Ser mãe

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Miriam Gimenes

Uma amiga me confidenciou há pouco estar grávida. Fui a segunda pessoa a saber depois do pai da criança. Fiquei imensamente feliz com a notícia, como se a gestação acontecesse na minha barriga, e também por ser uma das poucas portadoras de confidência de tamanha importância. E, no início da conversa, já tratei de dar para ela todo panorama emocional e físico que a gravidez proporciona ao longo de nove meses (ou as tais 40 semanas, embora eu só tenha chegado até a 38ª).

Passei por isso duas vezes. Na primeira sofri um aborto natural por volta de seis semanas – o que é uma experiência absolutamente traumatizante, ainda mais quando não se sabe o motivo. Os médicos costumam dizer que o recomendável é esperar, no mínimo, três meses para o corpo se recompor. Quatro meses depois já tentei novamente. Eu tinha pressa. E novamente no teste de farmácia deu dois risquinhos. Posso dizer que este momento é o mais feliz e o mais angustiante da vida de uma mulher, porque não se sabe o que vem dali para frente. Jamais se sabe. E novamente, por volta das cinco semanas, tive sangramento e o medo de perder o bebê voltou, com toda força. Lembro de dizer para uma grande amiga minha: 'Não acredito que vou passar por isso de novo.' E ela, querida como sempre, só sabia me tranquilizar. “Sinto, de coração, que desta vez vai dar certo.”

Optei por acreditar nela, em Deus e segui. Fiz repouso de quase um mês, usei medicamento para segurar o bebê até os cinco, mas foram, confesso, nove meses de muita apreensão e expectativas. Tentei curtir ao máximo todo o tempo que meu filho cresceu na minha barriga, mas confesso que nem sempre consegui. O que eu queria era vê-lo a salvo, nos meus braços. Nas semanas finais de gravidez, outro problema: minha placenta envelheceu rapidamente. Foi do grau um ao quatro em questão de dias e eu nem sabia que isso existia. E o que acontece nestes casos? O bebê para de receber a alimentação necessária para seu crescimento por meio do cordão umbilical.

Por conta disso e de outros sintomas de pressão alta – algo que não tive durante toda gravidez – tive de fazer a cesárea. Lembro da médica dizendo: 'O Lucas nasce amanhã'. E eu: 'Graças a Deus'. Ela, munida de um sorriso de canto de boca: 'Agora é que você vai ver o que é preocupação'.

Isso nunca saiu da minha cabeça. Ainda nos primeiros dias após seu nascimento, pude constatar o que a obstetra alertou. Ninguém sabe realmente tudo o que desencadeia uma criança, desde a sua gestação. Ainda que eu ajude essa amiga tirando suas dúvidas, só vivenciando para saber o que é. E eis que esses dias, em uma de nossas conversas quase que diárias, ela, cheia de dúvidas, o que é normal, me disse: “Que loucura é estar grávida. Ser mãe não é para amadores”. Não mesmo, decididamente.




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