Mais que companheiros

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Eliane de Souza

Foto: Divulgação
Contato com animais beneficia saúde e transforma vidas. Foto: Divulgação

Não é de hoje que os cães são considerados os melhores amigos do homem. De uns tempos para cá, no entanto, psicólogos e cientistas têm apontado que a interação com animais proporciona outros benefícios ao ser humano. Além de fiéis companheiros, os bichos oferecem apoio emocional às famílias e podem colaborar no tratamento paliativo de doenças como o câncer e de problemas crônicos nas áreas de psiquiatria e fisioterapia. A Terapia Assistida por Animais é aplicada com sucesso em hospitais, creches, escolas, orfanatos e asilos.

“A afeição pelos animais é considerada necessidade humana de se sentir amado sem ter de oferecer nada em troca. Principalmente os cães demonstram afetividade sem preconceitos ou julgamentos”, explica a psicóloga Juliana Monte da Costa.

A terapia assistida por animais foi introduzida no Brasil pela médica Nise da Silveira na década de 1950, para tratamento psiquiátrico. Na época, acreditava-se que a presença de animais facilitava apenas a socialização e a comunicação entre pessoas. Mas pesquisa científica realizada na África do Sul em 2000 por Johannes Odendaal constatou que os benefícios são muito maiores. Desencadeia ação fisiológica ligada aos efeitos emocionais levando à liberação de neurotransmissores como endorfina, dopamina e feniletalamina, além dos hormônios prolactina, ocitocina e a redução do hormônio do estresse, o cortisol.

Com base nestes resultados, verificou-se que o tratamento com auxílio dos pets reduz pressão arterial, frequência cardíaca, triglicérides, mau colesterol, depressão, ansiedade e estresse. Ao mesmo tempo, proporciona sensação de felicidade, melhora a aceitação da reabilitação e motiva o paciente no trabalho de recuperação. Vale lembrar que se trata de terapia complementar, não substituindo o tratamento adicional de fisioterapia ou terapia ocupacional.

A presidente do Instituto Nacional de Ações e Terapias Assistidas por Animais, Silvana Fedeli Prado, explica que o grande diferencial é o clima lúdico proporcionado pela presença dos cães, criando ambiente ideal para a recuperação. Exercícios executados em forma de brincadeira proporcionam melhora das articulações, equilíbrio e fortalecimento dos músculos, além de favorecer a autoestima, a confiança e a socialização. Em alguns casos pode-se, inclusive, reduzir medicamentos psicotrópicos e analgésicos.

O resultado é um número cada vez maior de instituições que lançam mão da pet terapia como tratamento complementar, a exemplo da ala psiquiátrica do Hospital das Clínicas, das enfermarias adulta e infantil do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, do núcleo de reabilitação do Hospital Santa Marcelina e de quatro asilos no Estado de São Paulo.

Para que um cão ganhe status de terapeuta, independentemente da raça, é preciso ser muito sociável, ter interesse pelas pessoas, não ser agressivo nem medroso e nunca reagir à dor. Além de estar em dia com as vacinas, ser castrado e livre de parasitas, claro. Os cachorros trabalham três vezes por semana durante uma hora.

Silvana acrescenta que o trabalho com cães também é realizado com cardiopatas em fases de pré e pósoperatório e que em dez anos de atuação em ambientes hospitalares não houve caso de infecção causada pela presença dos animais.


RECUPERAÇÃO COM RITMO


Há muito tempo os cavalos são utilizados como instrumentos de reabilitação de pessoas com comprometimentos físicos, mentais ou comportamentais. As primeiras referências do uso da equoterapia remetem a 458-370 a.C., quando Hipócrates – o Pai da Medicina – aconselhou o recurso em seu Livro das Dietas. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina reconhece como prática terapêutica desde 1997.

Os principais benefícios são a melhora do tônus muscular, da postura e da coordenação motora. Segundo o psicólogo Fabiano Tiezzi, do Centro de Equoterapia Voo da Liberdade, em São Bernardo, o cavalgar atua sobre o sistema nervoso profundo, aquele que é responsável pelas noções de equilíbrio, distância e lateralidade. “O andar do cavalo se assemelha ao do ser humano e o movimento com ritmo e balanço faz com que a musculatura e a coordenação do praticante se fortaleçam.”

Além de proporcionar a sensação de independência, aumento da autoconfiança, do autocontrole e da autoestima. Ao andar, o cavalo faz com que o praticante execute involuntariamente movimentos tridimensionais horizontais (direita, esquerda, frente e costas) e verticais (para cima e para baixo). Após 30 minutos de exercício, o paciente terá executado de 1.800 a 2.200 deslocamentos.

A princípio, o percurso a cavalo no Voo da Liberdade é realizado em arena circular forrada de areia e acompanhado por equipe multidisciplinar formada por psicólogo, fonoaudióloga e fisioterapeuta. À medida que o cavalgador se sente mais confiante no manejo com o animal, o percurso pode ser realizado em trilhas pela Mata Atlântica que margeia a Represa Billings.

Somados a estes recursos naturais, o paciente é beneficiado com estímulos de vários sentidos. “No consultório médico, leva em média dois meses até criar identificação com o terapeuta e, a partir daí, passar a contabilizar os benefícios de um tratamento. Na equoterapia, esta identificação com o cavalo é imediata e os resultados são vistos rapidamente.”

Os efeitos da cavalgada são percebidos em Gabriel Barbosa Fiel, 3 anos, que sofre de má formação do cerebelo, o que resulta em baixa visão, dificuldades na fala e de manter o equilíbrio. Os pais – o operador químico Jonas Nascimento Fiel, 40, e a dona de casa Rosana Barbosa Clemente Fiel, 38 – contam que a criança demorou a dar os primeiros passos e aos 2 anos sofria várias quedas. Gabriel foi submetido a vários tratamentos de fisioterapia clínica e há dois meses incluiu a equoterapia na rotina. “A melhora do Gabriel é visível e surpreendeu a todos. Agora ele já consegue se equilibrar, está mais sociável e tamb&ea



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