prestava contas à comunidade em reunião do Orçamento Participativo na Avenida Redenção. E o seu expediente estava longe de encerrar, tendo em vista que ainda faltavam 16 pessoas na fila para questionar os rumos da administração municipal ao microfone.

Ao seu lado na bancada, a mulher e secretária de Orçamento e Planejamento Participativo, Nilza de Oliveira, apresenta a equipe, os parlamentares e intermedeia as discussões. A despeito do título de primeira-dama e da fama de dama de ferro da administração, ela garante manter relação de cumplicidade com o marido. “Aqui (na Prefeitura), ele é um chefe exigente. Levo bronca até pelos outros secretários. Mas em casa a relação é outra”, assinala Nilza, que prefere a designação de secretária a ser chamada de primeira-dama.

Em março de 2009, a contratação de Nilza deu início a uma série de denúncias de nepotismo junto ao Ministério Público. Mas a súmula 13 do Supremo Tribunal Federal abre precedentes para cargos de primeiro escalão, como o do secretariado.

Para assegurar a saúde da relação, o casal mantém um pacto: “Não falamos de trabalho em casa”. E divide as tarefas em ambas as esferas. Sim, o prefeito também assume deveres domésticos. Vai ao supermercado, cozinha melhor do que a mulher, compra eletrodomésticos pela internet e, quando pergunto o que menos gosta de fazer na vida, é enfático: “Detesto secar louça. É melhor deixar no escorredor e depois só recolher”.

O lado roceiro aflora quando passam o fim de semana na chácara, em Riacho Grande. É nessas horas que o prefeito revolve a terra na horta, planta pimenteiras, transplanta orquídeas, ouve modas de viola e mostra o seu lado mais descontraído. “Tem fotógrafo que reclama que o Marinho não sorri. Mas, no dia a dia, ele é brincalhão, conta piada, joga bola com as crianças”, revela Nilza.

Também é na chácara que o casal reúne a família e curte momentos a dois. “Ele é mais romântico do que eu. Manda flores sem motivo especial e me liga todo dia para saber como estou”, observa a primeira-dama, que ri da diferença de 8 centímetros de altura entre os dois. “Tem homem que não deixa a mulher usar sapato alto para não parecer mais baixo. O Marinho não se importa, leva numa boa. Até gosta do fato de eu ser alta.”

Quando pergunto a ele o que pensa da mulher, o lado romântico se confirma: “A Nilza é a minha razão de viver”. Mesmo assim, a vida pública costuma gerar boatos que colocam muitas histórias de amor à prova. Com o casal Marinho não foi diferente. Durante a eleição municipal de 2008, o então candidato petista entrou com processo na Justiça para impedir que o jornal Folha de S. Paulo publicasse reportagem sobre suposto envolvimento com prostitutas na Europa. “Trata-se de uma inverdade. Disseram que fui à Alemanha participar de um bacanal, quando, na verdade, fui defender a permanência da Volkswagen no Brasil. Esse cidadão que me acusou foi demitido por justa causa e está preso”, disse Marinho na ocasião, apresentando ao jornal Diário do Grande ABC nota de esclarecimento da montadora.

Polêmicas à parte, de uma coisa não se pode duvidar: o prefeito são-bernardense tem apreço à família. Fotos dos dois filhos do primeiro casamento – Heloiza, 23 anos, e Marcos, 28 – e dos netos Luiz Eduardo, 2, e Tiago, 1, dividem espaço no gabinete com imagens de Lula, Dilma e estátuas de santos. “Ele está curtindo muito ser avô. Às vezes, nem repara na filha, vai direto no neto. Adora criança”, observa Nilza. “Houve um feriado em que ele viajou ao Interior para visitar cada um dos irmãos, pingando de cidade em cidade”, completa o diretor de comunicação Raimundo Silva.

Na Prefeitura, vários funcionários o definem como uma pessoa afetuosa. “Ele é muito humano, tem sensibilidade para analisar cada situação e cada pessoa”, diz a secretária Edna Ferraro Artuzo. “Tem vocação para ser político: é calmo, afável e duro quando preciso”, ressalta o secretário de Governo, Maurício Soares. “Ele é um caipira que veio do mato, que tem um coração maior que ele e que compreende as limitações das pessoas. Sempre se preocupa com a família e sabe liderar equipes. Não acha que faz tudo sozinho”, completa um de seus irmãos mais velhos, Brás Marinho, 55 anos.

Mas as semelhanças entre o prefeito e o pai de família acabam aí. No papel de chefe do Executivo, Marinho é sério, centrado, o que pode ser traduzido como sinal de equilíbrio pelos situacionistas e como falta de carisma pelos oposicionistas. “Houve ocasião em que alguém avaliou que eu não tinha carisma. Isso levantou uma discussão danada... mas há muitas formas de ser carismático”, filosofa.

No lar, Nilza afirma que ele paga para não entrar numa briga. “Discutir com ele é perda de tempo. Ele não reage com o fígado, mesmo na política.”

Como líder sindical, ministro (ocupou as Pastas da Previdência Social e do Trabalho e Emprego durante o gove



Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados