Os bons ventos de Luiza

Envie para um(a) amigo(a) Imprimir Comentar A- A A+

Compartilhe:

Christiane Ferreira

Foto: Manuel Nogueira
Depois de dez anos de carreira e um selo independente, ela mostra maturidade e atitude ao escolher repertório fora dos padrões impostos pelas gravadoras e investir em composições próprias. Foto: Manuel Nogueira

O amadurecimento bateu à porta de Luiza Possi. Agora ela quer fincar os pés nas suas raízes musicais, no que viu semente tornar-se fruto próspero. E os bons ventos, tão cantados pela jovem mulher de 27 anos e tema do seu quinto CD, Bons Ventos Sempre Chegam, mostram que a brisa não soprou a favor da loira à toa.

Ser filha da cantora Zizi Possi já bastaria para trazer insegurança a qualquer ser humano que resolvesse encarar a mesma profissão da mãe. Como se não bastasse, o pai é o produtor musical Líber Gadelha, com quem Luiza trabalha desde o início da carreira e tem o selo musical LGK. Mas desde criança ela sabia o que queria: cantar. Aos 4 anos levou a mãe (ela faz questão de dizer que foi assim) ao show de Lulu Santos. Após Zizi ter sido convidada para subir ao palco, voltou à plateia e deparou-se com a filha aos prantos. O motivo? A pequena queria ter cantado também.

Assim Luiza confirmou de vez sua vocação. Porém, não ficou sob a confortável sombra materna. Foi atrás do que desejava depois de aparecer pela primeira vez no Programa do Jô, aos 16 anos. “Meu pai não queria me gravar (na época era presidente da Indie Records), só que aí outras gravadoras mostraram interesse em me contratar. Liguei para ele e disse: ‘e aí?’ E acabei gravando com meu pai.”

Da mãe, Luiza ouviu conselho que não obedeceu. Zizi pediu à filha para esperar mais três anos. Ela respondeu: “Mãe, tem uma gravadora inteira me esperando”. E lá foi a adolescente para o estúdio do produtor Rick Bonadio, com quem divide hoje a mesa de júri do programa Ídolos. A ficha de ter de lidar com o estigma de ser filha de Zizi só caiu tempos depois, quando, num programa, foi questionada por um jornalista sobre o que achava dessa comparação. “Falei, uau, não tinha parado para pensar nisso.”

Fugir das asas do pai e da mãe não foi planejado. A independência da menina vem de berço, foi criada dessa forma. Com os pais viajando a trabalho, percebeu que teria de se virar sozinha. E viu na profissão a possibilidade de conseguir a ‘carta de alforria’.

Na infância cresceu ouvindo James Taylor, Stevie Wonder, Prince e Michael Jackson. Atualmente, identifica-se com cantoras que compõem, como Norah Jones. Compor faz parte do universo de Luiza. Em seu último CD, seis das 13 músicas são de sua autoria, algumas com parceiros de fé, como Dudu Falcão. O exercício de criação passa por vários momentos, alguns de pura inspiração, em que a música vem fácil, outros de árdua tarefa de encarar uma folha em branco.

E foi na composição que Luiza se encontrou e imprimiu sua marca quando decidiu gravar somente o que se identificava, não o pop pedido por tantas outras gravadoras antes de ela e o pai decidirem lançar o selo LGK. Viu suas canções interpretadas por outros artistas, como a italiana Chiara Civello. “Corri atrás dessa história da composição porque é um lugar onde eu me sei. Precisava disso dentro da minha família para ser o que sou. Tenho um patrimônio.”

E, nesse caso, o exemplo da mãe Zizi de quebrar as amarras ficou latente nos genes da filha. Quando decidiu lançar o CD Sobre Todas as Coisas, Zizi enfrentou preconceitos por ter decidido fazer um álbum acústico. Apesar de a crítica ter torcido o nariz e a imprensa tê-la boicotado ao não tocar suas músicas, superou as dificuldades e conquistou prêmios.

Para Luiza, o comportamento da mãe a ajudou a moldar seu caráter. “Meu pai disse que eu sofri, pois perguntava por que minha mãe não tocava nas rádios, questionava se não a ouviria em novelas.” Foi um momento em que a família apertou o orçamento.

Em outras proporções, Luiza fez o mesmo com o disco Escuta, quando resolveu abandonar a veia pop e buscar repertório escolhido a dedo. “Ou gravo aquilo em que acredito ou vou trabalhar de forma burocrática.” Deu certo. Com Escuta Luiza recebeu duas indicações ao Grammy Latino. E para quem ouve a música homônima, de autoria de Ana Carolina, a emoção é latente, de uma intérprete-compositora que descobriu o seu lugar.  
 
 

Foto: Manuel Nogueira
Cheia de atitude, cantora demonstra amadurecimento para conduzir carreira longe do estigma de ser filha de Zizi. Foto: Manuel Nogueira

AMOR POR SAMPA

Nascida no Rio de Janeiro, Luiza foi para São Paulo com a mãe aos 6 anos. Depois só saiu de casa quando se casou com o ator Pedro Neschling. Desejava retornar à família que havia ficado no Rio. A notícia foi um choque para Zizi, mas Luiza diz que foi primordial para seu crescimento.

Numa dessas ‘coincidências’ do destino, retornou a Sampa em setembro do ano passado para ficar mais perto da mãe. Em outubro, Zizi foi internada com problemas na coluna e ficou seis meses em tratamento, passando por seis cirurgias.

Do Rio Luiza guarda carinho, mas encontrou seu lugar em São Paulo. Sente-se combinando com a cidade. Além disso, não gosta da invasão de sua vida na capital fluminense.

No momento, ela só tem o que comemorar: a recuperação e o retorno da mãe aos palcos pela primeira vez junto com a filha na gravação do seu DVD. Emocionante! A música escolhida foi a inédita Cacos de Amor, de Luiza e Dudu Falcão. No show, mãe e filha dividem a canção, ora em português, ora em italiano, cuja versão estrangeira foi feita por Chiara Civello. “Todo mundo que entra no estúdio chora, foi a maior honra porque, antes de ser minha mãe, Zizi tem critérios dignos de uma diva, mas não daquelas que ficam num pedestal, e sim de quem vai lá e põe a mão na massa. É a maior herança que podia ter.”

Apesar de ter ótima relação com a mãe, Luiza faz



Diário do Grande ABC. Copyright © 1991- 2024. Todos os direitos reservados