A dona do pedaço

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Andréia Meneguete

Foto: Nário Barbosa
Denize Apolinário comanda uma das maiores concessionárias automotivas da região e mostra como uma liderança feminina pode ser sinônimo de sucesso no segmento. Foto: Nário Barbosa 

Construir um império dentro de um setor essencialmente masculino e conquistar o respeito de todos os funcionários não deve ser missão fácil para uma mulher. Mas quando há delicadeza, jogo de cintura e paciência é possível que isso possa ser revertido a favor de um empresário. É desta forma que a andreense Denize Apolinário, 66 anos, mantém há 48 anos a maior concessionária da região, a Avel.

Por mais que os momentos e refeições familiares dentro de casa fossem marcados por conversas e assuntos que se relacionassem aos carros, não teve carta branca para conseguir trabalhar na empresa do próprio pai. Nos anos 1950 a sociedade se mostrava ainda mais paternalista, a mulher deveria apenas se dedicar aos filhos e ao marido. Mas a determinação foi maior. Passou por todas as áreas da psicologia, estagiou em clínicas, hospitais, escola. Quando precisou atuar na área de recursos humanos da empresa houve um entrevero: o pai não queria. 

“A família era contra, não foi nada fácil. Mas quando consegui uma oportunidade na Pirelli, meu pai recuou”, explica. Começou devagar para não causar estranheza e nem bater de frente com as regras da empresa. “Peguei coisas que não chocavam tanto, como a  integração e jornal para os funcionários. Não mexia em nada já estruturado. Chegou uma época que eu fiquei nessa área de RH, mas depois papai ficou um pouco doente, estressado e o médico pediu para ele sair da rotina. Logo, eu assumi”. 

Aliás, muita coisa em sua vida não foram flores. Em 1987, o ano mais difícil de sua vida. Ela teve que lidar com a perda do filho mais velho num acidente de moto. Já em 2005, o pai morreu por consequência de um infarto. “Perdi meu filho. Já era homem feito. Ele tinha 24 anos. Passar por isso e conseguir superar, nada me assusta mais. Não tem explicação. Não adianta”, desabafa. Com toda sua força, conquistada por meio da fé e de terapia, Denize se refez. Atualmente, vive numa versão mais light, trabalhando oito horas por dia, onde se dedica aos dois filhos, três netas e para o segundo marido, o engenheiro Paulo Ribeiro Campos Filho, com quem vive há 15 anos.

 
No batente

Algumas técnicas de liderança são bem presentes na sua forma de administrar o empreendimento que herdou do pai. Sob a sua batuta há 16 anos, a concessionária dá passos largos no setor e ainda se mostra exemplar em diversas iniciativas, como o atendimento e organização da pós-vendas. Para ela, o planejamento estratégico de crescimento da empresa deve ter participação direta dos funcionários.

Para que isso aconteça da melhor forma, os colaboradores não recebem projetos prontos, mas são estimulados a pensarem em como esboçar a estrutura ideal para a dinâmica de produção do dia a dia. Foi assim que ela conquistou há um ano uma das mais eficientes centrais de relacionamento com o cliente. Segundo a empresária, o diferencial está no agendamento dos horários de atendimento na parte da oficina. Projeto que foi difícil no primeiro momento devido à cultura dos clientes e dos próprios funcionários. Mas depois que tudo vingou, as metas e as cifras foram atingidas.

O montante conquistado após a implantação do projeto não é revelado, mas tudo parece ir muito bem, conforme o planejado.  “É excelente poder marcar hora e não ter de esperar um dia, como era antes. Potencializar os resultados para o cliente é melhor e para nós é muito bom. A Volkswagen traz diariamente donos de concessionárias para visualizarem nosso projeto. É algo que nos dá muito orgulho. O nosso atendimento é bom”, afirma.
 
 

Foto: Nário Barbosa
Denise Apolinário é sinônimo de sucesso. Foto: Nário Barbosa

Perfume de mulher

Dona de uma energia contagiante, Denize não consegue ter rotina tranquila. Vive arrumando compromissos. É daquelas que não conseguem dizer não, sempre cede a um pedido. Então, lá está ela participando de projetos sociais e de decisões do clube que é sócia, o Rotary, em Santo André. Como não bastasse dormir tarde, ela não cede ao cansaço. Acorda cedo todos os dias para fazer os 90 minutos de exercícios. “É preciso cuidar do motor que é nossa saúde, senão as coisas não funcionam bem”, profetiza.

A delicadeza e sensibilidade da empresária podem ser vista nos detalhes que cercam o interior da Avel. Por lá, sente-se de longe os toque e perfume de mulher. Atenciosa, acessível e sensível, Denize fortalece a empresa cada vez mais pelo lado emotivo que lhe é particular. No entanto, isso em nenhum momento tal característica soa como negativo. “Acho que aqui se tem a liderança pelo respeito, pelo exemplo, até pela minha maneira de ser, que é dar realmente dar valor à pessoa. Hoje, pode parecer que é um padrão, um clichê. Realmente sempre fui assim. Sem as pessoas ninguém faz nada. Se você não acredita no que fala, não age conforme diz, não se sustenta. Conta com todos eles. São funcionários antigos, uma equipe maravilhosa”. E os números comprovam o sucesso da liderança de Denize. São vendidos mensalmente cerca de 350 carros e cinco mil atendimentos na oficina da casa. Número significativo para a região.

Ela não se encanta com o saldo positivo dos negócios de forma deslumbrada. Ela gosta mesmo de acreditar naquilo que não se pode ver, mas realmente sentir. “Depois de algumas experiências da vida e processo de amadurecimento, aprendemos a dar valor ao que precisa. Demos importância a coisas pequenas. Todas aquelas que o dinheiro pode comprar são baratas. Não tem muito valor. O valor está no contato com as pessoas, no carinho, no amor.”