Na saúde e na doença

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Marcela Munhoz

Imagine a cena: você ou alguém da família está internado há dias, sem previsão de alta. Talvez nem saia. A equipe médica autoriza a visita do seu pet para oferecer consolo ou até poder se despedir. Quem gosta de bichos sabe que ter essa chance é inacreditável. Há algum tempo e em alguns hospitais particulares, dependendo do caso, isso é realidade. Recentemente o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), sancionou lei que permite o direito aos pacientes de hospitais municipais. O texto é do vereador Rinaldi Digilio (PRB), que defende a contribuição do animal ao tratamento do paciente.

“Conheci várias senhoras e senhores que tinham perdido seus maridos e mulheres, os filhos já não moravam mais em casa e seus maiores companheiros se tornaram seus cães, gatos e papagaios. Refleti sobre como fica essa relação se essas pessoas são internadas, sem poder rever seus pets. A dor é muito grande. Proibir o contato é como se proibissem de ver um neto ou filho”, acredita Digilio.

É claro que surgiu polêmica sobre o assunto – o que no dias de hoje não vira polarização, não é, minha gente? A discussão gira em torno de como viabilizar a visita sem riscos de infecção. “Não havia lei que garantisse o direito ao paciente, mas, ao mesmo tempo, estabelecesse regras claras, dando segurança jurídica ao médico e ao hospital. Foi baseado nisso que criei a lei”, diz o vereador.

Ficou estabelecido, portanto, que a visita só será permitida após autorização da comissão de infectologia do hospital. Para ser sancionada, a lei, segundo o político, foi avaliada por profissionais da Secretaria Municipal de Saúde, como médicos e especialistas em vigilância sanitária. “Além de estar com a vacinação em dia e higienizado, o animal precisa ter sua visita aprovada pelo médico, que jamais permitiria algo que trouxesse algum malefício para o paciente”, explica. O contrário também funciona: “A lei garante a segurança do animal, já que o hospital tem bactérias que poderiam prejudicar o pet”.

Digilio lembra ainda que a visita dos pets dos pacientes acontece há quase dez anos no Hospital Albert Einsten, na Capital, e não há qualquer registro de problemas. “Por vezes, é mais fácil fazer acesso controlado de um pet do que de um ser humano, cheio de vontades, de direitos e fragilizado”, encerra.

No Grande ABC, o Hospital e Maternidade São Luiz, em São Caetano, apesar de ter sido inaugurado recentemente, já registrou dois casos de visitas dos pets dos pacientes, que tiveram alta. “O tutor e o dono sentem falta. É preciso ter controle e estrutura suficientes para viabilizar isso, mas só vejo ganhos”, acredita Carlos Lotfi, diretor da unidade. Ele reforça que o contato com o animal ajuda na produção e liberação do hormônio endorfina, resultando em sensação de bem-estar.

Uma vez por mês o local recebe a visita dos animais da ONG Patas Therapeutas. Mesmo não sendo seus próprios pets, a rotina do hospital se transforma. “É nítida a mudança do comportamento dos pacientes. Só de receber a notícia que os animais vêm visitar, eles ficam animados e, às vezes, até esquecem a dor”, finaliza a psicóloga do São Luiz Daniela Câmara. O tema pet terapia é tão rico que merece ser discutido nas próximas colunas. Até lá...

 




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